Enquanto o mundo volta os olhos para a COP30, um outro movimento silencioso, mas profundamente transformador, se consolida no país: o amadurecimento do mercado de sustentabilidade. Lançada em 24 de outubro pela Associação Brasileira dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável (ABRAPS), durante o evento ODSTalks, a 4ª edição da Pesquisa sobre o Perfil do Profissional pelo Desenvolvimento Sustentável oferece um retrato inédito de uma categoria que cresceu, se qualificou e se tornou indispensável na transição para uma economia verde.

Um campo que deixou de ser promessa
Realizada ao longo de 2024 e 2025, a pesquisa mapeou mais de mil profissionais de todo o país — um salto de mais de três vezes no número de participantes em relação à primeira edição, de 2015. Os resultados confirmam que a sustentabilidade deixou de ser um nicho de entusiastas para se tornar uma profissão consolidada, com estrutura, carreira e relevância estratégica nas organizações.
O levantamento revela que 83% dos entrevistados possuem pós-graduação ou nível acadêmico superior, e que 38% têm mais de 15 anos de experiência na área. Esse dado, por si só, desmonta a ideia de que a sustentabilidade é um campo em formação. O profissional do futuro — que antes se imaginava júnior — já é sênior, experiente e altamente qualificado.
O que move quem trabalha pela sustentabilidade
Mesmo diante de desafios estruturais, a principal motivação desses profissionais segue sendo o propósito. Mais de 60% apontaram a realização pessoal como o fator que os impulsiona no trabalho. A sustentabilidade, mais do que um emprego, é encarada como missão e coerência entre valores e prática.
Mas o idealismo não exclui a realidade do mercado. A pesquisa mostra uma faixa salarial predominante entre R$ 3.001 e R$ 6.000, concentrada sobretudo entre profissionais da iniciativa privada (52%). Ainda assim, setores como Governo e Academia se destacam pela presença de rendimentos mais altos: 19% e 18%, respectivamente, estão na faixa de R$ 15.001 a R$ 20.000.
Esses números revelam que o reconhecimento financeiro ainda é desigual, mas existe um potencial de valorização crescente à medida que as empresas internalizam o ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) como eixo de gestão, e não apenas como discurso.

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O mapa das tendências e dos gargalos
Os temas mais explorados entre os profissionais também refletem o amadurecimento do setor. A gestão e os relatórios de sustentabilidade — incluindo ESG e disclosure — aparecem no topo das áreas de interesse (32%), seguidos por resíduos, reciclagem e economia circular (28%). São campos que dialogam diretamente com a necessidade de métricas, transparência e inovação, pilares fundamentais para a credibilidade da agenda sustentável.
Entretanto, o estudo também escancara os obstáculos que ainda impedem o avanço da pauta dentro das organizações. Quatro gargalos concentram as maiores preocupações:
Falta de conhecimento sobre a importância do tema (28%);
Baixo engajamento institucional (19%);
Falta de comprometimento da alta administração (15%);
Investimentos insuficientes (12%).
Esses pontos compõem um roteiro estratégico para líderes empresariais e gestores públicos que desejam transformar discurso em prática. A mensagem é clara: não faltam profissionais preparados — falta espaço, orçamento e decisão política para que atuem com todo o seu potencial.
O papel da liderança e o chamado à ação
Na avaliação de Marcus Nakagawa, presidente da ABRAPS, o momento é decisivo. “Com a chegada da COP30 e as exigências globais sobre o aquecimento do planeta, os profissionais pelo desenvolvimento sustentável serão protagonistas. São eles que transformarão metas e relatórios em ações concretas, capazes de inserir a sustentabilidade na cultura organizacional e gerar resultados sistêmicos.”
A pesquisa, disponível no site da ABRAPS, reforça que o Brasil já possui uma base técnica e humana sólida para conduzir a transição ecológica. O desafio, agora, é valorizar esse capital humano, estimular políticas corporativas de engajamento e traduzir o propósito em impacto mensurável.
O profissional do desenvolvimento sustentável não é mais apenas o porta-voz das boas intenções: é o arquiteto de um novo modelo de prosperidade. E, ao que tudo indica, o futuro já começou — com brasileiros preparados para liderá-lo.










































