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Um novo levantamento sobre a maturidade da tecnologia sustentável no país revela uma contradição que ainda trava a transição digital de baixo carbono no setor corporativo brasileiro. Mesmo com a possibilidade concreta de reduzir até 50% dos custos de energia, somente um terço das empresas do país destina orçamento próprio para iniciativas de TI verde. A conclusão faz parte do estudo Green IT Brasil 2025, conduzido pela NTT DATA em parceria com a MIT Technology Review Brasil.
A pesquisa ouviu mais de 120 organizações de oito setores e mostrou que, embora 52% tenham equipes dedicadas à sustentabilidade, a TI verde ainda ocupa um papel periférico dentro da agenda corporativa. Em muitos casos, aparece como iniciativa pontual, e não como um pilar estratégico capaz de gerar eficiência operacional, reduzir riscos e ampliar a competitividade.
Segundo o estudo, empresas que contam com orçamento próprio para TI verde têm 2,5 vezes mais chance de acessar recursos internos adicionais para investir em projetos estruturados. O envolvimento direto do C-Level, presente em 43% das organizações, também impulsiona a implementação de políticas ambientais, aumentando em até 45% a chance de que elas se tornem práticas efetivas e contínuas.
O levantamento classificou as empresas em cinco níveis de maturidade: inicial, em desenvolvimento, padronizado, avançado e excelência. Nenhum setor brasileiro atingiu o grau máximo, no qual a TI verde se torna parte integral da estratégia de negócio e apresenta resultados comprovados. Quatro setores — Financeiro e Seguros, Energia, Saúde e Manufatura — aparecem no nível padronizado, com diretrizes claras, mas execução desigual. Já os setores de TI, Utilities e Transporte e Energia foram categorizados como avançados. O varejo e atacado permanece em fase de desenvolvimento.
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Para Roberto Celestino, executivo da NTT DATA, os dados revelam um ponto crítico: a transformação sustentável da TI ainda é tratada como conjunto de boas práticas isoladas, e não como base estrutural da digitalização. Com o crescimento acelerado de servidores, redes, armazenamento e sistemas de refrigeração, a TI se tornou um dos principais centros de consumo energético das grandes empresas. O relatório Electricity 2024, da Agência Internacional de Energia, projeta que data centers podem ultrapassar 1.000 TWh de consumo elétrico já em 2026 — mais que o dobro registrado em 2022, equivalente ao consumo de países inteiros como a Rússia.
Mesmo diante dessa escalada, a adoção de ferramentas essenciais para reduzir impactos ainda é baixa. Apenas 41% das empresas monitoram o consumo de energia em tempo real. Menos de 30% acompanham a pegada de carbono de provedores de nuvem. Outra parcela semelhante aplica rotinas de GreenOps, que incluem otimização de software, arquitetura digital e infraestrutura para eficiência energética.
Há, porém, sinais de avanço. Cerca de metade das empresas prolonga a vida útil de equipamentos, reduzindo descarte prematuro, enquanto 46% mantêm parcerias de reciclagem — medidas importantes, mas ainda insuficientes quando observadas no conjunto.
O estudo propõe um caminho claro: fortalecer a governança e adotar estratégias inspiradas nos 7 Rs da modernização sustentável. Entre elas, reduzir o consumo de energia com virtualização e reorganização da infraestrutura; reutilizar e reaproveitar equipamentos ociosos; reciclar materiais; e refabricar dispositivos para que possam ser usados em escolas, organizações sociais ou outras unidades internas.
Para Celestino, o ponto central é reposicionar a TI verde como vetor estratégico. Ele afirma que tratá-la como custo é perder oportunidades de curto e longo prazo. Em sua avaliação, empresas que adotarem essa agenda desde já estarão mais preparadas para operar em um cenário de regulação crescente, exigência de transparência e pressão por metas ambientais.
A NTT DATA, que atua globalmente com soluções digitais e de infraestrutura, reforça que ferramentas e competências para avançar já existem — o que falta, no Brasil, é decisão. A corrida por eficiência energética entrou definitivamente na pauta internacional, e empresas que atrasarem esse movimento correm o risco de perder competitividade em cadeias globais cada vez mais exigentes.
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