Foto: Gávea News
A trajetória de YANUNI, documentário produzido por Juma Xipaia em parceria com Leonardo DiCaprio, ganhou uma dimensão que ultrapassa o circuito audiovisual. A obra, dirigida pelo austríaco Richard Ladkani, despontou como uma das produções mais celebradas do cinema ambiental de 2025 e tornou-se um dos títulos mais comentados na campanha internacional rumo ao Oscar 2026. Com sua combinação de denúncia, intimidade e resistência, o filme não apenas expande o alcance da causa indígena na Amazônia, mas a inscreve no centro do debate global sobre justiça climática.
Diversos veículos internacionais, entre eles Deadline e Awards Watch, destacaram o documentário como um dos fortes candidatos ao prêmio de Melhor Documentário da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Essas publicações ressaltam a força da história conduzida por Juma, primeira cacica do povo Xipaya, e de seu companheiro, o agente ambiental Hugo Loss, ambos posicionados na linha de frente contra o garimpo ilegal e as ameaças que pairam sobre os territórios amazônicos.
YANUNI estreou como filme de encerramento no Tribeca Festival, em Nova York, uma das vitrines mais relevantes do cinema mundial. Na cerimônia, Leonardo DiCaprio e Juma dividiram o palco para enfatizar a urgência e a responsabilidade coletiva frente à crise ambiental que o filme retrata. Dali em diante, a obra seguiu uma trajetória de premiações que consolidou sua potência internacional.
A presença de YANUNI nos principais festivais dedicados ao cinema ambiental tem sido marcada por reconhecimentos sucessivos. O filme foi exibido no Montrose LandxSea Environmental Film Festival, na Escócia, onde conquistou o Prêmio do Público. Em seguida recebeu o Grand Teton e o prêmio de Melhor Longa-metragem no Jackson Wild Media Awards, instituição frequentemente chamada de o Oscar da natureza.
Nos Estados Unidos, a produção também foi agraciada pelo Red Nation International Film Festival, o mais importante evento dedicado ao cinema indígena no mundo. Ali, YANUNI venceu como Melhor Documentário, reforçando a relevância de uma obra conduzida pela própria liderança indígena que atravessa sua narrativa. O circuito de exibições seguiu com a escolha do filme como obra de abertura no Los Angeles Brazilian Film Festival, ampliando sua visibilidade entre a diáspora brasileira e no ambiente cinematográfico norte-americano.
No Brasil, a recepção também foi significativa: o filme recebeu o Prêmio do Público de Documentário Internacional na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, evento reconhecido como uma das mais importantes plataformas culturais da América Latina.
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No centro da narrativa está a vida de Juma Xipaia, cacica da aldeia Kaarimã, na Terra Indígena Xipaya, localizada em Altamira, região do Médio Xingu, no Pará. Desde 2016, quando se tornou a primeira mulher do povo a assumir a liderança política, Juma tem atuado na defesa dos direitos humanos, da autodeterminação e da proteção territorial diante de ameaças que vão desde grandes projetos de infraestrutura, como a hidrelétrica de Belo Monte, até a pressão da mineração industrial e do garimpo ilegal.
Juma enfrenta esse cenário enquanto vivencia a maternidade e sobrevive a sucessivas tentativas de assassinato. Sua história se estreita com a de seu marido, Hugo Loss, agente ambiental do Ibama, que liderou operações arriscadas de repressão ao garimpo. Graduado pela Universidade Federal do Paraná e mestre pela Universidade de Brasília, Loss tornou-se referência no combate às invasões e à grilagem em terras indígenas. Sua atuação levou-o a ser alvo de espionagem ilegal entre 2019 e 2020 e à exoneração durante o governo Bolsonaro. Ele retornou ao órgão em 2023.
YANUNI acompanha esse percurso de confrontos, escolhas pessoais difíceis e, sobretudo, da construção de uma liderança que emergiu de um território isolado para integrar o primeiro Ministério dos Povos Indígenas do Brasil. A paulatina entrada de Juma na política institucional — enquanto enfrenta ameaças crescentes e tenta equilibrar vida familiar e coletividade — dá ao documentário uma atmosfera que combina épico, vulnerabilidade e coragem.
O filme é uma produção da Malaika Pictures em associação com Appian Way, Nia Tero, Age of Union, Tellux Group e com apoio do Instituto Austríaco de Cinema. Além de DiCaprio, a produção executiva inclui nomes como Eric Terena, da Mídia Indígena, reforçando uma estrutura que alia protagonismo indígena a colaborações internacionais.
As participações musicais de Katu Mirim e Djuena Tikuna acrescentam ao documentário uma dimensão sensorial que conecta a força do território amazônico à estética da obra. A trilha sonora original, de H. Scott Salinas, se articula com essas vozes tradicionais para reforçar a espiritualidade e o enraizamento cultural que atravessam o filme.
YANUNI, ao se firmar como um fenômeno no cinema ambiental, também se torna ferramenta política. A produção não apenas valoriza a resistência dos povos da floresta, mas expõe tensões que moldam a disputa pelo futuro da Amazônia e, por extensão, pelo futuro climático do planeta. A obra mostra que a defesa dos territórios indígenas é inseparável da defesa da própria vida no planeta, e que essa luta depende do reconhecimento internacional e do fortalecimento das vozes indígenas em todos os espaços.
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