Pesquisa destaca benefícios da adição de ferro aos oceanos para a remoção do CO2


Embora a redução urgente das emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa seja essencial para conter as mudanças climáticas, há um consenso crescente sobre a necessidade de remover o CO2 já presente na atmosfera. Dada a importância do oceano no armazenamento de CO2, seu potencial para remoção de dióxido de carbono marinho (mCDR) não pode ser ignorado, especialmente para melhorar o sistema climático já sobrecarregado.

Diversas organizações científicas de prestígio, incluindo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas e as Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina, identificaram a fertilização com ferro nos oceanos (OIF) como uma solução climática promissora. Mais de 400 cientistas assinaram uma carta pedindo mais pesquisas sobre mCDR. Governos ao redor do mundo investiram milhões de dólares em soluções oceânicas para o clima, sinalizando a necessidade de explorar o papel do oceano na mitigação das mudanças climáticas.

Agora, um artigo publicado na revista Frontiers in Climate, intitulado “Próximos passos para avaliar a fertilização com ferro no oceano para a remoção de dióxido de carbono marinho”, detalha as etapas necessárias para avaliar o OIF como um método acessível, escalável e de rápida implementação para mCDR. Segundo o grupo de especialistas internacionais “Exploring Ocean Iron Solutions” (ExOIS), que segue um código de conduta responsável, o OIF precisa ser estudado para determinar se é uma técnica eficiente e socialmente responsável.

“É a primeira vez em mais de uma década que a comunidade científica marinha se une para apoiar um plano de pesquisa específico sobre ferro no oceano”, afirmou Ken Buesseler, diretor executivo do programa ExOIS e cientista sênior do Instituto Oceanográfico de Woods Hole (WHOI).

Crescimento do fitoplâncton retira CO2 da atmosfera

A técnica de OIF envolve a adição de pequenas quantidades do micronutriente ferro à superfície oceânica para estimular o crescimento de plantas marinhas, como o fitoplâncton. Esse crescimento retira CO2 da atmosfera, e, à medida que o plâncton morre ou é consumido, parte desse carbono é transferida para o oceano profundo. Embora grandes quantidades de ferro entrem naturalmente no oceano, o OIF visa acelerar esse processo.

“Dada a enorme capacidade do oceano para armazenar carbono, mais de 50 vezes maior que a da atmosfera e 15-20 vezes maior que todas as plantas terrestres e solos, devemos considerar maneiras de aumentar essa capacidade natural”, disse Paul Morris, gerente de projeto do programa ExOIS, que é um programa independente hospedado no WHOI.

“Mesmo que pudéssemos parar as emissões de carbono hoje, ainda precisaríamos de CDR marinho por causa do CO2 já acumulado na atmosfera”, afirmou Buesseler.

Margaret Leinen, diretora do Instituto de Oceanografia Scripps, que não é coautora do artigo mas esteve envolvida em esforços anteriores para avançar os estudos sobre remoção de carbono marinho, destacou a importância de publicar e discutir abertamente esses experimentos. “A revisão por pares e a discussão aberta sobre as implicações científicas e sociais desses experimentos são fundamentais para avançarmos no entendimento e aplicação de estratégias de remoção de carbono”, disse ela.

De acordo com Brad Warren, CEO da Global Ocean Health, que também não é coautor do artigo, “Precisamos de uma ampla gama de soluções para mitigar os impactos devastadores das mudanças climáticas em todas as comunidades, e se a fertilização com ferro no oceano for uma delas, ela precisa ser rigorosamente estudada”.

Para avançar no entendimento sobre a adequação, eficácia e impactos do OIF, os pesquisadores propõem cinco atividades-chave: estudos de campo no Pacífico Nordeste, modelagem regional e global, testes de diferentes formas de ferro e métodos de entrega, monitoramento e verificação dos impactos de carbono e ecológicos, e avanços nas ciências sociais e na governança.

O artigo destaca que os estudos de campo são essenciais para preencher lacunas de conhecimento e esclarecer se o OIF é realmente eficaz e reproduzível em grande escala. Embora os experimentos devam ser maiores e mais longos que os anteriores, nenhuma mudança permanente é esperada, já que o ferro é rapidamente consumido e diluído no oceano. Mesmo em escala experimental, a quantidade de ferro adicionada será significativamente menor do que a que entra naturalmente, como durante erupções vulcânicas.

A modelagem será fundamental tanto para o planejamento experimental quanto para a síntese dos resultados dos testes de campo e para prever o impacto em escalas regionais e globais.

“Sabemos que realizar experimentos de campo baratos e inconclusivos, ou avançar sem o devido controle, levará à paralisação do progresso, à medida que governos e o público recuam diante dos riscos desconhecidos do OIF, ignorando seu potencial”, afirma o artigo.

É essencial envolver o público em discussões sobre a implementação responsável do OIF. “Será importante dar atenção especial a grupos historicamente excluídos das tomadas de decisão sobre o uso dos oceanos”, acrescentou Buesseler.

“Este artigo sugere maneiras de estudar como os detentores de direitos costeiros e as comunidades veem o OIF, garantindo que suas opiniões realmente moldem futuras explorações do método”, disse Sara Nawaz, coautora do artigo e diretora de pesquisa no Instituto de Remoção Responsável de Carbono, na American University.

“Temos a oportunidade e a obrigação de investir no conhecimento necessário para tomar decisões cientificamente e eticamente corretas para o futuro do nosso planeta”, conclui o artigo.


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