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Testes de linguagem ajudam a detectar precocemente demência rara que afeta a fala e a escrita

Dificuldade para encontrar palavras certas, substituições por termos parecidos como dizer “vaca” em vez de “faca” ou cometer erros de concordância que antes não aconteciam são indícios iniciais de uma condição neurológica rara de demência: a afasia primária progressiva (APP). Esse tipo específico de demência começa afetando a linguagem e, com o tempo, pode evoluir para quadros cognitivos mais severos, semelhantes ao Alzheimer.

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Além da fala, problemas de leitura (dislexia) e de escrita (disgrafia) também costumam aparecer, tornando essas atividades cada vez mais difíceis. A progressão da doença compromete, gradualmente, a capacidade de comunicação do paciente.

Diagnóstico precoce pode ser feito com testes fonoaudiológicos

Uma nova pesquisa apoiada pela FAPESP e publicada na revista PLOS ONE revelou que é possível identificar sinais da APP por meio de uma série de testes fonoaudiológicos reunidos na chamada Bateria Montreal Toulouse de Avaliação da Linguagem (MTL-BR).

Segundo Karin Zazo Ortiz, professora da Unifesp e autora principal do estudo, detectar a doença nas fases iniciais pode fazer grande diferença: “Quanto antes começarmos a reabilitação, maior a chance de o paciente manter suas habilidades comunicativas por mais tempo.”

Estudo revela quais testes são mais eficazes

Na pesquisa, foram avaliadas 87 pessoas, 29 com diagnóstico de APP e 58 sem a síndrome, todas com idades e níveis de escolaridade similares. A comparação de desempenho nas 22 tarefas da bateria MTL-BR revelou marcantes diferenças entre os dois grupos, especialmente em testes como:

  • Entrevista dirigida

  • Compreensão oral e escrita de frases

  • Nomeação de substantivos e verbos

  • Discurso narrativo oral

  • Ditado e repetição de frases

  • Fluência verbal (semântica e fonológica)

  • Reconhecimento de partes do corpo e orientação espacial

  • Cálculo mental e escrito

A identificação dessas tarefas-chave pode permitir uma versão simplificada da avaliação, tornando o processo mais rápido, acessível e eficaz.

Imagem: Freepik

Uma demência diferente, mas muitas vezes confundida

A APP se diferencia da afasia comum, que pode surgir após um AVC ou lesões cerebrais traumáticas por ter origem neurodegenerativa. Ela acomete a região frontotemporal do cérebro e, muitas vezes, é mais agressiva que o Alzheimer.

A doença ganhou visibilidade em 2022, após o ator Bruce Willis e o cartunista brasileiro Angeli tornarem públicos seus diagnósticos de afasia. No caso de Willis, a condição evoluiu para demência frontotemporal, da qual a APP pode ser uma manifestação inicial.

O desafio no diagnóstico se deve, em parte, ao fato de os sintomas iniciais se confundirem com outras síndromes demenciais, além da grande variabilidade entre os casos.

Os quatro tipos de afasia primária progressiva

A APP pode se manifestar de quatro maneiras diferentes:

  • Não fluente ou agramática: dificuldade de montar frases e compreender estruturas mais complexas; pode haver apraxia de fala.

  • Semântica: perda do significado das palavras, dificuldade para entender ou escrever termos com grafias irregulares.

  • Logopênica: próxima ao Alzheimer; marcada por esquecimentos, pausas frequentes e troca de sons durante a fala.

  • Mista ou não classificável: o paciente não se encaixa em um único padrão, o que dificulta o diagnóstico preciso.

A complexidade dos quadros reforça a importância de ferramentas sensíveis como a MTL-BR, que ajudam a diferenciar a APP de outras demências ainda nas fases iniciais.

Um avanço importante no cuidado com a saúde cerebral

A pesquisa representa um passo relevante na detecção precoce de distúrbios de linguagem relacionados à demência, especialmente aqueles mais difíceis de identificar, como a APP. Para Karin Ortiz, os resultados abrem caminho para melhorar os métodos de triagem e direcionar melhor os pacientes para acompanhamento especializado.

O artigo completo pode ser acessado em:
Language assessment in primary progressive aphasia: Which components should be tested?

Redação Revista Amazônia

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