Avanços em tecnologias ômicas prometem aprimorar imunoterapias contra o câncer

Autor: Redação Revista Amazônia

 

Tecnologias emergentes, conhecidas como “ômica espacial”, têm o potencial de desvendar os mecanismos de ação de novos medicamentos nas fases iniciais dos ensaios clínicos, o que pode acelerar o desenvolvimento de imunoterapias mais eficazes contra o câncer. Essa perspectiva foi apresentada por Thomas Marron, Diretor de Ensaios Clínicos de Fase Inicial e Imunoterapia no Tisch Cancer Institute da Escola de Medicina Icahn (EUA), durante o evento AACR on Campus Brazil, realizado em São Paulo e Ribeirão Preto na última semana.

A ômica espacial integra técnicas avançadas de imagem e sequenciamento de DNA para mapear processos biológicos em nível molecular. Isso possibilita a visualização da arquitetura celular e de eventos biológicos anteriormente inacessíveis.

Marron defende a necessidade de compreender o mecanismo de ação dos novos medicamentos já na primeira fase. Ele ressalta que, apesar das esperanças de cura para os pacientes com câncer, muitas vezes os resultados não são alcançados, especialmente no caso do câncer de fígado. Além disso, é preciso evitar medicamentos que causem toxicidade excessiva que impeça a recuperação do paciente. Infelizmente, a maioria dos agentes chega às fases dois ou três sem uma compreensão clara de seu mecanismo de ação.

Para Marron, as tecnologias de ômica espacial são fundamentais para entender o transcriptoma (conjunto de RNAs transcritos pelos genes) e o proteoma (conjunto de proteínas expressas), bem como a interação entre células do sistema imunológico, células tumorais e células do estroma (tecido conjuntivo que nutre e dá suporte a um órgão, uma glândula ou estruturas patológicas como um tumor).

Ele acredita que essas tecnologias permitirão a criação de um tipo de atlas que auxiliará na definição de intervenções em ensaios clínicos interativos, onde se testa com poucos pacientes e, com base no aprendizado, é possível definir o próximo passo.

Marron também enfatiza a importância da colaboração entre diferentes especialidades médicas. Ele observa que, no início da pandemia de COVID-19, ficou claro que existem muitos medicamentos e terapias biológicas aprovados em diferentes contextos e que, tanto na medicina quanto na indústria, há uma tendência ao trabalho isolado: cardiologistas não se comunicam com imunologistas ou oncologistas. No entanto, muitos desses medicamentos podem ser eficazes em diferentes contextos e podem ser reaproveitados e combinados de maneiras diferentes.

O cientista acredita que essa colaboração é fundamental para entender melhor o funcionamento do sistema imune humano e, assim, desenvolver imunoterapias mais eficientes. Como exemplo, Marron mencionou uma série de testes realizados com essa abordagem, conhecida como off-label, que se refere à prescrição de um medicamento para usos diferentes dos descritos na bula, ou seja, ainda não aprovados por agências reguladoras.

Terapias direcionadas

Em uma palestra no primeiro dia do evento, Renata Pasqualini, professora da Universidade Rutgers em Nova Jersey (EUA), discutiu uma estratégia desenvolvida por seu grupo para mapear a diversidade de receptores celulares presentes nos vasos sanguíneos. Resumidamente, o método consiste em injetar no organismo bilhões de partículas de um vírus que ataca apenas bactérias, os fagos, que são usados como vetores. Cada vírus carrega em seu genoma trechos de DNA distintos que codificam peptídeos de interesse. A afinidade entre esses peptídeos e as proteínas dos vasos de cada tipo de tecido determina a distribuição dos fagos no organismo. O sequenciamento do DNA dos fagos permite identificar peptídeos que se ligam apenas a certos tecidos, como os vasos dos tecidos gordurosos ou de tumores. Assim, é possível identificar marcadores endoteliais seletivos, que podem ser úteis para o desenvolvimento de medicamentos com alta especificidade, letais apenas para as células tumorais.

Pasqualini afirmou que, nos últimos anos, particularmente em tumores, seu grupo descobriu uma série de receptores específicos frequentemente expressos na camada vascular, mas que também podem atravessar para o pâncreas, para as células cerebrais, para as células da cabeça, abrindo um terreno muito fértil para a descoberta de marcadores.

Com base nessas informações, em um artigo de destaque publicado na revista Science, em 2011, Pasqualini e colaboradores relataram o desenvolvimento de um novo medicamento capaz de bloquear a irrigação sanguínea das células de gordura, fazendo com que elas deixem de receber nutrientes e oxigênio.

O estudo também levou a outras descobertas, como a relação entre a obesidade e a alta recorrência de tumores em pacientes com câncer de próstata e a identificação de um conjunto de aminoácidos capaz de se ligar a um receptor que está na membrana de macrófagos (células de defesa) que invadem os tumores de mama triplo-negativo, considerados dos mais agressivos.

O AACR on Campus é um programa de extensão cooperativa para profissionais em início de carreira promovido pela Associação Americana para Pesquisa do Câncer (AACR, na sigla em inglês) em parceria com a Universidade de São Paulo (USP). A iniciativa visa atrair profissionais em início de carreira para a área de oncologia, bem como promover a interação entre pesquisadores norte-americanos e jovens cientistas do Estado de São Paulo.


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