Saúde

Estudos inéditos avançam no uso de ultrassom focalizado no tratamento do Parkinson

Equipes de pesquisadores em Madri, na Espanha, e em Toronto, no Canadá, são as primeiras no mundo a utilizar a tecnologia de ultrassom focalizado para atingir uma nova área do cérebro em pacientes com Doença de Parkinson, com o objetivo de frear ou até reverter a progressão da doença.

Ambos os ensaios clínicos em andamento concentram-se no estriado, uma região profunda do cérebro formada por neurônios e que compõe os gânglios da base área central na coordenação dos movimentos voluntários. A gravidade dos sintomas motores do Parkinson está diretamente relacionada à degeneração neurocelular das projeções dopaminérgicas nigroestriatais.

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O ultrassom focalizado já recebeu aprovações regulatórias internacionais para o tratamento de formas de Parkinson dominadas por tremores, incluindo a aprovação da FDA (agência reguladora dos EUA) em 2018. No entanto, os testes em Madri e Toronto são pioneiros ao utilizar a tecnologia com o objetivo de interromper a progressão da doença, em vez de apenas controlar os sintomas.

Abertura da barreira hematoencefálica: um avanço promissor

Um dos marcos do Parkinson é o acúmulo anormal de uma proteína chamada alfa-sinucleína, que leva à degeneração neuronal. No entanto, tratamentos promissores que visam reduzir esse acúmulo enfrentam a dificuldade de atravessar a barreira hematoencefálica (BHE) e alcançar as regiões afetadas do cérebro.

O Dr. José Obeso, do Centro Integral de Neurociências (HM CINAC), em Madri, liderou o primeiro estudo clínico do mundo a usar ultrassom focalizado para abrir de forma temporária e reversível a BHE na região do putâmen (parte do estriado) de pacientes com Parkinson. Até agora, sete pacientes foram tratados.

“A abertura da barreira hematoencefálica com ultrassom focalizado oferece uma oportunidade única de intervenção precoce em doenças neurodegenerativas, como o Parkinson,” afirmou o Dr. Obeso. “A abertura do estriado, em particular, pode ser aplicada logo nos estágios iniciais da doença. Isso pode representar um avanço revolucionário.”

Administração direta de terapias no cérebro

Em outro estudo clínico inovador, o Dr. Nir Lipsman, do Sunnybrook Health Sciences Centre e da University Health Network, em Toronto, lidera a primeira equipe do mundo a usar ultrassom focalizado para administrar diretamente uma terapia no estriado de pacientes com Parkinson. O grupo está utilizando ondas de ultrassom de baixa intensidade para abrir temporariamente a BHE e, assim, entregar diretamente uma terapia de reposição enzimática (glucocerebrosidase). Até o momento, três pacientes foram tratados neste estudo.

“O objetivo deste estudo é avaliar a segurança da abertura temporária da barreira hematoencefálica em regiões motoras chave envolvidas no Parkinson, e permitir a entrega direta de terapias promissoras a essas áreas do cérebro”, explicou o Dr. Lipsman, diretor do Centro Harquail de Neuromodulação de Sunnybrook.

Esperança para o futuro

Pat Wilson, o primeiro paciente a participar do estudo em Toronto, declarou:

“Espero que, ao participar deste ensaio clínico, eu possa fazer a diferença. Meu pai teve Parkinson e vi de perto as dificuldades que ele enfrentou. Vivo com os desafios dessa condição e desejo que essa pesquisa ajude no desenvolvimento de um tratamento que beneficie outras pessoas no futuro.”

Ambos os estudos estão utilizando o dispositivo Exablate Neuro, da empresa Insightec, e o ensaio clínico de Toronto conta com financiamento parcial da Focused Ultrasound Foundation.

“O ultrassom focalizado é uma tecnologia não invasiva revolucionária que tem o potencial de transformar o tratamento do Parkinson e de outras doenças neurodegenerativas”, afirmou o Dr. Neal F. Kassell, presidente e fundador da Focused Ultrasound Foundation. “Esses dois estudos representam um primeiro passo crucial no uso do ultrassom focalizado para tratar as causas subjacentes do Parkinson.”

Sobre o Ultrassom Focalizado

O ultrassom focalizado utiliza energia ultrassônica guiada por imagens em tempo real para tratar tecidos profundos no corpo sem necessidade de cortes ou radiação. A tecnologia já foi aprovada pela FDA para o tratamento de tremor essencial, Parkinson com predominância de tremores, miomas uterinos, dor causada por metástases ósseas e próstata. Há dezenas de outras indicações aprovadas fora dos EUA. Atualmente, a tecnologia está em pesquisa para mais de 130 doenças, incluindo Alzheimer e tumores no cérebro, fígado, mama e pâncreas.

Sobre a Focused Ultrasound Foundation

A Focused Ultrasound Foundation foi criada com o objetivo de melhorar a vida de milhões de pessoas no mundo todo, acelerando o desenvolvimento desta tecnologia não invasiva. A fundação promove pesquisas, estimula colaborações e conscientiza pacientes e profissionais de saúde. Desde sua fundação em 2006, tornou-se a maior fonte não governamental de financiamento para pesquisas com ultrassom focalizado.

Redação Revista Amazônia

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