Categories: Meio Ambiente

Primeira torre em floresta de várzea da Amazônia vai monitorar emissão de gases de efeito estufa

 

O Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), inaugurou, em dezembro, a primeira torre dedicada ao monitoramento da emissão de gases de efeito estufa em florestas de várzea da Amazônia. Localizada na Reserva Mamirauá, a torre tem 48 metros de altura e se ergue acima da copa das árvores, destacando-se na paisagem amazônica.

Publicidade

Torre de Fluxo do Mamirauá

A “Torre de Fluxo do Mamirauá”, como foi chamada, conta com sensores que vão monitorar, por vários anos, as emissões de gases como o metano, um dos principais responsáveis pelo aquecimento global, nas florestas de várzea. Essas áreas, que são inundadas ao longo dos grandes rios da Amazônia, como os rios Solimões e Amazonas, ainda careciam de estudos específicos sobre seus impactos climáticos.

Análise dos gases de efeito estufa

De acordo com Ayan Fleischmann, pesquisador do Instituto Mamirauá e coordenador do projeto, o principal objetivo da torre é analisar o balanço de carbono e as dinâmicas dos gases de efeito estufa nessas florestas alagadas. Ele destacou que o estudo de emissões de metano nessas regiões alagadas da Amazônia representa um avanço significativo no entendimento de suas implicações climáticas.

O local escolhido para a instalação da torre é submerso por água durante metade do ano, podendo chegar a mais de quatro metros de profundidade em anos de cheia intensa. A construção da torre, que levou mais de um ano para ser planejada e executada, enfrentou desafios logísticos devido à seca extrema que impossibilitou o acesso em alguns períodos, mas foi concluída entre novembro e dezembro.

Rede FLUXNET-CH4

Além de contribuir para o avanço científico, a Torre de Fluxo do Mamirauá integra uma rede global de monitoramento ambiental. Ela faz parte da Rede FLUXNET-CH4, um banco de dados internacional de torres localizadas em diferentes ecossistemas, e também se junta ao Programa LBA (Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Essas redes buscam aprofundar o entendimento sobre o papel da Floresta Amazônica na regulação do clima global.

Embora existam outras torres de monitoramento na região, como a Torre ATTO, muito maior, e as torres do projeto AmazonFace, a instalação em florestas de várzea é pioneira. “Nossa torre será a primeira a focar nesses ecossistemas únicos”, afirmou Fleischmann.

O financiamento da obra veio da Fundação Gordon & Betty Moore, que garantiu os recursos para a estrutura e os equipamentos de medição de gases como metano, dióxido de carbono e vapor d’água, além de variáveis hidrometeorológicas essenciais para o estudo.

Compromisso com a comunidade local

O projeto também tem um forte compromisso com a comunidade local. As populações da região foram envolvidas desde o início, com ações de educação ambiental e programas de interação com escolas locais. Um plano de trabalho já está sendo elaborado com a escola da comunidade São Raimundo do Jarauá, que fica próxima à torre. A ideia é que os alunos possam estudar temas como clima, hidrologia e mudanças climáticas, com o objetivo de formar uma nova geração de cientistas ribeirinhos.

“Nosso objetivo é engajar a comunidade, especialmente os jovens, e proporcionar uma aprendizagem contínua sobre os temas que impactam suas vidas”, concluiu Fleischmann.

Redação Revista Amazônia

Published by
Redação Revista Amazônia

Recent Posts

Boto-vermelho: 5 fatos reais da sua importância muito além das lendas

Na Amazônia, todo mundo já ouviu que o boto-vermelho vira homem bonito em festas ribeirinhas…

23 horas ago

Seriemas têm 3 hábitos pouco conhecidos apesar do canto alto

É difícil ignorar o canto estridente de uma seriema ao longe — ele ecoa como…

2 dias ago

Anu-preto desafia a lógica com 1 único ninho dividido por todo o grupo

Quem vê um bando de anu-pretos empoleirado em fios ou cercas, trocando chamados estridentes e…

2 dias ago

Pesquisa arqueológica de práticas indígenas na fertilização da Amazônia é premiada nos EUA

Um estudo inovador realizado pela arqueóloga Daiana Travassos Alves, professora da Universidade Federal do Pará…

3 dias ago

Degradação da Amazônia avança enquanto desmatamento recua

O crescimento acelerado da degradação da Amazônia, impulsionado principalmente por incêndios florestais, contrasta com a…

3 dias ago

Pesquisa analisa a bioeconomia na Amazônia envolta de caminhos e desafios

A expectativa para a realização da COP30, que acontecerá em novembro de 2025 em Belém,…

3 dias ago