A Baía de Guanabara, um dos cartões-postais mais conhecidos do Brasil, tem enfrentado sérios desafios ambientais há décadas, com a poluição e o despejo de resíduos ameaçando sua biodiversidade e a qualidade da água. Em meio a essa realidade preocupante, uma nova iniciativa pode trazer uma solução promissora para mitigar esses impactos. Pesquisadores da Coppe/UFRJ e da Universidade Federal Fluminense (UFF) desenvolveram um sistema tecnológico avançado que pode monitorar e reduzir as consequências da ação humana na região, utilizando um radar marítimo de alta precisão e tecnologias de computação avançada.
O sistema inovador é o resultado de uma colaboração intensa entre os pesquisadores do Laboratório de Métodos Computacionais em Engenharia (Lamce) da Coppe/UFRJ e o Laboratório de Geofísica Marinha (Lagemar) da UFF. A proposta combina tecnologia de radar marítimo de Banda X, normalmente usada em grandes embarcações, com modelos matemáticos complexos e computação de alto desempenho. O radar emite pulsos eletromagnéticos que, ao atingir a superfície do oceano, refletem em objetos ou estruturas, como embarcações e detritos flutuantes, retornando informações precisas ao equipamento.
Esses dados são processados para fornecer parâmetros físicos e ambientais, como a dinâmica das ondas, as correntes oceânicas, a dispersão de vazamentos de óleo, e o monitoramento das chuvas na área. Fábio Hochleitner, pesquisador do Lamce, destaca que o sistema pode ser usado para mapear o lixo flutuante na Baía de Guanabara. “Com os dados obtidos, é possível prever a trajetória do lixo e otimizar seu recolhimento, além de identificar as fontes de poluição”, explica. Essa aplicação é essencial para planejar operações de limpeza e reduzir a poluição, promovendo uma gestão ambiental mais eficaz.
Em outubro de 2018, o sistema foi apresentado durante o “1º Workshop de Tecnologia de Radar (Banda X) Aplicada a Meteo-Oceanografia e Hidrografia”, realizado no Instituto de Geociências da UFF. Durante o evento, a tecnologia foi demonstrada para uma audiência composta por professores, estudantes, representantes de empresas e potenciais investidores. A fase de testes é realizada na Baía de Guanabara, escolhida por ser um dos ecossistemas mais vulneráveis do Brasil. Desde 2017, o radar marítimo está instalado no topo do prédio do Instituto de Geociências da UFF, oferecendo uma visão privilegiada para capturar dados da baía.
Os testes iniciais são encorajadores. A tecnologia tem o potencial de auxiliar no controle do tráfego marítimo, aumentando a segurança de embarcações e prevenindo acidentes, enquanto simultaneamente monitora e ajuda a mitigar os impactos ambientais. O sistema não apenas detecta poluentes como vazamentos de óleo, mas também atua como um mecanismo de proteção ambiental para áreas portuárias, onde o risco de contaminação é maior.
Outro benefício crucial da nova tecnologia é a sua aplicação na logística marinha. Os dados precisos sobre a dinâmica das ondas e correntes fornecem informações valiosas para navegadores e operadores portuários, otimizando as operações e reduzindo riscos. Em uma área tão movimentada quanto a Baía de Guanabara, onde o tráfego de navios é constante, ter acesso a essas informações pode evitar acidentes ambientais graves, como derramamentos de óleo. Além disso, o sistema pode prever condições climáticas adversas, auxiliando a navegação segura de embarcações em tempos de tempestade.
A tecnologia também é versátil e pode ser aplicada em outros contextos. Por exemplo, durante as Olimpíadas Rio 2016, um sistema semelhante foi utilizado para fornecer dados atmosféricos e marinhos aos atletas brasileiros que competiam em modalidades náuticas. Com essas informações, os competidores puderam planejar suas estratégias de forma mais eficiente, melhorando o desempenho esportivo.
A Coppe/UFRJ, por meio do Lamce, tem um histórico de projetos inovadores focados na sustentabilidade dos oceanos. Em 2010, uma parceria com o Projeto Grael e outras entidades resultou em boias equipadas com sensores de temperatura que ajudavam a monitorar vazamentos de óleo e o lixo no mar. Essas boias eram monitoradas por satélite, permitindo a coleta de dados cruciais para a modelagem computacional do movimento de poluentes. Essa iniciativa também teve um componente social importante, envolvendo jovens em programas educacionais e de inclusão social liderados pelos velejadores Axel, Torben e Lars Grael.
Outro projeto notável é o Sistema de Observação Oceânica para a Bacia de Santos, desenvolvido em colaboração com a Shell. Utilizando veículos autônomos submarinos e de superfície, este sistema realiza medições de ondas e correntes, com foco no Campo de Libra. Essa tecnologia, parte do Projeto Azul, tem como objetivo aprimorar a modelagem oceânica para operações seguras de extração de petróleo e outras atividades marítimas.
Se a fase piloto for bem-sucedida, a tecnologia poderá ser implementada em outras regiões do oceano, ampliando sua aplicação. O objetivo é que o sistema não apenas auxilie na recuperação e preservação da Baía de Guanabara, mas também contribua para uma compreensão mais ampla dos ecossistemas marinhos em nível global. As possibilidades de expansão incluem o monitoramento de outras áreas costeiras vulneráveis, a otimização de operações portuárias em grandes cidades e a implementação em zonas de extração de petróleo.
Fábio Hochleitner ressalta a importância da colaboração entre as instituições: “O Lamce tem grande interesse em meteorologia e oceanografia, enquanto o Lagemar se interessa por hidrografia. Essa parceria é essencial para o sucesso do projeto.” A união de esforços entre diferentes áreas de pesquisa é fundamental para desenvolver soluções complexas que possam ter um impacto real e positivo no meio ambiente.
Apesar das promessas, o projeto enfrenta desafios, como o financiamento contínuo e a necessidade de envolver mais parceiros do setor privado e público. Investir em tecnologia para a proteção ambiental ainda é um campo que requer conscientização e comprometimento por parte dos governos e da indústria. No entanto, com os resultados promissores obtidos até agora, a expectativa é que o sistema atraia mais interesse e apoio para continuar sua expansão.
Os próximos passos incluem a validação dos modelos matemáticos em condições reais de operação e o aperfeiçoamento do sistema para tornar suas análises ainda mais precisas. O potencial de transformar a Baía de Guanabara em um exemplo de restauração ambiental e gestão sustentável é um incentivo poderoso para a equipe de pesquisadores.
O sistema inovador desenvolvido pela Coppe/UFRJ e pela UFF pode representar uma virada no combate à poluição e na gestão sustentável da Baía de Guanabara. Utilizando tecnologia de ponta e modelos computacionais avançados, os pesquisadores estão abrindo novas possibilidades para proteger ecossistemas marinhos e otimizar a logística marinha. Com parcerias estratégicas e um compromisso contínuo com a inovação, o projeto tem o potencial de servir como um modelo para outras regiões do mundo que enfrentam desafios semelhantes.
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