A emergência climática não se traduz apenas em gráficos, relatórios técnicos ou números sobre emissões. Ela é vivida diariamente por milhões de pessoas em seus territórios, que sentem os impactos da degradação ambiental em suas rotinas. Foi esse espírito que norteou o terceiro diálogo regional do Balanço Ético Global (BEG), realizado nesta segunda-feira (1º), em Nova Déli, na Índia.

O encontro reuniu 22 lideranças da Ásia, entre cientistas, ativistas, representantes de governos, empresas, mulheres e jovens. A condução ficou a cargo do indiano Kailash Satyarthi, ativista e vencedor do Prêmio Nobel da Paz, que ressaltou a urgência de repensar os caminhos atuais: “Nosso planeta está em chamas, e o tempo do ‘mais do mesmo’ acabou. Precisamos agir agora, mudando fundamentalmente nosso modo de vida, interrompendo a injustiça climática e inaugurando uma nova era de cooperação global.”
Ética e ação diante da crise climática
O BEG é uma das principais iniciativas preparatórias para a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças do Clima (COP30), marcada para novembro de 2025, em Belém do Pará. Mais do que debater metas e compromissos formais, os encontros buscam trazer à tona a dimensão ética das decisões climáticas.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, destacou que o processo amplia o alcance das negociações. “Nos diálogos do Balanço Ético Global, as conversas acontecem de forma aberta e democrática. Isso permite que soluções surjam a partir das vivências concretas, inclusive sobre como apoiar países e populações que correm o risco de desaparecer do mapa mundial”, afirmou.
Entre os compromissos em discussão estão o de triplicar a produção de energia renovável, duplicar a eficiência energética, encerrar o desmatamento e reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Também foi destaque o tema de perdas e danos, que afeta diretamente populações vulneráveis expostas a secas, enchentes e deslocamentos forçados.

VEJA TAMBÉM: A 88 dias da COP 30, o mundo respira a expectativa da Conferência Climática na Amazônia
O peso das vozes locais
Para Marina Silva, o Balanço Ético é uma forma de equilibrar a frieza dos relatórios técnicos com a realidade vivida em campo. “O que nós esperamos é que, no lugar apenas da realidade reportada em gráficos, possamos trazer a realidade real, da vida que sofre, descobre e realiza nos territórios”, reforçou.
Esse olhar conecta experiências diversas: desde agricultores afetados por eventos extremos até comunidades urbanas que enfrentam ondas de calor e falta de água potável. A ideia é que cada diálogo produza relatórios regionais com contribuições a serem consolidadas em um documento global, que servirá como referência externa para os negociadores da COP30 em Belém.
Uma construção global e coletiva
O encontro da Ásia foi o terceiro da série. O primeiro ocorreu em Bogotá, reunindo vozes da América do Sul, Central e Caribe, sob a coliderança da ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet. O segundo aconteceu em Londres, com a ex-presidente da Irlanda e referência mundial em justiça climática, Mary Robinson.
As próximas agendas estão marcadas para a África, onde o diálogo será conduzido pela ativista queniana Wanjira Mathai, e para a América do Norte, sob liderança da estadunidense Karenna Gore, fundadora do Center for Earth Ethics.
Além desses seis diálogos continentais, organizações da sociedade civil, governos locais e atores sociais podem organizar encontros autogestionados, utilizando a mesma metodologia. O objetivo é ampliar ao máximo a escuta das vozes que, historicamente, ficam de fora das negociações internacionais.
Pessoas no centro das negociações
Para o embaixador André Corrêa do Lago, presidente designado da COP30, a inovação do BEG está justamente na inversão de perspectiva. “Nas negociações internacionais, só os países falam. Mas, no fim das contas, o que importa são as pessoas”, ressaltou.
Ao final da jornada, o Balanço Ético Global entregará um relatório único com a síntese das reflexões vindas de todos os continentes. A expectativa é que esse documento sirva como contraponto às estatísticas oficiais, trazendo para dentro da COP30 um olhar humano, plural e ético sobre a crise climática.
Como concluiu Marina Silva, “temos recebido contribuições excelentes e potentes. O Balanço Ético Global é, antes de tudo, um espaço para que o mundo escute suas próprias vozes.”











































