Imagem: Artur Moês (Biossegurança CCS/ UFRJ)
Com cerca de 350 milhões de lâmpadas LED comercializadas anualmente no Brasil, o país enfrenta um desafio crescente: como descartar corretamente esse tipo de resíduo, que contém metais preciosos e substâncias potencialmente tóxicas.
Pensando nisso, pesquisadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e da empresa Tramppo Reciclagem, de Osasco (SP), uniram esforços para desenvolver uma rota de reciclagem mecanizada e sustentável para esse tipo de material.
O processo, que já gerou duas patentes registradas no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), representa um avanço significativo na economia circular e na recuperação de recursos estratégicos.
A proposta desenvolvida pelo IPT e pela Tramppo consiste na desmontagem física das lâmpadas LED, separando manualmente ou por meio de equipamentos cada um dos seus componentes: vidro, plástico, cerâmica, metais e elementos eletrônicos. O diferencial da nova tecnologia está no uso de um moinho autógeno — equipamento cilíndrico que desmonta a parte eletrônica das lâmpadas sem a necessidade de triturar todos os materiais finamente.
“O que criamos foi uma etapa anterior à metalurgia extrativa, baseada na separação física. Com isso, reduzimos o uso de reagentes químicos e ampliamos o aproveitamento de materiais como vidro e plástico, normalmente descartados em processos tradicionais”, explica Sandra Lúcia de Moraes, diretora do IPT e gerente do projeto.
O protótipo em fase de testes opera atualmente com capacidade de processar até 500 quilos de lâmpadas por dia. A meta da Tramppo é quadruplicar essa capacidade com ajustes na linha produtiva. O vidro separado já é encaminhado para a indústria cerâmica, o plástico vai para recicladoras e os metais raros são extraídos por uma empresa estrangeira. Há planos para nacionalizar esse processo e recuperar, localmente, metais presentes nos terminais e fitas LED.
“Estamos falando de uma cadeia que envolve ouro, prata, cobre e elementos de terras-raras. Recuperar esses materiais significa reduzir nossa dependência da mineração tradicional e dos impactos ambientais associados”, afirma Carlos Alberto Pachelli, sócio-fundador da Tramppo.
No Rio Grande do Sul, pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) também estudam rotas de reciclagem por meio do processamento mecânico. A equipe liderada pelo engenheiro químico Daniel Bertuol utiliza técnicas como moagem, separação magnética e eletrostática para desmembrar os componentes das lâmpadas.
Embora com abordagens diferentes, o grupo gaúcho não utiliza moinho autógeno nem realiza o corte prévio dos terminais, os dois estudos se complementam no objetivo de promover a reciclagem de LED de forma mais eficiente e menos agressiva ao meio ambiente.
O Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), também desenvolve pesquisas focadas na extração seletiva de metais críticos de resíduos de LED. De acordo com a química Larissa Oliveira Alexandre, o processo estudado no Cetem não gera efluentes líquidos e apresenta concentrações de metais como cobre, prata e ítrio superiores às encontradas em minérios naturais.
A especialista em economia circular e mineração urbana Lúcia Helena Xavier destaca a importância de etapas automatizadas de separação: “Sem isso, os processos de reciclagem perdem viabilidade econômica. O avanço do IPT e da Tramppo é uma contribuição valiosa para superar essa lacuna no Brasil”.
A expectativa dos pesquisadores é que, com a consolidação dessas tecnologias, o país possa liderar globalmente a reciclagem eficiente de lâmpadas LED, unindo sustentabilidade, inovação e valorização de resíduos.
Fonte: Pesquisa FAPESP
Quando a ciência começa dentro da favela As mudanças climáticas já não são uma abstração…
Quando a noite não apaga mais o cuidado com a vida Até pouco tempo atrás,…
Cientistas brasileiras no centro das decisões climáticas globais A ciência do clima é, hoje, um…
A margem equatorial como nova fronteira energética do Brasil A extensa faixa do litoral brasileiro…
Um novo patamar para as finanças verdes no Brasil Ao encerrar 2025 com mais de…
This website uses cookies.