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Estudo propõe métricas simples para avaliar a recuperação da Floresta Amazônica

Uma pesquisa publicada na revista Nature Communications Earth & Environment apresenta uma abordagem inovadora para monitorar a regeneração da Floresta Amazônica por meio de indicadores ecológicos de fácil aplicação. Esses parâmetros podem orientar programas de restauração florestal e embasar políticas públicas na região. O estudo, conduzido por uma equipe multi-institucional de cientistas, analisou dados de 448 áreas de florestas secundárias em diferentes estágios de recuperação, distribuídas em 24 localidades da Amazônia.

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Laboratório natural

Segundo Daniel Vieira, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e um dos autores do estudo, as florestas secundárias, áreas que foram desmatadas e posteriormente abandonadas, permitindo o retorno da vegetação, representam 20% das terras já convertidas na Amazônia. “Essas áreas são um laboratório natural para entender como a floresta se recupera ao longo do tempo”, explica.

 

A pesquisa revelou que, em condições favoráveis, como baixo uso do solo e alta cobertura florestal no entorno, a Amazônia é capaz de se regenerar completamente sem intervenção humana. Com base nessa descoberta, os cientistas identificaram quatro indicadores-chave que avaliam a qualidade da regeneração florestal. Esses parâmetros servem como referência para planejamento ambiental, fiscalização, investimentos em mercado de carbono e ações de restauração.

“Esses indicadores permitem identificar áreas onde a regeneração natural ocorre de forma eficiente e gratuita, oferecendo serviços ecossistêmicos valiosos. Isso otimiza recursos e aumenta as chances de sucesso na restauração”, destaca Vieira.

Impacto nas políticas públicas e metas climáticas

A metodologia proposta busca enfrentar os desafios do desmatamento e da degradação ambiental na Amazônia, oferecendo ferramentas científicas para acelerar a implementação de políticas de restauração. André L. Giles, pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e autor principal do estudo, ressalta que a falta de clareza sobre a eficácia da regeneração natural gera incertezas para proprietários, órgãos ambientais e investidores. “Nosso trabalho fornece critérios objetivos para avaliar quando a regeneração natural atinge seu potencial como método de restauração”, afirma.

Rita Mesquita, pesquisadora do Instituto Nacional da Amazônia (INPA) e do Ministério do Meio Ambiente, enfatiza a importância do estudo para o cumprimento das metas climáticas globais. “Agora temos parâmetros científicos precisos para avaliar a saúde das florestas em regeneração, o que é essencial para nossos compromissos com a restauração da vegetação nativa, a conservação da biodiversidade e o combate às mudanças climáticas.”

Indicadores adaptados para todo o Brasil

O estudo gerou uma nota técnica em parceria com o IBAMA, o MMA e o ICMBio, detalhando os indicadores para cada estado da Amazônia. Entre 25 e 29 de novembro, especialistas de diversas instituições se reuniram na Embrapa, em Brasília, para discutir a aplicação desses parâmetros em nível nacional. O encontro, intitulado “Indicadores da Vegetação para Monitoramento e Avaliação da Recuperação Ambiental”, contou com a participação de representantes do MMA, Ibama, ICMBio, USAID Brasil e Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS).

Os quatro indicadores-chave para a restauração

  1. Área Basal: Mede a soma das seções transversais dos troncos das árvores em um hectare. Um valor mínimo de 14 m² por hectare após 20 anos indica uma recuperação estrutural satisfatória, essencial para a criação de microclimas e a retenção de umidade no solo.
  2. Riqueza de Espécies: Avalia a diversidade de árvores nativas na área. A meta de 34 espécies por 100 indivíduos sugere um ecossistema biodiverso e funcional, capaz de resistir a pragas e doenças.
  3. Heterogeneidade Estrutural: Reflete a variabilidade na altura e densidade da vegetação. Um índice de 0,27 indica um ecossistema próximo das condições naturais, favorecendo a fauna e processos ecológicos como a dispersão de sementes.
  4. Biomassa Acima do Solo: Mede o carbono armazenado na vegetação. Uma meta de 123 toneladas por hectare demonstra contribuições significativas para o sequestro de carbono e a mitigação das mudanças climáticas.

Esses indicadores oferecem uma base científica para avaliar o progresso da regeneração florestal, alinhando objetivos locais e globais de restauração e conservação. Com isso, a pesquisa abre caminho para estratégias mais eficientes e sustentáveis na recuperação da Amazônia.

Redação Revista Amazônia

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