Plástico da COP30 em Belém vira tijolos, lixeiras e bancos para a cidade


Em Belém do Pará, a chegada da COP30, a 30ª conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, traz consigo uma iniciativa que vai além dos debates: transformar resíduos plásticos gerados durante o evento em bancos de praça, tijolos e lixeiras. A responsável por essa virada sustentável é a Concaves, Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis, de Belém, em parceria com a startup paraense FlexStone.

Três mulheres trabalhando na coleta de lixo reciclável, vestindo uniformes e luvas, em frente a um monte de garrafas e sacolas plásticas.

A proposta vai bem além da simples coleta seletiva. O plano é processar até sete toneladas por mês de plásticos pouco aproveitados comercialmente, material que, tradicionalmente, iria direto para aterros ou incineradores. A inovação está no maquinário desenvolvido pela FlexStone, que transforma esses plásticos em “britas ecológicas”: pequenas pedras artificiais que substituem minerais na construção civil, podendo servir de base para tijolos, mobiliários urbanos ou lixeiras. A tecnologia opera com alta temperatura e pressão, sem queima ou uso de água, características críticas em um contexto amazônico.

Para a cooperativa, a oportunidade abre caminho para negócio e dignidade. O catador Jonas de Jesus, cooperado há 22 anos, afirma que a iniciativa é “a realização de toda a união e o esforço dos cooperados”, mostrando que a coleta seletiva em Belém “é rentável e é um bom negócio para a cidade”. Já a presidente da Concaves, Débora Baía, destaca que, na região amazônica, “é uma solução essencial, porque já temos grande dificuldade logística para comercializar plástico”.

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A operação ganha fôlego com o evento. A expectativa é que boa parte do plástico reutilizável venha da Cúpula dos Povos, espaço paralelo à COP30 organizado pela sociedade civil entre 12 e 16 de novembro na Universidade Federal do Pará (UFPA), com público estimado em 15 mil pessoas. Também a Freezone, área com gastronomia e cultura, deverá contribuir com resíduos. A cooperativa vai trabalhar em turnos, inclusive à madrugada, para processar os materiais 24 horas por dia, em parceria com a Prefeitura de Belém e outras associações de catadores.

Além disso, a sede da Concaves, localizada próxima à travessia Belém-Arapari, tem 3.000 m² e está em reforma, com financiamento da Itaipu Binacional, para ampliar sua triagem e processamento durante o evento. Após a reforma, a capacidade será de 300 toneladas de materiais recicláveis por mês. Em 2024, a cooperativa já havia processado 469 toneladas de papel, 274 toneladas de plástico, 165 toneladas de metal e 84 toneladas de vidro.

No quadro maior das mudanças climáticas, a iniciativa de Belém mostra como resíduos urbanos e economia circular se entrelaçam: a transformação de plástico descartado em material de construção protege o ambiente e cria valor. E, mais importante, reforça a visibilidade e a valorização do trabalho de catadores, historicamente invisibilizados. Como afirma Débora Baía: “antes, como catadora, eu sempre dizia: ‘Quero que a minha filha estude, porque eu não quero vê-la na catação’. Hoje, eu digo o contrário. A minha filha está estudando, se tornando técnica em meio ambiente, e eu espero, sim, que ela esteja na Concaves.”

Se olharmos para além da COP30, esse esforço pode se tornar modelo para outras regiões da Amazônia Legal que enfrentam desafios logísticos e de mercado para resíduos plásticos. O que está em jogo não é só a redução dos danos ambientais, mas a construção de uma economia circular com protagonismo local, geração de emprego e real transformação urbana.