A floresta como base de uma nova economia alimentar
A Amazônia voltou ao centro da agenda de desenvolvimento do Estado brasileiro, desta vez não como fronteira de expansão predatória, mas como território estratégico para uma economia que alia floresta em pé, segurança alimentar e geração de renda. Com um aporte de R$ 96,5 milhões do Fundo Amazônia, o projeto Florestas e Comunidades: Amazônia Viva inaugura uma nova etapa de fortalecimento da produção sustentável de alimentos na região, conectando povos indígenas, comunidades tradicionais e agricultores familiares a políticas públicas e mercados formais.

A iniciativa nasce com um objetivo claro: transformar a diversidade sociobiodiversa da Amazônia em base econômica duradoura, capaz de assegurar renda, direitos e qualidade de vida a quem vive da floresta, ao mesmo tempo em que contribui para a redução do desmatamento. Produtos como açaí, castanha-do-Brasil, frutas regionais, farinha de mandioca e pescado artesanal deixam de ocupar um lugar marginal nas cadeias produtivas e passam a ser tratados como ativos estratégicos da economia nacional.
Políticas públicas como ponte entre território e mercado
O projeto é resultado de uma articulação interministerial que envolve o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome – MDS, por meio da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SESAN), o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima – MMA e o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar – MDA. A gestão financeira é feita pelo BNDES, responsável pelo Fundo Amazônia.
No centro dessa engrenagem estão programas públicos que já atuam como canais de escoamento da produção da agricultura familiar e das comunidades tradicionais, como o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA e o Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE. Ao fortalecer o acesso a essas políticas, o projeto cria estabilidade econômica e previsibilidade de renda, fatores essenciais para quem produz em territórios historicamente marcados pela exclusão.
Dos recursos totais, R$ 80 milhões são não reembolsáveis e destinados diretamente ao apoio de projetos apresentados por organizações de povos indígenas, comunidades tradicionais e agricultores familiares. Pelo menos 32 iniciativas serão selecionadas por chamada pública, com financiamento de até R$ 2,5 milhões cada, permitindo investimentos em logística, infraestrutura de armazenamento, beneficiamento da produção e acesso à energia renovável.
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Estrutura, dados e o papel estratégico da Conab
Uma parte decisiva do projeto está voltada ao fortalecimento institucional da Companhia Nacional de Abastecimento – Conab na Amazônia Legal. As nove superintendências regionais da empresa receberão investimentos em tecnologia da informação e veículos, ampliando a capacidade operacional para executar políticas públicas em territórios extensos e de difícil acesso. A sede da Conab, em Brasília, também será modernizada para garantir a integração de sistemas e dados.
Esse esforço estrutural vai além da logística. O projeto prevê a criação de uma plataforma de dados dedicada à sociobiodiversidade amazônica, um passo fundamental para retirar esses produtos da invisibilidade estatística. Ao organizar informações sobre produção, volume, origem e circulação, a plataforma oferecerá base concreta para formulação, monitoramento e aprimoramento de políticas públicas, aproximando a realidade da floresta dos centros de decisão.
Para o BNDES, que gere o Fundo Amazônia, essa integração entre dados, inclusão produtiva e combate ao desmatamento consolida o fundo como instrumento de política pública transversal, capaz de alinhar agendas ambientais e sociais em uma mesma estratégia de desenvolvimento.
Floresta em pé, renda no território e redução do desmatamento
O projeto Florestas e Comunidades: Amazônia Viva parte de uma premissa simples e poderosa: não há enfrentamento efetivo ao desmatamento sem viabilizar a economia da floresta. Ao criar condições para que comunidades prosperem a partir do uso sustentável dos recursos naturais, o Estado desloca o eixo do desenvolvimento da destruição para a conservação produtiva.
Essa lógica redefine o papel da Amazônia no país. Em vez de território fornecedor de commodities primárias associadas à supressão florestal, a região passa a ser reconhecida como celeiro de alimentos, insumos e conhecimentos com alto valor econômico, ambiental e cultural. A sociobiodiversidade deixa de ser apenas patrimônio simbólico e se afirma como base concreta de um modelo de desenvolvimento inclusivo.
Ao ampliar o acesso ao mercado, melhorar a qualidade da produção e garantir políticas públicas estruturantes, o projeto fecha um ciclo virtuoso: comunidades fortalecidas mantêm a floresta em pé, reduzem o desmatamento, geram emprego e renda e ampliam a proteção da biodiversidade e da diversidade cultural. Trata-se de um passo decisivo para consolidar uma Amazônia viva, produtiva e integrada ao futuro sustentável do Brasil.











































