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Povos da Floresta Assumem Protagonismo em Rede de Conexão na Amazônia

Até recentemente, Murumuru, um pequeno vilarejo com 400 habitantes e pouco mais de 100 famílias, era quase fictício nos registros brasileiros, lembrando a Macondo de Gabriel García Márquez. Esse cenário mudou em novembro, quando Murumuru foi finalmente reconhecido como território quilombola de Santarém, no Pará. Na Amazônia, há apenas 60 comunidades quilombolas oficialmente registradas, mas estimativas mais precisas sugerem a existência de pelo menos 2.000 áreas remanescentes de quilombos.

Projeto de Conectividade

Esses dados são parte de um ambicioso projeto de conectividade para dar visibilidade a povos invisíveis nos mapas oficiais. A iniciativa “Conexão Povos da Floresta”, criada há dois anos, tornou-se o maior projeto de conectividade entre povos indígenas, quilombolas e extrativistas na Amazônia. Este esforço vai além da simples instalação de internet; ele abre um novo mundo de oportunidades para essas comunidades.

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O projeto começou mapeando comunidades nos nove estados amazônicos, identificando 4.537 localidades, das quais apenas uma tinha internet rápida. Entre 5% e 10% tinham algum tipo de conectividade, geralmente cara e de baixa qualidade. A região Norte do Brasil sofre com grandes vazios de conexão, com milhares de localidades sem acesso ou com sistemas deficientes.

A Expansão da Conexão

A partir de 2022, o “Conexão Povos da Floresta” planeja ligar mais de um milhão de pessoas em 5.000 comunidades na Amazônia, que cuidam de 130 milhões de hectares de floresta e estão fora das políticas públicas de saúde, educação e outros serviços. Segundo Joaquim Belo, secretário do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), essas comunidades estão à margem dos direitos e precisam ser incluídas.

Implementação e Impacto

O projeto já conectou 933 comunidades, beneficiando mais de 23.000 usuários e 71.000 pessoas em nove estados e 237 municípios, com investimentos filantrópicos estimados em US$ 80 milhões. O kit de conectividade inclui antena de internet via satélite, roteador, celular e computador, e nas comunidades sem energia, é fornecido um kit de energia solar. A tecnologia é da Starlink, de Elon Musk, escolhida por ser a opção mais acessível e fácil de manter pelas próprias comunidades.

Primeiras Instalações e Resultados

A primeira instalação foi na Terra Indígena Yanomami, seguida pelo povo Mura, na Terra Indígena Ariramba, e pela Reserva de Desenvolvimento Sustentável Itatupã-Baquiá, entre outras. A rede é gerenciada pelas comunidades, que definem regras de uso e controlam o conteúdo.

Inclusão e Empoderamento

Além da infraestrutura, o projeto inclui saúde digital, conectando comunidades ao Portal Telemedicina, e apoio ao empreendedorismo local. Conectados, os moradores têm acesso a conhecimento, marketplaces, e podem vender produtos online. A educação também é foco, com encontros de “sabedoria digital” para ensinar uso seguro da internet.

Desafios e Perspectivas

O projeto visa criar uma rede que gera impacto em larga escala, permitindo às comunidades participar de consultas, editais e propostas governamentais. O acesso à internet também ajuda na defesa dos territórios e no fortalecimento cultural. Apesar dos benefícios, há riscos, como o acesso a conteúdo inadequado, que estão sendo mitigados com filtros de conteúdo e mecanismos de denúncia rápida.

Futuro e Expansão

A meta é conectar mil comunidades até julho e expandir para 5.000, acelerando um direito constitucional. O projeto é visto como uma revolução na comunicação e na luta dos povos da floresta, fortalecendo sua capacidade de resistir às pressões externas e de se articular com outras comunidades.

Encontro em Alter do Chão

No primeiro encontro presencial do projeto, realizado em junho em Alter do Chão, lideranças discutiram desafios e oportunidades, com foco na inclusão digital, proteção territorial e preservação cultural. A conectividade já está transformando a vida das comunidades, permitindo acesso a serviços de saúde, educação e novas oportunidades econômicas.

A “Conexão Povos da Floresta” representa uma mudança significativa para os povos da Amazônia, promovendo inclusão e empoderamento através da tecnologia, enquanto preserva e fortalece suas culturas e territórios.

Redação Revista Amazônia

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