NASA avança na busca por atmosfera e água em planeta semelhante à Terra


O olhar humano sobre o cosmos acaba de ganhar mais profundidade com a ajuda do Telescópio Espacial James Webb, da NASA. Cientistas estão investigando o exoplaneta TRAPPIST-1 e, um mundo distante 40 anos-luz da Terra que orbita a estrela anã vermelha TRAPPIST-1. Entre os sete planetas rochosos desse sistema, descoberto em 2017, é justamente o planeta e que desperta maior interesse: sua posição em relação à estrela sugere que a presença de água líquida em sua superfície é teoricamente possível.

Usando o Telescópio Espacial James Webb, cientistas detectaram gás no distante planeta anão Makemake. - NASA / ESA / Southwest Research Institute / Ilustração de A. Parker

Mas ainda falta a peça central para confirmar essa hipótese: a existência de uma atmosfera.

Para investigar, a equipe direcionou o instrumento Near-Infrared Spectrograph do Webb para o sistema TRAPPIST-1 no momento em que o planeta e passava diante da estrela. Quando isso acontece, parte da luz estelar atravessa a possível atmosfera do planeta. Se houver gases, eles absorvem determinados comprimentos de onda, criando quedas específicas no espectro de luz detectado pelo telescópio. Essas “assinaturas” permitem aos cientistas não apenas verificar a existência de atmosfera, mas também descobrir sua composição.

O mesmo método já foi aplicado em outro planeta do sistema, o TRAPPIST-1 b. As medições mostraram que ele não possui atmosfera, dado que serve agora de comparação com as análises de TRAPPIST-1 e, ajudando os pesquisadores a distinguir sinais mais sutis.

Primeiros resultados e hipóteses

Segundo Néstor Espinoza, cientista do Space Telescope Science Institute em Baltimore e investigador principal do estudo, os primeiros quatro conjuntos de observações já oferecem uma base inédita de informações. A equipe “sente-se confiante” de que TRAPPIST-1 e não possui uma atmosfera primária — feita de hidrogênio e hélio remanescentes de sua formação. Isso provavelmente se deve à intensa atividade da estrela central, que emite flares frequentes capazes de “varrer” gases leves.

O cenário mais promissor é que o planeta tenha desenvolvido uma atmosfera secundária, mais densa, como aconteceu com a Terra. Esse tipo de cobertura gasosa poderia incluir compostos como dióxido de carbono ou nitrogênio, capazes de reter calor e estabilizar o clima.

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Sistema TRAPPIST-1 – Reprodução Wikipedia

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Outro ponto central da investigação é a possibilidade de água. Para a NASA, três cenários são plausíveis: o planeta pode ser completamente árido; pode abrigar vastos oceanos; ou concentrar gelo em seu hemisfério escuro. Isso porque TRAPPIST-1 e apresenta rotação sincronizada com a estrela, de modo que um lado permanece sempre voltado para a luz e o outro mergulhado em escuridão eterna.

Se houver água líquida, uma atmosfera secundária atuaria como aliada essencial, criando efeito estufa e evitando que a superfície congele ou aqueça em excesso. Essa condição é um dos pilares da habitabilidade, ou seja, da chance de o planeta sustentar vida como conhecemos.

A nova era da exploração

Ana Glidden, pesquisadora de pós-doutorado no Instituto Kavli de Astrofísica e Pesquisa Espacial do MIT, que lidera parte das análises sobre atmosferas em TRAPPIST-1 e, reforça o entusiasmo da comunidade científica. Para ela, é impressionante que já seja possível medir com tanta precisão a luz de planetas do tamanho da Terra a 40 anos-luz de distância. “Estamos em uma nova era de exploração”, afirma, destacando que essa investigação é apenas o início de uma longa jornada para entender mundos distantes.

A equipe publicou dois artigos científicos descrevendo os primeiros resultados, mas os dados completos ainda estão por vir. Cada nova observação promete trazer respostas e levantar novas perguntas.

Embora ainda não haja confirmação de água ou de atmosfera em TRAPPIST-1 e, o avanço metodológico já é marcante. Ele mostra como a astronomia se desloca da simples detecção de exoplanetas para a análise detalhada de suas condições ambientais. Se confirmada a existência de uma atmosfera secundária, o planeta poderá se tornar um dos principais candidatos na busca por sinais de vida fora da Terra.

Mais do que satisfazer a curiosidade humana, esse tipo de estudo abre caminhos para compreender como planetas evoluem, como se tornam habitáveis — ou não — e quais são os limites da resiliência em sistemas estelares muito diferentes do nosso.

No horizonte, a combinação de tecnologia de ponta, observações persistentes e colaborações científicas globais promete ampliar não apenas o mapa dos mundos possíveis, mas também o próprio entendimento de nosso lugar no universo.