COP 30

“Vozes que EcoAm”: a Amazônia fala para o mundo na COP30

Quando o mundo volta seus olhos para a Amazônia, é comum pensar num bloco homogêneo, em uma floresta única, uniforme, que responde da mesma forma a todas as políticas e expectativas. Mas a verdade é outra: existem várias Amazônias — com histórias, territórios, culturas e desafios distintos — e é justamente para desdobrar essa diversidade que o Impact Hub Manaus leva à COP30 o evento “Vozes que EcoAm”, uma ponte entre territórios amazônicos e o debate global sobre bioeconomia, clima e desenvolvimento.

O “Vozes que EcoAm” está inserido no programa EcoAm — iniciativa que desde 2024 conecta ecossistemas de impacto nas regiões de Ji-Paraná (RO), Rio Branco (AC) e Tefé (AM). O objetivo é claro: dar voz e visibilidade às realidades locais desses três “sub-Amazônias” e levar ao grande palco da COP30, em Belém (PA), suas demandas, soluções e aspirações. Segundo Washington Silva, responsável pelo programa no Hub, o evento será uma forma de conectar “as demandas, desafios e oportunidades desses territórios com as discussões que acontecerão durante a COP30”.

Em Belém, o momento de articulação está marcado para o dia 12 de novembro, quando o “Vozes que EcoAm – Mapeamento e Oportunidades da Bioeconomia de Ji-Paraná, Rio Branco e Tefé” será realizado na Museu Emílio Goeldi, dentro da programação da estação “Estação Amazônia Sempre” apresentada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). No evento será compartilhado o mapeamento da bioeconomia realizado nos três territórios — um diagnóstico que combina escuta participativa, coleta de dados e vontade de definir metas até 2030 — e serão lançadas Cartas Territoriais, documentos que expressam em linguagem própria as visões e reivindicações dessas regiões.

Juliana Teles, co-fundadora do Impact Hub Manaus, resume o raciocínio: “Quando a gente olha para a Amazônia, tende a olhar como se fosse uma coisa só, mas existem várias Amazônias. E quando a gente coloca a lupa sobre esses territórios a gente vê todas as potencialidades e diferenças de cada um.” É justamente essa pluralidade de Amazônias que o programa tenta traduzir em narrativa e ação. Já Marcus Bessa, cofundador da instituição, acrescenta que “apesar de não poderem interferir diretamente nas decisões globais, essas pessoas dos territórios amazônicos serão afetadas por elas — e é importante que saibam como serão afetadas”.

O evento se desenrola em três momentos interligados: “Dos Territórios para a COP”, etapa de escuta e mapeamento; “Os Territórios na COP”, ocasião em Belém de apresentação e engajamento; e “Da COP para os Territórios”, fase de devolutiva, implementação e acompanhamento nos territórios originais. Entre setembro e outubro foram realizadas três encontros pré-COP em cada um dos territórios em questão: Ji-Paraná, Rio Branco e Tefé. Em cada espaço, participantes locais — comunidades, empreendedores, organizações civis — traçaram um diagnóstico conjunto sobre os potenciais da bioeconomia, os gargalos e caminhos de transição.

Divulgação

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A bioeconomia surge como fio condutor desse diálogo. Em uma Amazônia frequentemente pautada pela extração e pela degradação, o movimento que se refere à bioeconomia propõe alternativas sustentáveis, agregação de valor local, protagonismo comunitário e circulação de renda na floresta — combinando o uso de recursos renováveis locais com práticas socioculturais e ambientais que respeitam territórios tradicionais. O mapeamento do Impact Hub Manaus busca justamente coletar indicadores, projetar metas e articulações institucionais até 2030 capazes de impulsionar esse tipo de desenvolvimento.

A função desse mapeamento e das Cartas Territoriais vai além da apresentação: trata-se de mobilização prática e de exigir correspondência entre discurso e realidade. O evento em Belém será oportunidade para levantar investimentos, parcerias e redes de apoio para os territórios mapeados, com o respaldo do programa Amazônia Sempre do BID — uma iniciativa que já mobiliza bilhões de dólares em financiamento para a região e tem entre seus eixos principais a bioeconomia e o fortalecimento institucional.

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A escolha do Impact Hub Manaus como articulador não é aleatória: a organização atua há anos como catalisador de inovação social, empreendedorismo de impacto e construção de redes colaborativas na Amazônia Legal. Sua missão — conectar pessoas e ideias que “fazem diferente” — encontra na bioeconomia e na COP30 uma plataforma para amplificar voz, território e propósito.

No entanto, o contexto exige também realismo. Levar as “vozes que ecoam da Amazônia” a uma conferência global exige que essas vozes tenham conteúdo, propostas, indicadores e articulação institucional — o que o mapeamento busca entregar. Além disso, converter engajamento em resultados locais exige que as demandas expressem não só reivindicação, mas caminhos que possam ser implementados, monitorados e avalizados — e que sejam incorporados nas agendas de programas, políticas públicas e financiamento.

Ao final, o “Vozes que EcoAm” representa um movimento estratégico: conectar a Amazônia ao mundo, mas mantendo-a como protagonista, não como palco. Trazer a complexidade regional, a diversidade local e a urgência dos impactos climáticos e econômicos para dentro da COP30, de modo que o bioma seja ouvido não como recurso a ser gerido, mas como agente de sua própria transformação.

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