A aranha “Frankenstein” da Tailândia que mistura macho e fêmea e homenageia One Piece


Nas florestas tropicais do oeste da Tailândia, pesquisadores encontraram uma aranha que parece saída de um laboratório de ficção científica — ou de um mangá japonês. Metade macho, metade fêmea, o novo aracnídeo foi batizado de Damarchus inazuma, em referência a um personagem de One Piece capaz de mudar de sexo à vontade. A descoberta, feita por cientistas do Centro de Excelência em Entomologia da Universidade Chulalongkorn e publicada na revista científica Zootaxa, revela um dos fenômenos biológicos mais raros da natureza: o ginandromorfismo.

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A aparência do animal é, no mínimo, perturbadora. Um lado do corpo é mais robusto e exibe tons alaranjados, típicos das fêmeas; o outro é mais delgado e acinzentado, como nos machos. Essa divisão perfeita, que corta o corpo ao meio, cria uma estética que lembra as criaturas híbridas dos filmes de terror — motivo pelo qual a espécie vem sendo chamada popularmente de “aranha Frankenstein”.

Os pesquisadores capturaram vários exemplares dessa nova espécie nas matas tailandesas, preservando-os a baixíssimas temperaturas em etanol para análise. Ao examinar os espécimes, a equipe percebeu algo incomum: algumas aranhas exibiam traços físicos dos dois sexos em lados opostos do corpo. Após uma investigação detalhada, os cientistas confirmaram que se tratava de uma nova espécie do gênero Damarchus, pertencente à família Bemmeridae, grupo de aranhas mais primitivas encontradas apenas na Ásia, em países como Índia, Indonésia, Malásia e Tailândia.

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Inazuma, personagem do anime e mangá One Piece homenageado na espécie de aranha encontrada – Wikipedia

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O fenômeno que marca a D. inazuma é conhecido como ginandromorfismo, uma condição em que um mesmo indivíduo expressa características masculinas e femininas simultaneamente, mas de forma dividida, como se o corpo fosse um espelho. Esse tipo de variação ocorre quando há um erro genético logo após a fertilização, resultando em células com combinações diferentes de cromossomos sexuais. O resultado é um ser que, biologicamente, é metade macho e metade fêmea.

Embora o ginandromorfismo seja conhecido em outros grupos — como borboletas, abelhas e até aves — ele é raríssimo entre as chamadas migalomorfas, o grupo das aranhas mais antigas e robustas, que inclui as tarântulas. O registro de Damarchus inazuma é o primeiro caso documentado desse tipo dentro da família Bemmeridae, o que torna a descoberta especialmente notável para a ciência.

Mas o que realmente chama a atenção do público é a inspiração por trás do nome. O termo “inazuma” vem de um personagem do mangá e anime One Piece, criado por Eiichiro Oda, famoso por sua habilidade de alternar livremente entre os sexos. A escolha não foi apenas uma homenagem pop: os pesquisadores perceberam que o padrão de cores do personagem — laranja de um lado e branco do outro — reproduzia fielmente a divisão cromática observada na aranha. Um toque de humor e criatividade em meio à precisão da taxonomia científica.

O achado reforça como a ciência moderna tem se aproximado da cultura popular para comunicar descobertas de forma mais acessível e curiosa. Assim como dinossauros batizados em homenagem a músicos ou planetas com nomes inspirados em filmes, a Damarchus inazuma conecta o mundo microscópico ao imaginário coletivo.

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Além do fascínio estético, a descoberta oferece uma oportunidade para entender melhor como ocorrem os processos genéticos de diferenciação sexual. Estudos desse tipo ajudam a compreender não apenas os limites da biologia, mas também as variações naturais que desafiam noções fixas de gênero no reino animal.

Em um momento em que a biodiversidade enfrenta ameaças crescentes, encontrar uma espécie tão singular lembra o quanto ainda há de desconhecido nas florestas do Sudeste Asiático. A “aranha Frankenstein” é mais do que uma curiosidade científica — é um lembrete de que a natureza continua inventando personagens mais extraordinários do que qualquer ficção.