O pirarucu (Arapaima gigas) é um dos maiores peixes de água doce do mundo e é encontrado na bacia Amazônica. Ele é conhecido por sua importância ecológica, cultural e econômica na região. Estima-se que a cada ano o pirarucu avança mais 40 km nos rios da bacia amazônica.
Federico Moreno, diretor do Centro de Investigação de Recursos Aquáticos da Universidade Autônoma de Beni, na Bolívia, afirma que seu tamanho e apetite fazem dele uma séria ameaça para as populações de peixes nativos.
“É um peixe territorial, toma conta de um corpo d’água e afugenta as espécies nativas. Esse é um problema grave. As outras espécies fogem do predador e entram em outros corpos d’água muito mais distantes e de difícil acesso”, explica Moreno.
Ninguém sabe ao certo o ano exato em que o pirarucu apareceu pela primeira vez na Bolívia.
Acredita-se que sua chegada tenha sido resultado de uma fuga de uma piscicultura de pirarucus no Peru, onde esses peixes são nativos. De lá se espalhou pelos rios da Bolívia.
No Brasil, o pirarucu também é considerado espécie invasora em alguns rios do norte do país. Nos últimos anos, foi avistado até mesmo em rios do interior de São Paulo, onde é considerado uma ameaça à biodiversidade, devido ao seu apetite voraz e ausência de predadores naturais.
No entanto, ao longo do tempo, o pirarucu enfrentou desafios que o transformaram em uma ameaça em alguns casos, mas também ofereceu oportunidades para a gestão sustentável.
- Sobrepesca: Devido ao seu tamanho e saboroso filé, o pirarucu tornou-se alvo de pesca excessiva, ameaçando as populações selvagens.
- Perda de Habitat: Mudanças no ambiente, como desmatamento e projetos de desenvolvimento, podem resultar na perda de habitats importantes para o pirarucu.
- Ciclo de Vida Vulnerável: O pirarucu tem um ciclo de vida único, com fases de reprodução que o tornam mais vulnerável à captura em certos períodos.
Oportunidades:
Porém, para os pescadores locais, a chegada do pirarucu tem sido uma oportunidade, tais como:
- Manejo Sustentável: A implementação de práticas de manejo sustentável, incluindo a proibição da pesca durante períodos sensíveis de reprodução, pode ajudar a preservar as populações de pirarucu.
- Aquicultura: A criação em cativeiro do pirarucu, conhecida como aquicultura, oferece uma alternativa sustentável à pesca predatória, permitindo a produção controlada e a conservação das populações selvagens.
- Turismo Sustentável: Em algumas regiões, o pirarucu tornou-se uma atração para o turismo de pesca esportiva sustentável, gerando receita para as comunidades locais e incentivando a preservação do ambiente.
- Pesquisa Científica: A pesquisa científica sobre o pirarucu é crucial para entender seu comportamento, ciclo de vida e habitat, informando práticas de manejo e conservação mais eficazes.
- Envolvimento das Comunidades Locais: Incentivar a participação ativa das comunidades locais na gestão dos recursos naturais, incluindo o pirarucu, pode promover práticas mais sustentáveis e garantir benefícios econômicos para as populações locais.
Conflito com comunidades indígenas
Agora, os pescadores viajam para áreas cada vez mais remotas para pescar pirarucu e trocam os barcos por canoas, em viagens de até duas semanas.
Isso está criando conflitos com comunidades indígenas, às quais foram concedidos títulos de propriedade sobre muitas das lagoas remotas onde o pirarucu é agora encontrado.
As próprias comunidades indígenas, por sua vez, começaram a pescar e vender pirarucu.
Os pescadores comerciais têm agora de obter licenças especiais para trabalhar nessas áreas.
Mas pescadores como Guillermo Otta Parum ressaltam que mesmo quando possuem a documentação correta, muitas vezes não têm permissão para trabalhar em lagoas remotas.
As comunidades indígenas, por sua vez, argumentam que estão apenas tentando proteger os recursos que o governo boliviano reconheceu que elas têm direito de controlar.
Desafios:
- Fiscalização e Aplicação de Leis: A implementação eficaz das regulamentações relacionadas à pesca e conservação é essencial para enfrentar os desafios de sobrepesca e garantir a sustentabilidade.
- Pressões Econômicas: A pobreza e a falta de alternativas econômicas podem levar as comunidades locais a depender da pesca predatória, destacando a importância de abordar as questões socioeconômicas subjacentes.
A gestão equilibrada do pirarucu na Amazônia requer uma abordagem holística que considere a conservação da biodiversidade, os aspectos culturais e as necessidades econômicas das comunidades locais. Estratégias sustentáveis e a colaboração entre governos, comunidades e organizações são essenciais para garantir um futuro saudável para o pirarucu e os ecossistemas aquáticos da região Amazônica.