Hidrelétricas Belo Monte, Jirau e Santo Antônio não trouxeram desenvolvimento regional esperado

Autor: Redação Revista Amazônia

 

O projeto “Depois das Hidrelétricas: Processos sociais e ambientais após a construção de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio na Amazônia Brasileira”, finaliza neste ano, após ser desenvolvido com apoio da FAPESP pelo Programa São Paulo Excellence Chair (SPEC).

Impactos sociais e ambientais das hidrelétricas

Iniciado em 2013, o estudo analisou os impactos sociais e ambientais das hidrelétricas, começando pela usina de Belo Monte, inaugurada em 2016 no rio Xingu, Pará. A segunda fase, em 2020, estendeu-se às usinas de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira, investigando as consequências de cinco a dez anos após sua construção.

Captura de tela 2024 10 02 124958
Emilio Moran – Fonte: Agência FAPESP

Segundo Emilio Moran, coordenador do projeto e professor da Universidade Estadual de Michigan e da Unicamp, a pesquisa, de longa duração e rara em estudos de hidrelétricas, utilizou dados coletados antes, durante e após a construção das usinas, com uma metodologia consistente que permitiu observar os impactos em várias dimensões. “Foram prometidos benefícios como melhorias em saneamento, saúde e educação, mas a realidade é bem diferente”, explica Moran. Os dados estão disponíveis no site do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Unicamp.

O estudo revelou mudanças significativas no uso do solo nas bacias dos rios Madeira e Xingu, com redução da vegetação natural e expansão das pastagens, além de impactos graves na pesca, um pilar da alimentação local. As barragens alteraram o fluxo dos rios, provocando a migração e morte de peixes, o que afetou profundamente a economia e cultura pesqueira das regiões. Nas áreas urbanas, como em Altamira, os problemas de abastecimento de água e infraestrutura são críticos, com interrupções frequentes e dependência de caminhões-pipa.

Outro dado preocupante é a insegurança alimentar em Altamira, onde 69% das famílias relatam dificuldades de acesso a alimentos. Apesar do investimento de R$ 6,5 bilhões em ações socioambientais por parte da empresa responsável, Moran conclui que houve uma piora nas condições de vida, sem o cumprimento das promessas feitas.

A pesquisa também buscou comparar Belo Monte com outras grandes hidrelétricas, como Jirau e Santo Antônio, constatando que os problemas são semelhantes. Moran destaca que, apesar de Belo Monte ter recebido mais atenção da mídia, Jirau e Santo Antônio, próximas à capital Porto Velho, enfrentaram consequências ainda mais graves devido a inundações maiores que as previstas e falta de planejamento adequado.

Embora a construção dessas hidrelétricas tenha sido vista como uma solução para aumentar a oferta de energia renovável, Moran aponta que o resultado foi aquém do esperado. Belo Monte, por exemplo, com capacidade de 11 GW, comercializa apenas 4 GW, e atualmente, devido à seca na Amazônia, não está produzindo. Ele lembra que, por esses motivos, países como Estados Unidos e nações europeias abandonaram a construção de grandes hidrelétricas nos anos 1970.

Em suas considerações finais, Moran lamenta que as três hidrelétricas tenham sido oportunidades perdidas para o desenvolvimento regional, mencionando a degradação ambiental, o colapso da agricultura e a piora nas condições de vida. “A estrutura prometida, como o hospital e o sistema de água e esgoto de Altamira, ainda não foi entregue. A energia, em vez de ser mais barata, encareceu. A promessa de desenvolvimento não se concretizou.”

Com o fim do projeto, Moran pretende continuar suas pesquisas na Amazônia, agora com foco nas soluções que vêm das próprias populações locais. “Estamos iniciando um novo projeto internacional sobre mudança climática, priorizando o conhecimento indígena e das populações tradicionais em diferentes regiões do mundo, incluindo a Amazônia”, conclui.


Edição atual da Revista Amazônia

Assine nossa newsletter diária