Ibama articula força-tarefa para conter avanço do peixe-leão em Sergipe

A confirmação da presença do peixe-leão no litoral sergipano acendeu um alerta que rapidamente mobilizou instituições ambientais, pesquisadores e gestores públicos. No fim de novembro, a Superintendência do Ibama em Sergipe, por meio da Divisão Técnico-Ambiental, reuniu representantes de órgãos federais, estaduais e da academia para construir uma resposta coordenada ao avanço da espécie invasora Pterois volitans. O encontro ocorreu na Universidade Federal de Sergipe, reunindo especialistas do Laboratório de Ictiologia da instituição, além de representantes do Centro Tamar/ICMBio, da Fundação Pró-Tamar, e da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Sustentabilidade e Ações Climáticas.

A convocação emergencial tem razão de ser. O peixe-leão, originário do Indo-Pacífico, é reconhecido mundialmente como uma das espécies exóticas invasoras mais problemáticas do oceano Atlântico. Sua expansão começou nos anos 1990, no Caribe, e avançou em direção ao litoral brasileiro, atingindo todos os estados do Norte e Nordeste. O registro em Sergipe representa mais um passo nesse avanço silencioso, mas devastador, que ameaça ecossistemas frágeis e populações pesqueiras artesanais.

Os participantes da reunião destacaram que a chegada da espécie exige reação rápida, ancorada no Protocolo Geral de Alerta, Detecção Precoce e Resposta Rápida previsto na Estratégia Nacional para Espécies Exóticas Invasoras. O objetivo é impedir que a espécie se estabeleça de forma duradoura no estado, reduzindo os impactos ecológicos e socioeconômicos já registrados em outros países.

O peixe-leão se alimenta de crustáceos e peixes, muitas vezes predando organismos quase do seu próprio tamanho. Sua voracidade, aliada à alta capacidade reprodutiva e ao veneno presente em seus espinhos, forma um conjunto de características que tornam seu controle extremamente complexo. Para Adolfo Hubner, analista ambiental da equipe de Biodiversidade e Florestas do Ibama em Sergipe, os riscos vão além dos recifes. Embora a espécie prefira ambientes recifais, há sinais de que já se adapta também a áreas estuarinas — ecossistemas essenciais para o desenvolvimento das espécies marinhas, conhecidos como verdadeiros berçários de biodiversidade. Caso avance nesses ambientes, os impactos podem ser profundos e comprometer estoques pesqueiros, cadeias ecológicas e meios de vida tradicionais.

Para evitar esse cenário, a chefe da Divisão Técnico-Ambiental do Ibama, Iris Alves, defendeu que a construção coletiva de soluções é indispensável. Ela explica que somente a articulação entre órgãos ambientais, cientistas, gestores locais e comunidades permitirá dar velocidade e efetividade às ações de controle. A presença de diferentes instituições no encontro reforça essa compreensão: nenhuma entidade, sozinha, conseguirá enfrentar a presença de uma espécie tão resiliente e invasiva.

Foto: Ibama/SE

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A primeira etapa do trabalho, já em andamento, concentra esforços no apoio ao projeto de extensão e pesquisa do Laboratório de Ictiologia da Universidade Federal de Sergipe. A iniciativa tem como foco a conscientização e a educação ambiental, especialmente junto a pescadores profissionais, pescadores amadores e grupos de mergulho. São eles os primeiros a encontrar a espécie no ambiente marinho e, portanto, essenciais para alimentar sistemas de alerta, monitoramento e coleta de dados.

A ação envolve palestras, visitas técnicas, produção de materiais educativos e campanhas que buscam sensibilizar as comunidades ribeirinhas sobre o risco que o peixe-leão representa — tanto para a biodiversidade quanto para a saúde humana, dada a possibilidade de acidentes com seus espinhos venenosos.

Cássio Murilo dos Santos, superintendente do Ibama em Sergipe, reforça que iniciativas como essa reafirmam o papel articulador do órgão no território. Para ele, integrar pesquisa científica, políticas ambientais e participação social é o caminho para implementar medidas que tenham efeito real no ambiente. O enfrentamento ao peixe-leão, portanto, torna-se também um exercício de governança, conhecimento compartilhado e defesa dos modos de vida costeiros.

A chegada da espécie a Sergipe impõe desafios urgentes, mas também abre espaço para fortalecer redes de cooperação científica e institucional. À medida que ações integradas avançam, o estado pode se tornar referência nacional na resposta rápida a espécies invasoras — uma tarefa que exige vigilância constante, ciência aplicada e mobilização social.

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