COP 30

Concentração global de CO² atinge recorde e desafia capacidade da Terra de absorver emissões

A concentração de dióxido de carbono na atmosfera atingiu, em 2024, o nível mais alto já registrado desde o início das medições globais. O alerta foi feito pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), em seu novo Boletim de Gases de Efeito Estufa. O relatório mostra que o planeta segue acumulando volumes crescentes de gases responsáveis pelo aquecimento global, e que as consequências desse processo serão sentidas por séculos.

Segundo a OMM, o dióxido de carbono é o principal gás de efeito estufa de origem humana e representa o maior risco de longo prazo para a estabilidade climática. Ele permanece na atmosfera e nos oceanos por centenas de anos, intensificando o desequilíbrio energético da Terra. A tendência observada em 2024 confirma o que a ciência vem advertindo há décadas: a trajetória atual de emissões ainda está distante do necessário para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 °C, conforme previsto no Acordo de Paris.

O documento também aponta uma preocupação crescente: os sumidouros de carbono — sistemas naturais que absorvem mais CO² do que emitem — estão se tornando menos eficazes. Essa perda de eficiência significa que uma parcela maior do gás permanece na atmosfera, acelerando o aquecimento global e agravando seus efeitos. “O monitoramento global coordenado pela OMM é mais essencial do que nunca para compreender as consequências de sumidouros de CO² menos eficazes”, afirmou Oksana Tarasova, diretora científica sênior da organização e coordenadora do relatório.

Florestas, solos e oceanos são os grandes aliados naturais do planeta na regulação do carbono. As florestas tropicais, por exemplo, absorvem o CO² por meio da fotossíntese e armazenam carbono em sua biomassa. Os solos ricos em matéria orgânica retêm carbono em suas camadas, enquanto os oceanos realizam uma absorção contínua do gás, fenômeno conhecido como carbono azul, que envolve desde fitoplâncton até ecossistemas marinhos mais complexos.

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A pressão instaurada pelo CO²

Mas esses mecanismos naturais estão sob pressão. O desmatamento, as queimadas e o aquecimento dos oceanos reduzem sua capacidade de retenção. A Amazônia, antes considerada um dos maiores sumidouros de carbono do planeta, já mostra sinais de saturação em determinadas áreas, emitindo mais CO² do que absorve durante períodos de seca intensa. Essa mudança ameaça transformar um dos principais amortecedores climáticos do mundo em uma fonte líquida de emissões.

A OMM destaca que, sem o fortalecimento de políticas públicas e acordos internacionais, o mundo corre o risco de entrar em uma nova era de instabilidade climática. Eventos extremos — como ondas de calor, secas prolongadas, enchentes e incêndios florestais — tendem a se tornar mais intensos e frequentes. A agência reforça a necessidade de acelerar a transição energética, reduzir o uso de combustíveis fósseis e ampliar a restauração de ecossistemas naturais como estratégia de mitigação.

O relatório também evidencia a importância de sistemas robustos de monitoramento atmosférico global, essenciais para medir e entender as concentrações de gases de efeito estufa. Essas informações servem de base para políticas climáticas, planejamentos de adaptação e metas de neutralidade de carbono. Sem dados precisos, o planeta navega às cegas em meio à crise climática.

O alerta da OMM vem em um momento crucial: as negociações internacionais caminham para a COP30, que será realizada em 2025, em Belém (PA). A escolha da Amazônia como sede carrega simbolismo e urgência. É um chamado para que as nações não apenas debatam metas, mas se comprometam com a manutenção dos sistemas naturais que ainda equilibram o clima global.

Os recordes de CO² de 2024 revelam mais do que um dado científico — são o retrato de uma humanidade em dívida com sua própria casa. O futuro depende da capacidade de recuperar os sumidouros naturais e de conter as emissões na origem. Caso contrário, o planeta entrará em um ciclo cada vez mais difícil de reverter.

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