Com pouco mais de 10 meses para a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), o embaixador André Correa do Lago, nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para liderar o evento, se prepara para um cenário complexo. Enquanto o mundo enfrenta eventos climáticos extremos e a hesitação de países ricos em financiar ações climáticas em nações em desenvolvimento, o Brasil também lida com questões internas que podem impactar sua credibilidade como líder ambiental global.
Um dos principais desafios é a aparente contradição entre a agenda ambiental do governo Lula e a defesa da exploração de petróleo em áreas sensíveis, como a Foz do Amazonas. Correa do Lago negou que haja uma contradição, argumentando que o Brasil, assim como outros países, está em um processo de transição energética que ainda inclui o uso de combustíveis fósseis.
A Foz do Amazonas, localizada a cerca de 400 quilômetros da costa do Amapá, é uma região cobiçada pela Petrobras para exploração de petróleo. Ambientalistas alertam para os riscos de vazamentos em uma área ecologicamente sensível e próxima da Amazônia. Além disso, defendem que a exploração de novos campos de petróleo é incompatível com a urgência climática global.
A Petrobras aguarda uma licença ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para iniciar perfurações exploratórias. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, tem se posicionado contra o projeto, mas afirmou que a decisão será técnica, não política. O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, indicou que uma resposta sobre o pedido pode ser dada ainda neste semestre.
Correa do Lago defende que o Brasil, assim como outros países, continuará a explorar petróleo durante a transição energética. Ele ressaltou que o país precisa de recursos financeiros para investir em energias renováveis e que o petróleo ainda será uma fonte importante de receita nesse processo.
O cenário internacional também preocupa. Os Estados Unidos, maior economia do mundo e segundo maior emissor de gases de efeito estufa, anunciaram sua saída do Acordo de Paris. Essa decisão, segundo Correa do Lago, pode prejudicar os esforços globais para combater as mudanças climáticas e dificultar a meta de mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano até 2035 para financiar ações climáticas em países em desenvolvimento.
“Se a maior economia do mundo não está orientada especificamente para o combate à mudança climática, isso tem uma influência no mundo inteiro”, afirmou o diplomata. Ele destacou, no entanto, que os Estados Unidos não se resumem ao governo federal, citando o papel de universidades, empresas e governos locais no avanço da agenda climática.
A escolha de Belém, capital do Pará, como sede da COP 30 também gerou debates. O Pará lidera o ranking de desmatamento no Brasil há nove anos consecutivos, o que levou alguns a questionarem a decisão. Correa do Lago, no entanto, vê a escolha como um ato de transparência e coragem.
“Estamos convidando o mundo para vir para o centro do nosso maior problema”, disse ele. “A COP 30 não é uma operação de relações públicas. Não vamos tapar o sol com a peneira.”
O embaixador destacou que a realização da conferência em Belém pode trazer melhorias para a região e reforçar o compromisso do Brasil com a Amazônia. Ele também negou rumores de que a COP 30 poderia ser dividida com outra cidade, afirmando que todos os esforços estão concentrados em Belém.
Um dos principais temas da COP 30 será o financiamento climático. Enquanto países em desenvolvimento defendem uma meta de US1,3trilha~oporanoateˊ2035,nac\co~esricaspropo~emUS 300 bilhões. O Brasil, em parceria com o Azerbaijão, trabalha em um plano para aumentar o financiamento global.
Correa do Lago ressaltou que o país não aceitará a ideia de que nações em desenvolvimento devem se tornar doadoras de fundos climáticos. “Os países em desenvolvimento não podem ajudar os países desenvolvidos a cumprirem suas obrigações. É exatamente o inverso do que combinamos”, afirmou.
Questionado sobre a aparente contradição entre a defesa da exploração de petróleo e a liderança climática, Correa do Lago argumentou que cada país tem seu próprio caminho para a transição energética. Ele citou o exemplo da Alemanha, que voltou a usar carvão após abandonar a energia nuclear, como parte de sua estratégia para alcançar a neutralidade de carbono até 2050.
“O Brasil, como todos os outros países, está se esforçando. As NDCs [Contribuições Nacionalmente Determinadas] precisam cobrir toda a economia”, disse ele. “Cada país tem que encontrar a sua fórmula.”
André Correa do Lago enfrenta um desafio duplo: consolidar o Brasil como líder global na agenda climática enquanto lida com pressões internas e externas. A COP 30, em Belém, será um teste crucial para o país, que precisará equilibrar suas ambições ambientais com realidades econômicas e políticas. O sucesso da conferência dependerá não apenas da capacidade de mobilizar recursos e compromissos internacionais, mas também de demonstrar que o Brasil está genuinamente comprometido com a proteção do meio ambiente e a justiça climática.
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