Belém inaugura o Parque de Bioeconomia e reposiciona o Pará no mapa da economia verde


Belém vive um momento de virada histórica. A cidade que um dia simbolizou a exploração desenfreada da floresta agora quer ser o epicentro de um novo ciclo econômico, baseado em inovação, conhecimento e conservação. O Governo do Pará acaba de inaugurar o Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia, considerado o maior polo de bioeconomia da América Latina e o primeiro do mundo com foco específico na bioeconomia florestal.

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O investimento de R$ 300 milhões, realizado por meio de uma parceria entre o Governo do Pará, a Vale, a Natura, o Fundo Vale e o programa Estrutura Pará, transformou parte do antigo porto de Belém em um complexo de ciência, tecnologia e negócios sustentáveis. A iniciativa faz parte do Plano Estadual de Bioeconomia (PlanBio) e é um dos principais símbolos da estratégia do estado para consolidar-se como referência global em desenvolvimento sustentável.

A floresta como motor da nova economia

Durante a inauguração, o governador Helder Barbalho ressaltou que o projeto representa uma mudança de paradigma: “A floresta deixa de ser vista como obstáculo e passa a ser motor de desenvolvimento sustentável”. A declaração reflete o salto observado na última década — de cerca de 200 empreendimentos ligados à bioeconomia em 2019 para mais de 800 em 2025. O crescimento, segundo o governo, é resultado direto de políticas públicas que integram conservação ambiental e geração de renda.

O parque foi concebido como um ecossistema de inovação amazônica. O Armazém 5 abriga o Centro de Negócios, que reúne o Centro de Sociobioeconomia e o Centro de Gastronomia Social, dedicado à valorização da cultura alimentar amazônica e à formação de empreendedores locais. Já o Armazém 6 abriga o Laboratório-Fábrica, com infraestrutura para pesquisa e produção experimental de alimentos, cosméticos e insumos florestais. Um Showroom de Inovação completa o espaço, aproximando cientistas, investidores e comunidades.

Para Raul Protázio Romão, secretário da Semas – Secretaria de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade, o parque é um divisor de águas. “Estamos construindo um ambiente em que ciência e saber tradicional se encontram. Aqui, ideias se transformam em soluções, e a floresta passa a ser sinônimo de prosperidade.”

Cooperação nacional e protagonismo amazônico

A inauguração foi marcada também pela assinatura de um Acordo de Cooperação Técnica entre o Governo do Pará e o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, com o objetivo de alinhar o PlanBio ao Plano Nacional de Desenvolvimento da Bioeconomia. A vice-governadora Hana Ghassan destacou que o momento simboliza a integração entre estado e União: “Iniciativas como essa mostram que a Amazônia pode liderar um novo modelo econômico, baseado na conservação e na inovação”.

Com a COP30 se aproximando, o parque ganha ainda mais relevância. Belém — que será sede da conferência — se posiciona como vitrine da economia verde e laboratório vivo de soluções para a transição ecológica. A revitalização dos antigos armazéns do Complexo Porto Futuro é um gesto simbólico: onde antes se exportavam matérias-primas, agora se exporta conhecimento e tecnologia.

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O valor econômico da floresta em pé

O conceito central da bioeconomia, e que guia o projeto, é simples e revolucionário: quanto mais floresta viva, maior o potencial econômico. Em vez de repetir o modelo extrativista tradicional, o Pará busca gerar valor a partir da conservação. Isso significa desenvolver produtos de base florestal — de alimentos a biocosméticos, biomateriais e fármacos —, estimular startups e conectar universidades, empresas e comunidades locais.

A Natura, pioneira em biotecnologia florestal e no uso de insumos amazônicos em seus produtos, é um exemplo de como o setor privado pode contribuir para esse novo paradigma. Sua participação no parque, junto à Vale e ao Fundo Vale, reforça o entendimento de que sustentabilidade e competitividade são hoje faces da mesma moeda.

Da extração à regeneração

O investimento de R$ 300 milhões pode parecer modesto diante da vastidão amazônica, mas tem um efeito multiplicador. O parque cria uma infraestrutura científica e tecnológica que atrai novos investidores e amplia a presença da região nas cadeias globais de inovação. A expectativa é que o modelo sirva de inspiração para outros estados e países que buscam conciliar prosperidade econômica e conservação ambiental.

A Letícia Moraes, vice-presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), reforçou o papel essencial das comunidades locais. “Durante muito tempo, duvidou-se que fosse possível viver com a floresta viva. Hoje, o Pará mostra que não só é possível, como é necessário.”

A declaração traduz o espírito do projeto: reconhecer os saberes tradicionais como parte estratégica da inovação amazônica. O conhecimento ancestral das populações ribeirinhas e indígenas não é um complemento — é o ponto de partida para uma bioeconomia enraizada no território.

Um novo ciclo para a Amazônia

Belém, marcada pelos antigos ciclos da borracha e da madeira, tenta agora inaugurar o ciclo da regeneração. A cidade transforma sua memória industrial em plataforma de futuro, unindo ciência, cultura e inclusão social. Se o projeto prosperar, o Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia pode se tornar não apenas um polo de pesquisa, mas um símbolo de um novo pacto entre a Amazônia e o mundo — um pacto em que o progresso é medido não pelo que se extrai da floresta, mas pelo que se preserva nela.