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Saneamento precário acelera disseminação de plástico e microplástico na Amazônia

Impacto ambiental da precariedade de saneamento na Amazônia

A presença de plásticos e microplásticos já é uma realidade em diversos ambientes e espécies na Amazônia, atingindo peixes, plantas aquáticas e até sendo utilizados por aves na construção de ninhos. Um fator crítico para a crescente contaminação do bioma é a precariedade do saneamento básico em muitas cidades da região.

Essa conclusão foi apresentada por especialistas durante uma mesa-redonda sobre plásticos e microplásticos nas águas brasileiras, realizada na segunda-feira (08/07) durante a 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O evento acontece até sábado (13/07) no campus Guamá da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém.

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José Eduardo Martinelli Filho, professor da UFPA, destacou que “a falta de saneamento adequado na maior parte da Amazônia é uma fonte significativa de entrada de plásticos e microplásticos nos rios, que compõem o maior sistema fluvial do mundo”. Dados apresentados pelo pesquisador revelam que 70% das cidades amazônicas não têm tratamento de água.

Pesquisadores da UFPA desenvolveram um índice para avaliar as condições de saneamento básico em 313 municípios amazônicos, utilizando dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). Os resultados mostraram que apenas 2,6% dos municípios possuem saneamento adequado, enquanto 35% estão em condições baixas e 15% em situação precária.

Entre os serviços urbanos, os sistemas de disposição de resíduos sólidos tiveram a melhor avaliação, com uma média de 76% de disponibilidade nas cidades analisadas. Já a coleta de águas residuais e os sistemas de drenagem de águas pluviais foram considerados inadequados na maioria das cidades.

Martinelli apontou que exemplos de saneamento precário podem ser encontrados em várias cidades, como Altamira, no Pará, que possui apenas uma estação de tratamento de água, insuficiente para atender toda a demanda. Em Manaus, a maior cidade da região, apenas 32% das residências têm acesso a esgoto sanitário público.

Ele também ressaltou o aumento populacional na Amazônia, que passou de 1,5 milhão de habitantes há cem anos para 16 milhões atualmente, contribuindo para a maior presença de microplásticos no ambiente.

Além dos resíduos gerados localmente, a Amazônia também recebe plásticos de países vizinhos como Colômbia e Peru. Pesquisas recentes mostram que macrófitas aquáticas do rio Amazonas retêm plásticos de diversas dimensões e que o japu (Psarocolius decumanus), uma ave da região, utiliza detritos plásticos para construir seus ninhos.

Os especialistas enfatizam a necessidade de mais estudos sobre microplásticos na Amazônia, destacando as dificuldades metodológicas e a falta de padronização que dificultam uma avaliação precisa do problema e a implementação de medidas eficazes. Estudos de longo prazo e a formação de pesquisadores locais são fundamentais para expandir o conhecimento científico e enfrentar a poluição por plásticos na região.

Para mais informações sobre a 76ª Reunião Anual da SBPC, acesse: https://ra.sbpcnet.org.br/76RA/.

Redação Revista Amazônia

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