Foto: Júlio Boaro
A madrugada que separou quarta de quinta-feira mergulhou a Grande São Paulo em um cenário raro: quarteirões apagados, bairros silenciosos e serviços instáveis. As ventanias de 10 de dezembro deixaram um rastro que se manifestou com força na manhã seguinte, quando cerca de 1,5 milhão de clientes ainda estavam sem energia, segundo a Enel São Paulo. Só a capital somava 1 milhão de unidades afetadas, número que colocava em evidência a vulnerabilidade da infraestrutura elétrica diante de eventos climáticos cada vez mais agressivos.
Cidades vizinhas — Barueri, Carapicuíba, Cotia, Embu-Guaçu, Itapecerica da Serra e São Bernardo do Campo — também amanheceram às escuras, algumas já acumulando mais de 24 horas de interrupção. No auge da crise, ainda no dia anterior, mais de 2 milhões de clientes haviam perdido o fornecimento simultaneamente. Enquanto equipes tentavam recompor a rede, moradores e serviços essenciais buscavam alternativas improvisadas para manter rotinas mínimas em funcionamento.
A falta de energia rapidamente transbordou para o sistema de mobilidade. Com mais de 200 semáforos desligados, conforme a CET – Companhia de Engenharia de Tráfego, as ruas da capital se transformaram em um labirinto de cruzamentos inseguros e congestionamentos que somaram quase 100 quilômetros logo no início da manhã. Árvores caídas bloquearam faixas inteiras e ampliaram o caos viário.
No Aeroporto de Congonhas, administrado pela Infraero, a manhã começou com cinco voos cancelados e ao menos um atraso significativo. Passageiros buscavam alternativas enquanto a administração monitorava as condições de energia e o impacto no entorno do terminal.
A Prefeitura de São Paulo decidiu reabrir os parques municipais, fechados preventivamente na tarde anterior. Vistorias técnicas concluíram que, apesar de quedas de galhos e danos estruturais pontuais, não havia riscos impeditivos à circulação de visitantes.
SAIBA MAIS: Equipamento de Baixo Custo Ajuda a Manter o Fornecimento de Energia em Áreas Afetadas por Chuva e Vento
As rajadas que atingiram a região metropolitana alcançaram 98 quilômetros por hora, potência suficiente para derrubar árvores e destelhar estruturas. Somente entre a tarde e a noite de quarta-feira, equipes municipais registraram 514 chamados para remoção de árvores. Em diversos bairros, moradores encontraram carros danificados, fiações tensionadas e vias parcialmente interditadas, enquanto equipes trabalhavam em meio a chuva e ventos que insistiam em retornar.
No litoral, cidades como Bertioga e Santos também experimentaram rajadas intensas, levando à suspensão momentânea de atividades e ao reforço das equipes de emergência. No interior, municípios enfrentaram instabilidades semelhantes, evidenciando que o fenômeno climático se espalhou por um eixo territorial amplo e interligado.
Além dos prejuízos materiais, o episódio deixou consequências graves para a população. A Defesa Civil do Estado de São Paulo confirmou a morte de uma pessoa em Campos do Jordão, vítima de um deslizamento provocado pela combinação de ventos fortes e chuva intensa. O caso reabre discussões sobre áreas de risco, ocupação urbana e capacidade de resposta em momentos climáticos extremos.
O apagão em larga escala também recolocou na agenda pública questões sobre resiliência da rede elétrica, estratégias de mitigação e investimentos necessários para enfrentar um futuro em que tempestades severas tendem a se tornar mais frequentes. Enquanto técnicos trabalham para restabelecer a energia por completo, a cidade ainda tenta compreender o impacto real de uma noite em que o vento falou mais alto — e deixou São Paulo diante de sua própria fragilidade.
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