Sob liderança do Brasil e com apoio de dez países parceiros, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (Tropical Forests Forever Fund – TFFF) avança para se tornar o maior mecanismo global de financiamento contínuo à conservação florestal. A confirmação do Banco Mundial como administrador e anfitrião interino do fundo marca um novo patamar na diplomacia ambiental e no desenho de instrumentos inovadores para enfrentar a crise climática.

O anúncio foi feito nesta terça-feira (21), após aprovação unânime do conselho diretor do Banco. A instituição será responsável por fornecer uma estrutura administrativa completa — com supervisão fiduciária, transparência e governança —, garantindo que os recursos do TFFF sejam geridos com credibilidade e previsibilidade. O arranjo permitirá iniciar operações antes do lançamento oficial do fundo, previsto para a COP30, em Belém, no próximo ano.
O TFFF nasce com o propósito de sustentar fluxos permanentes de financiamento para países e comunidades que comprovadamente conservem suas florestas tropicais. A iniciativa, idealizada pelo Brasil, foi apresentada pela primeira vez durante a COP28, em Dubai, e construída em diálogo com outros dez países — cinco detentores de florestas (Colômbia, Indonésia, Malásia, Gana e República Democrática do Congo) e cinco potenciais apoiadores.
Diferente de fundos ambientais baseados em doações, o TFFF opera por meio de investimentos de países, filantropias e empresas em uma carteira global de ativos sustentáveis. Os rendimentos dessa carteira, administrada por gestores internacionais, serão direcionados a nações tropicais elegíveis que mantiverem desmatamento abaixo da média mundial. Ao menos 20% de cada repasse deverá beneficiar povos indígenas e comunidades tradicionais, reconhecendo seu papel direto na preservação das florestas.
Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a decisão do Banco Mundial “transforma o TFFF de uma ideia em uma realidade operacional”. Haddad destacou que o rigor técnico e a liderança pessoal do presidente do Banco, Ajay Banga, conferiram à proposta a legitimidade necessária para se tornar um modelo de investimento climático de longo prazo.

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Segundo a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, o fundo representa “uma solução ousada e colaborativa” diante do déficit de financiamento ambiental global. “Precisamos investir cerca de US$ 282 bilhões por ano para proteger a natureza, mas dispomos de apenas um quarto disso. O TFFF pode gerar até US$ 4 bilhões anuais — quase três vezes o volume atual de financiamento internacional para florestas”, afirmou.
O chanceler Mauro Vieira ressaltou que o mecanismo é um exemplo concreto de inovação vinda do Sul Global, reforçando a consolidação de uma ordem internacional multipolar. “O Brasil investirá US$ 1 bilhão no TFFF e espera que, em Belém, outros países também se comprometam. Esse fundo simboliza um multilateralismo renovado, capaz de oferecer soluções transformadoras aos desafios do nosso tempo”, declarou.
A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, destacou o papel do Banco Mundial como parceiro na construção de um mecanismo de financiamento direto aos povos indígenas. “O protagonismo indígena é essencial. Essa parceria amplia nossa capacidade de implementar projetos sustentáveis e de fortalecer o papel das comunidades como guardiãs das florestas”, afirmou.
De acordo com Marcos Vinicius Chiliatto, diretor executivo que representa o Brasil no Banco Mundial, a decisão de hospedar o TFFF “está plenamente alinhada à missão do Banco de erradicar a pobreza em um planeta habitável”. Florestas tropicais saudáveis, reforçou, são vitais para alcançar esse objetivo.
A estrutura de governança do TFFF prevê um conselho diretor com 18 países, divididos igualmente entre nações florestais e países investidores, além de um conselho consultivo de povos indígenas e comunidades locais e um painel técnico-científico. Enquanto a sede institucional definitiva é definida, o Banco Mundial atuará como anfitrião interino, garantindo suporte operacional e coordenação das primeiras atividades.
O TFFF nasce em um contexto de urgência climática e busca mudar a lógica tradicional do financiamento ambiental, substituindo o modelo de doações pontuais por um fluxo constante e previsível de investimento. O governo brasileiro defende que essa arquitetura financeira inaugura uma nova geração de instrumentos multilaterais — capazes de conciliar desenvolvimento econômico, proteção da biodiversidade e justiça climática.
Ao reunir governos, investidores e comunidades em torno de um compromisso de longo prazo, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre se propõe a transformar a economia da conservação, convertendo o valor ecológico das florestas em base de prosperidade compartilhada. O lançamento na COP30, em Belém, deverá consolidar o Brasil como protagonista global na transição ecológica e no desenho de novas soluções financeiras para um planeta em equilíbrio.





































