Há quase dois anos, em 11 de novembro de 2023, a cidade de Belém foi escolhida para sediar a 30ª edição da conferência de clima da Organização das Nações Unidas, a COP30 — batizada nacionalmente como a COP da Floresta. Diferentemente de outras versões realizadas em capitais latino-americanas, Belém assume um papel singular: não apenas palco diplomático, mas também símbolo de uma nova economia para a Amazônia.
A localização não é mero detalhe. A escolha de Belém, uma metrópole histórica da região Norte e, ao mesmo tempo, periférica dentro das dinâmicas do capitalismo brasileiro, busca posicionar o Brasil como protagonista na construção de uma agenda global para a emergência climática. Aproximadamente 60 % do bioma amazônico está em solo brasileiro — e essa condição torna o país peça-chave no tabuleiro internacional das emissões de gases-efeito estufa.

Para que esse papel se transforme em desenvolvimento concreto para a região, porém, é preciso mais do que sediar a conferência: é preciso desenhar um projeto de desenvolvimento regional que conecte crescimento econômico, preservação da floresta tropical e inclusão social. É nesse contexto que a bioeconomia entra no centro da estratégia.
O conceito de bioeconomia — que, no âmbito da Amazônia, se aproxima de cadeias produtivas endógenas, baseadas em sociobiodiversidade, extrativismo sustentável, comunidades tradicionais e tecnologia — ganha força como modelo quase absoluto de desenvolvimento na região.
Na prática, isso significa valorizar produtos florestais não-madeireiros, sistemas agroflorestais, biotecnologias, agregação de valor no território e retenção de renda local, tudo isso reduzindo emissões e mantendo a floresta em pé.

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Dentro dessa agenda, a Região Metropolitana de Belém (RMB) aparece como peça estratégica. Como um centro urbano que conecta terras, rios, comunidades tradicionais e mercados, ela pode funcionar como “âncora produtiva e de comercialização” para a bioeconomia amazônica. A cidade pode mediar entre o que é produzido na floresta e o que chega aos mercados nacionais e internacionais.
Mas esse papel demanda superação de desafios históricos. Por décadas, o agroextrativismo amazônico foi negado como instrumento de desenvolvimento regional pelas políticas metropolitana e urbana, que muitas vezes privilegiaram modelos industriais externos ao bioma. Agora, a aposta é diferente: utilizar os recursos disponíveis para a COP30 para reformular o ecossistema de inovação da RMB em direção à bioeconomia.
Dois projetos exemplares ilustram essa mudança de rumo. O primeiro é o Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia, localizado nos antigos galpões do Porto Futuro II, em Belém — concebido como polo tecnológico, de pesquisa e de empreendedorismo vinculado à sociobiodiversidade amazônica. O segundo é o Distrito de Inovação e Bioeconomia de Belém, que propõe integrar a recuperação do Centro Histórico da cidade com fomento a startups, tecnologia e soluções urbanas alinhadas à bioeconomia.
Esses dois vetores — inovação e bioeconomia — são parte essencial da estratégia para que Belém não seja apenas a “cidade da COP”, mas sim um polo estrutural de desenvolvimento verde para a Amazônia.
No entanto, a interrogação permanece: e depois da COP, o que resta? Quando os holofotes se apagarem em dezembro, será a continuidade do compromisso que definirá se a RMB realmente se transformará. A história social e espacial da Amazônia mostra que Belém sempre atuou como mediadora: entre os territórios florestais e os mercados externos. O novo projeto exige que esse papel seja modificado — de mediador distante para protagonista local.
Restam dúvidas sobre o grau de comprometimento do Estado brasileiro, em todas as esferas, com uma agenda de desenvolvimento regional que realmente reposicione a Amazônia dentro do capitalismo brasileiro de forma menos desigual. Se essa aposta for de fato executada, a RMB poderá se tornar um laboratório de bioeconomia, onde floresta, comunidade e inovação se entrelaçam em um único modelo de futuro.







































