Consumo de água salgada na gravidez
Hoje, a operária de fábrica de roupas Khadiza Akhter, de 30 anos, vive em Savar, um subúrbio de Dhaka, a capital de Bangladesh. Sua pequena casa de concreto é limpa e organizada. Persianas verdes emolduram as janelas e roupas pendem de varais na frente da porta. Uma torneira de água sobressai do concreto ao lado das roupas secando, e basta girar um botão de plástico branco para que água limpa e clara (sem sal) comece a jorrar. Akhter chama isso de “uma bênção de Deus”.
Akhter cresceu cerca de 290 quilômetros ao sul de Savar, em Satkhira — um distrito com 2,2 milhões de pessoas em um delta de rio onde, nas últimas décadas, a água doce se tornou escassa. Com a elevação do nível do mar, os rios secam e os ciclones se tornam mais severos. Satkhira e outros distritos baixos ao seu redor foram dos primeiros no mundo a experimentar os efeitos da intrusão de água salgada causada pelas mudanças climáticas — a invasão de água do mar para o interior.
Quando ela entrou na puberdade, teve que lavar seus absorventes menstruais de pano em água salgada. A exposição mensal ao sal em seus absorventes fazia com que surgissem feridas. O ciclo menstrual de Akhter tornou-se irregular. “Um mês, veio inesperadamente cedo, me pegando completamente de surpresa,” ela disse. “No mês seguinte, parecia desaparecer completamente.” Ela buscou aconselhamento médico no Shyamnagar Upazila Health Complex, o hospital local em Satkhira, mas não havia uma solução a longo prazo disponível para ela, além de parar seu período com pílulas anticoncepcionais hormonais. Ela deixou Satkhira há uma década, quando era adolescente, e se mudou para Savar, conhecida por ter uma das águas mais limpas de Bangladesh.
Quando Akhter chegou a Savar, teve dificuldades para se adaptar à vida na cidade. Não estava acostumada a comer comida cozida em fogão a gás e evitava ao máximo. “Eu comprava biscoitos ou bolos na cantina do trabalho e às vezes passava fome,” disse. Mas Akhter, que sabia que queria ter filhos um dia, perseverou. “Tudo o que eu queria era uma vida melhor para meus filhos — uma vida onde eles não precisassem se preocupar com comida ou água limpa,” disse.
Estudos mostraram que o consumo de água salgada tem efeitos negativos e duradouros em quase todas as etapas do ciclo reprodutivo de uma mulher, desde a menstruação até o parto. Akhter sabia que, se permanecesse em Satkhira e iniciasse uma família lá, estaria se colocando em grande perigo. Ela não é a única pessoa de sua região a sair em busca de água mais limpa. Milhões de bengalis foram deslocados internamente por inundações na última década, e especialistas dizem que a intrusão de água salgada é um dos fatores que impulsionam a migração das regiões rurais de Bangladesh para os centros urbanos.
De certa forma, Akhter é uma das sortudas. Ela saiu de Satkhira antes que o consumo de água salgada levasse a pressão alta, uma histerectomia ou pior. Mas as mulheres, e outras pessoas com útero, que permanecem em Satkhira estão sofrendo com problemas de saúde reprodutiva — questões que podem se tornar comuns em outros lugares nos próximos anos. Com a elevação do nível do mar e tempestades intensificando os sistemas de infraestrutura ao longo das costas ao redor do mundo, a água salgada ameaça infiltrar-se nos suprimentos de água doce potável em países como Egito, Itália, Estados Unidos e Vietnã. A saúde das mulheres que vivem nessas áreas está em risco.
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