Antártida registra crescimento recorde de massa de gelo entre 2021 e 2023

Autor: Redação Revista Amazônia

Depois de décadas com perdas contínuas de gelo que contribuíram para a elevação do nível do mar, a Antártida apresentou, entre 2021 e 2023, um aumento inédito de sua massa de gelo. O fenômeno, observado por meio de satélites da NASA, despertou atenção de cientistas e meteorologistas ao redor do mundo.

Segundo estudo da Universidade Tongji, na China, publicado em maio de 2025, o continente gelado acumulou uma média de 108 gigatoneladas de gelo por ano durante o período analisado. Os dados foram obtidos por meio dos satélites GRACE e GRACE-FO, que monitoram variações no campo gravitacional da Terra e permitem calcular a quantidade de massa presente sobre a crosta terrestre.

A média observada representa uma inversão considerável em relação ao período anterior: entre 2011 e 2020, a Antártida perdeu, em média, 142 gigatoneladas de gelo por ano. A recuperação, concentrada principalmente na Antártida Oriental, é atribuída a padrões incomuns de precipitação que favoreceram o acúmulo de neve.

Distribuição geográfica do acúmulo

As regiões com maior ganho de massa estão localizadas no setor leste do continente, incluindo as áreas de Wilkes Land e Queen Mary Land. Essas regiões abrangem importantes bacias glaciais como Totten, Denman e Vincennes Bay. Os dados indicam que houve uma intensificação na precipitação de neve nessas áreas, fenômeno responsável pelo aumento da massa de gelo superficial.

De acordo com os pesquisadores, essas nevascas anômalas foram causadas por mudanças temporárias nos padrões atmosféricos do Hemisfério Sul, que resultaram no transporte de umidade em direção ao interior do continente.

Além da intensificação da precipitação, a redução nas temperaturas médias locais durante o período de 2021 a 2023 também pode ter contribuído para a preservação do gelo acumulado. Os cientistas alertam, no entanto, que essa tendência não representa uma reversão definitiva nas dinâmicas de degelo associadas ao aquecimento global.

Repercussão entre especialistas

Especialistas em clima e criosfera destacam que o fenômeno precisa ser interpretado com cautela. A massa de gelo da Antártida é altamente sensível a variações nos padrões atmosféricos e oceânicos, o que pode gerar flutuações de curto prazo sem alterar a tendência de longo prazo.

“O que vemos é uma pausa ou uma inversão pontual dentro de uma tendência que ainda é de declínio”, afirma Isabela Velicogna, pesquisadora da Universidade da Califórnia em Irvine, citada pelo portal ScienceBlog.

Um cruzeiro navega em águas azuis geladas da Antártida, com icebergs e montanhas nevadas ao fundo.
Antártida: um panorama de beleza e gelo em expansão.

Outros estudos independentes corroboram que, embora a Antártida Oriental tenha apresentado crescimento, partes da Antártida Ocidental continuam a perder massa de forma acelerada, especialmente nas regiões de Pine Island e Thwaites. Nestas áreas, a base das geleiras está em contato direto com águas oceânicas mais quentes, o que favorece o derretimento por baixo da camada de gelo.

Impacto sobre o nível do mar

Segundo estimativas do estudo chinês, o ganho de massa de gelo observado reduziu temporariamente a contribuição da Antártida para a elevação global do nível do mar. Durante o período entre 2021 e 2023, o continente deixou de adicionar cerca de 0,3 milímetros por ano ao nível médio dos oceanos.

Apesar disso, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) destaca que as projeções de longo prazo continuam apontando para um aumento significativo do nível do mar até o fim do século. A contribuição da Antártida será determinada não apenas pela quantidade de gelo acumulado na superfície, mas também pelo comportamento das plataformas de gelo flutuantes e sua interação com as correntes oceânicas.

Monitoramento contínuo

A coleta de dados por meio de satélites permanece como uma ferramenta essencial para o acompanhamento das massas de gelo polares. O programa GRACE, operado conjuntamente pela NASA e pelo Centro Aeroespacial Alemão (DLR), fornece informações precisas sobre variações de massa em grandes escalas geográficas, permitindo detectar tendências de longo prazo e oscilações de curto prazo.

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Além das missões GRACE, outras plataformas, como os satélites ICESat-2 e Sentinel-1, também contribuem para a análise da topografia e da espessura da camada de gelo. Esses instrumentos fornecem dados complementares que ajudam a entender a dinâmica de fluxos glaciais e a estabilidade das geleiras costeiras.

Em paralelo, estações meteorológicas automáticas instaladas na Antártida têm registrado dados atmosféricos e de precipitação, fundamentais para compreender os mecanismos por trás do acúmulo recente de neve.

Clima e variabilidade natural

O aumento da massa de gelo entre 2021 e 2023 levanta questões sobre o papel da variabilidade climática natural nos extremos ambientais observados em regiões polares. Eventos como o El Niño-Oscilação Sul (ENSO), a Oscilação Antártica e as mudanças no Vórtice Polar podem exercer influência significativa sobre os padrões de precipitação e temperatura na Antártida.

Segundo o climatologista John Turner, do British Antarctic Survey, é possível que o acúmulo recente de gelo esteja relacionado a uma combinação de fatores naturais que atuaram simultaneamente, promovendo um aumento no transporte de umidade e resfriamento atmosférico em partes do continente.

A análise de séries históricas sugere que eventos semelhantes já ocorreram em décadas anteriores, embora com menor intensidade e duração. A singularidade do evento recente reside em sua magnitude e na consistência observada em várias bacias glaciais do leste antártico.

Perspectivas de pesquisa

A comunidade científica vê o fenômeno como uma oportunidade para investigar em maior profundidade os mecanismos que regulam o balanço de massa da Antártida. Grupos de pesquisa em universidades da Europa, Ásia e América do Norte já iniciaram a coleta de novos dados e modelagens para examinar como fatores meteorológicos específicos contribuíram para o episódio de crescimento.

As conclusões ainda estão em desenvolvimento, mas o consenso é que o episódio destaca a importância de manter o monitoramento de longo prazo do continente antártico. A melhoria das previsões sobre o comportamento futuro da camada de gelo depende diretamente da qualidade e da abrangência dos dados coletados nos próximos anos.

Fontes:


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