Em 10 de fevereiro de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um decreto impondo uma tarifa de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio, afetando diretamente países como Brasil, Canadá e México. Essa medida visa proteger a indústria siderúrgica americana, mas gera preocupações significativas para os exportadores brasileiros.
O Brasil é o segundo maior fornecedor de aço para os EUA, exportando aproximadamente 4 milhões de toneladas em 2024, o que representou US$ 3 bilhões em receitas. A nova tarifa coloca em risco essa relação comercial, podendo resultar em redução de produção, demissões e impactos na balança comercial brasileira.
O Instituto Aço Brasil expressou surpresa com a decisão americana, afirmando que a medida não beneficia nenhum dos países envolvidos. A entidade destacou que o acordo anterior entre Brasil e EUA era favorável e que buscará diálogo para retomar os termos comerciais anteriores.
O mercado global de aço enfrenta um cenário de excesso de capacidade produtiva. Em 2022, a capacidade instalada mundial atingiu 2,463 bilhões de toneladas, enquanto a produção efetiva foi de 1,885 bilhão de toneladas, resultando em um excedente de 578 milhões de toneladas. Projeções indicam que esse excedente pode alcançar 644 milhões de toneladas até 2025.
A China destaca-se como o principal ator nesse contexto, com uma capacidade produtiva de 1,15 bilhão de toneladas e uma produção efetiva de 1,018 bilhão de toneladas em 2022, gerando um excedente de 132 milhões de toneladas. Isso representa 54% da produção mundial e 22,8% do excedente global.
No Brasil, a produção de aço bruto em 2024 foi de 33,8 milhões de toneladas, um crescimento de 5,5% em relação ao ano anterior. Minas Gerais lidera a produção nacional, respondendo por 30% do total, seguido pelo Rio de Janeiro, com 26,2%.
Apesar de ser um grande produtor de minério de ferro e aço bruto, o Brasil enfrenta desafios para verticalizar sua cadeia produtiva e agregar valor aos seus produtos. A exportação de commodities semiprocessadas ou in natura prevalece, limitando o potencial de geração de valor agregado.
Fatores como a complexidade tributária, altos custos logísticos e infraestrutura deficiente contribuem para essa limitação. Além disso, a falta de investimentos em tecnologia e inovação impede o desenvolvimento de produtos de maior valor agregado.
A dependência da exportação de commodities torna o Brasil vulnerável a barreiras comerciais, como as tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre o aço. A verticalização da cadeia produtiva poderia ser uma estratégia eficaz para mitigar esses impactos, permitindo ao país exportar produtos com maior valor agregado e diversificar seus mercados.
Investir na transformação do aço em produtos acabados ou semiacabados, como componentes automotivos, máquinas e equipamentos, poderia aumentar a competitividade brasileira no mercado internacional. Isso exigiria políticas públicas voltadas para a melhoria da infraestrutura, simplificação tributária e incentivo à inovação tecnológica.
Algumas empresas brasileiras já estão adotando estratégias de verticalização aliadas à sustentabilidade. A AVB, por exemplo, é pioneira na produção de “aço verde”, utilizando carvão vegetal como agente redutor nos altos-fornos, substituindo combustíveis fósseis. Essa abordagem resulta em um aço produzido 100% com energia renovável e pegada de carbono zero. A empresa investe no setor florestal e em tecnologias sustentáveis para alcançar essa produção diferenciada.
A imposição de tarifas pelos Estados Unidos sobre o aço brasileiro evidencia a necessidade de o Brasil repensar sua estratégia no setor siderúrgico. A verticalização da produção surge como uma alternativa viável para agregar valor, reduzir vulnerabilidades comerciais e fortalecer a posição do país no mercado global. Para isso, é fundamental superar os desafios estruturais e investir em inovação e sustentabilidade, garantindo um futuro mais competitivo para a indústria nacional.
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