Em meio ao pulsar da Amazônia, há territórios que respiram resistência. Terras Indígenas e Reservas Extrativistas são mais do que áreas demarcadas — são santuários de biodiversidade e guardiões de saberes ancestrais. Enquanto o desmatamento avança, esses espaços protegem espécies, rios e culturas que sustentam a vida no planeta. Como essas terras garantem a sociobiodiversidade e território? Por que sua defesa é uma luta global? Vamos mergulhar nessa história de força e equilíbrio.
Escudos da biodiversidade
As Terras Indígenas e Reservas Extrativistas são verdadeiros bastiões da biodiversidade amazônica. Cobrindo cerca de 25% da Amazônia brasileira, essas áreas abrigam milhões de espécies, desde onças-pintadas até orquídeas raras. Um estudo do Nature revelou que Terras Indígenas, como a do povo Yanomami, têm taxas de desmatamento até 50% menores do que áreas não protegidas, preservando habitats críticos.
Os povos indígenas, como os Kayapó, gerenciam suas terras com práticas sustentáveis, como a roça de coivara, que mantém a fertilidade do solo sem esgotá-lo. Essas técnicas evitam a monocultura e promovem a diversidade de plantas, criando mosaicos ecológicos que sustentam fauna e flora. Nas Reservas Extrativistas, como a Reserva Chico Mendes, no Acre, extrativistas coletam castanha e borracha de forma seletiva, garantindo a regeneração florestal.
Essa gestão ancestral é um escudo contra a degradação. Enquanto fazendas de gado destroem solos, as terras protegidas Amazônia mantêm rios limpos, estoques de carbono e corredores ecológicos, essenciais para a sobrevivência de espécies e o equilíbrio climático global.
Santuários de saberes ancestrais
Além da biodiversidade, essas terras são repositórios de saberes ancestrais. Povos indígenas e extrativistas carregam conhecimentos milenares sobre plantas medicinais, ciclos da floresta e manejo sustentável. Entre os Munduruku, por exemplo, os pajés ensinam às novas gerações como usar a copaíba para curar feridas, enquanto os Tikuna transmitem técnicas de pesca que respeitam os períodos de reprodução dos peixes.
Porém, esses saberes estão sob ameaça. A invasão de terras por garimpeiros e madeireiros, aliada à violência contra lideranças, coloca em risco a transmissão cultural. Proteger essas terras é, portanto, preservar um patrimônio imaterial da humanidade.
Sociobiodiversidade como resistência
A sociobiodiversidade e território é o conceito que une biodiversidade e diversidade cultural. Nas Terras Indígenas, como a do povo Xikrin, a gestão territorial combina roças, caça e rituais, criando um equilíbrio que sustenta tanto a floresta quanto a identidade cultural. Cada planta cultivada, como a mandioca, carrega histórias e significados que fortalecem a coesão comunitária.
Nas Reservas Extrativistas, como a Resex Riozinho do Anfrísio, no Pará, a sociobiodiversidade se manifesta na produção de óleos, como o de andiroba, que gera renda sem degradar a floresta. Essas práticas mostram que a conservação pode ser economicamente viável, desafiando o modelo predatório de desenvolvimento.
Essa resistência é política. Povos indígenas e extrativistas enfrentam pressões de fazendeiros, mineradoras e políticas que fragilizam a demarcação de terras. Apesar disso, sua luta mantém viva a Amazônia. Um relatório da WWF Brasil aponta que áreas protegidas geram benefícios econômicos globais, como a regulação climática, avaliados em bilhões de dólares anuais.
Rituais e práticas que protegem
A proteção das terras vai além do manejo físico — é também espiritual. Nas Terras Indígenas, rituais como a pajelança conectam comunidades aos espíritos da floresta, reforçando o dever de cuidar da terra. Entre os Yanomami, os xamãs invocam os xapiri para proteger rios envenenados por mercúrio, enquanto os Kayapó realizam danças para agradecer pela abundância da caça.
Nas Reservas Extrativistas, celebrações comunitárias, como a Festa da Castanha, unem famílias em torno da colheita sustentável, fortalecendo laços culturais. Essas práticas não apenas preservam saberes, mas também inspiram novas gerações a defenderem seus territórios. O respeito pela terra é a base dessas tradições, ensinando que a floresta é um ser vivo, não uma commodity.
Esses rituais são atos de soberania. Ao manterem suas práticas, indígenas e extrativistas afirmam seu direito de existir e gerir suas terras, desafiando séculos de colonização.
Desafios e ameaças
Apesar de seu papel crucial, Terras Indígenas e Reservas Extrativistas enfrentam ataques constantes. O desmatamento ilegal, impulsionado por gado e soja, invadiu 11% das terras protegidas entre 1985 e 2020, segundo o Instituto Amazônia. Garimpos ilegais, como na Terra Indígena Munduruku, poluem rios e ameaçam a saúde de comunidades.
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Políticas públicas frágeis agravam o cenário. A demora na homologação de terras indígenas e a flexibilização de leis ambientais enfraquecem a proteção. Lideranças indígenas, como Sônia Guajajara, e extrativistas, como os herdeiros de Chico Mendes, enfrentam ameaças por sua luta. Proteger essas terras exige ação urgente, incluindo fiscalização e apoio às comunidades.
Além disso, o avanço do agronegócio pressiona a cultura tradicional. Jovens indígenas e extrativistas, atraídos por promessas de modernidade, às vezes se afastam dos saberes ancestrais. Projetos de educação intercultural, como os apoiados pela Funai, são essenciais para manter essas tradições vivas.
Um chamado global
As terras protegidas Amazônia são um patrimônio global. Elas armazenam carbono equivalente a anos de emissões mundiais, regulam chuvas que alimentam a agricultura e abrigam 30% da biodiversidade terrestre. Seus povos, guardiões desses territórios, oferecem lições de sustentabilidade que o mundo precisa ouvir, especialmente com a COP30 em Belém, em 2025, aproximando-se.
Defender essas terras é uma questão de justiça. Povos indígenas e extrativistas têm direito a seus territórios, reconhecido pela Constituição Brasileira e pela Declaração da ONU sobre Povos Indígenas. Apoiar sua luta significa combater o desmatamento, investir em cadeias produtivas sustentáveis e amplificar suas vozes em fóruns globais.
A sociobiodiversidade amazônica é um modelo para o futuro. Enquanto o mundo busca soluções para crises climáticas, as práticas desses povos mostram que a harmonia entre humanos e natureza é possível. Proteger suas terras é proteger a vida em todas as suas formas.
Defenda a Amazônia viva
Terras Indígenas e Reservas Extrativistas são faróis de esperança em um mundo ameaçado pela ganância. Seus povos, com sabedoria e coragem, nos ensinam que a floresta é mais do que um recurso — é um legado. Junte-se à luta por essas terras, apoie as comunidades e ajude a preservar a sociobiodiversidade e território. A Amazônia precisa de nós, e nós precisamos dela.