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Uma nova rota marítima promete reposicionar o Brasil no tabuleiro global do comércio exterior, encurtando distâncias e ampliando oportunidades. A partir deste sábado, o porto de Santana, no Amapá, passa a estar conectado diretamente ao porto de Zhuhai, na China. A iniciativa foi celebrada pelo ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, durante entrevista ao programa “Bom Dia, Ministro”, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
O anúncio é carregado de simbolismo: pela primeira vez, o Arco Norte — sistema de portos que conecta a produção agrícola do Centro-Oeste e da Amazônia ao Atlântico — terá uma ligação direta com a chamada Grande Área da Baía, que reúne Guangdong, Hong Kong e Macau. O ponto de chegada é o porto de Gaolan, em Zhuhai, um dos mais estratégicos da região.
De acordo com o ministro, os ganhos são evidentes. O tempo de transporte até a China será reduzido em aproximadamente 14 dias, se comparado às rotas tradicionais que passam por portos do Sul e Sudeste. Além disso, a economia no custo logístico pode chegar a US$ 7,80 por tonelada de soja exportada. Para destinos na Europa, a diferença sobe para US$ 14 por tonelada, tornando Santana um polo competitivo no cenário global.
Essa nova configuração logística abre espaço para transformar o Amapá e a Amazônia em corredores estratégicos não apenas para a exportação de grãos, mas também para a importação de biofertilizantes e, no futuro, para a diversificação de cadeias produtivas. “As vantagens são enormes. Mas o verdadeiro desafio será a nossa capacidade de coordenar e organizar produtos de interesse da China”, afirmou Góes.
A fala do ministro revela uma visão de longo prazo para a região amazônica: a industrialização como caminho para agregar valor e gerar prosperidade. Produtos como açaí, cacau, café, castanha-do-pará, madeira e pescado já fazem parte do repertório amazônico, mas ainda chegam ao mercado internacional em grande parte como matéria-prima. “Precisamos processar, transformar e levar ao mundo bens acabados, não apenas insumos brutos”, enfatizou.
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Essa estratégia ganha força em um momento de crescente interesse global pela bioeconomia. A biodiversidade amazônica não se limita ao setor alimentício, mas inclui potencial para o desenvolvimento de fármacos, cosméticos e biotecnologias. Góes lembrou que a Amazônia fornece insumos valiosos que, processados localmente, podem gerar empregos, renda e inovação tecnológica no próprio território.
O mercado chinês, com seus 1,4 bilhão de consumidores, aparece como destino prioritário dessa aposta. Pequenos aumentos no consumo per capita de produtos brasileiros podem se traduzir em volumes expressivos. O café foi citado como exemplo: hoje, os chineses consomem, em média, uma xícara por mês. “Se esse número dobrar, o impacto será gigantesco para os produtores brasileiros”, observou o ministro.
A cooperação entre Brasil e China, que já se consolidou em áreas como infraestrutura e energia, encontra na nova rota um instrumento para estreitar ainda mais a parceria. O embarque inaugural que chega a Santana neste fim de semana é apenas o início de um processo que pode redefinir a integração econômica da Amazônia ao mercado internacional.
Mais do que um projeto logístico, a rota Santana–Zhuhai é um símbolo do potencial de transformação de uma região historicamente vista como periférica. Ao colocar o Amapá no mapa dos grandes fluxos globais de comércio, o Brasil dá um passo importante para combinar competitividade econômica, valorização da biodiversidade e inclusão social.
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