Brasil pode elevar cobertura florestal em 8 milhões de hectares até 2035


O Brasil tem nas mãos uma oportunidade rara: reverter a antiga trajetória de desmatamento e, até 2035, não apenas estancar a perda de florestas, mas efetivamente ampliar a cobertura verde do país. Um levantamento recente da coalizão de instituições formada pelo Instituto Arapyaú, Instituto Itaúsa, Indústria Brasileira de Árvores – Ibá, Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, Imazon, Amazônia 2030, CEBDS e Uma Concertação para a Amazônia revela que o Brasil poderia passar de cerca de 517 milhões de hectares de florestas para aproximadamente 525 milhões até 2035 — um ganho líquido de 8 milhões de hectares, o equivalente à área de duas Suíças.

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Esse cenário de expansão verde depende, no entanto, de uma conjunção de ações públicas e privadas: restauração de florestas nativas, plantios industriais bem planejados, silvicultura e sistemas produtivos integrados que não compitam com as terras destinadas à agricultura. O estudo destaca que, ao contrário de um dilema “floresta ou alimento”, é viável crescer em produção agropecuária e, ao mesmo tempo, ampliar a cobertura florestal — um fator estratégico para alterar o papel do Brasil no equilíbrio climático global.

A premissa subjacente é simples e profunda: em escala global, as florestas funcionam como um dos mecanismos mais eficazes para capturar gases de efeito estufa. O Brasil, que concentra cerca de 40% das florestas tropicais do planeta, conforme o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), carrega um papel decisivo nessa equação.

O estudo aponta dois trajetos possíveis para 2035. No primeiro — o cenário de base — o país manteria os níveis atuais de desmatamento e estratégias de restauração cresceriam pouco, resultando em quase nenhuma mudança líquida de carbono e uma provável pequena perda de estoque florestal. No segundo — o cenário “potencial” —, em que se atingem metas de desmatamento zero previstas na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira, e combinam-se esforços de restauração e silvicultura, seria possível não só manter, mas expandir o estoque de carbono em cerca de 1% — algo sem precedentes para o país.

Analiticamente, esse avanço exige uma mudança de paradigma: ver a floresta não apenas como “terra não usada” ou “obstáculo à produção”, mas como ativo econômico e climático estratégico. O relatório sugere que florestas públicas (unidades de conservação, terras indígenas) e privadas (reservas legais, Áreas de Preservação Permanente) dependem de um novo modelo de remuneração — que pague por evitar desmatamento, por proteger o que já existe e por restaurar o que foi degradado. Nesse contexto, o projeto do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) do governo brasileiro surge como uma peça-chave.

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Marcelo Camargo/Agência Brasil

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As projeções são bastante explícitas: no cenário mais otimista, a restauração saltaria de 600 mil hectares em 2025 para 15 milhões em 2035, e a silvicultura industrial de 17 milhões para 29 milhões de hectares. O plantio direto passaria de 10 milhões para 16 milhões de hectares, sobretudo em áreas degradadas que hoje servem como pasto de baixa produtividade.

Em suma, o estudo entrega uma mensagem clara: o Brasil pode abrir uma “trilha de recuperação” para suas florestas — um caminho que ligue conservação, produção, restauração e justiça socioambiental. E fazê-lo com realismo técnico, já que as iniciativas necessárias estão em andamento — resta apenas ampliar, escalar e conectar.

Essa virada não é apenas ambiental, mas também simbólica e política. No momento em que o país sediará a COP30 em Belém, e que debates globais se concentram nas soluções baseadas na natureza, o Brasil pode assumir a condição de potência florestal. Isso significa que não é apenas “país com floresta” — mas pode se tornar “país que transforma floresta em solução climática”.

Se o mundo assistir à Amazônia como fonte de crise, o Brasil pode mostrar que essa floresta — longe de ser excluída da produção ou da economia — pode se tornar sua maior vantagem estrutural no século XXI. E mais ainda: pode transformar hectares preservados e restaurados em estabilidade climática, em biodiversidade funcional, em economia da floresta de pé e em segurança para as próximas gerações.

Para que isso se concretize, serão essenciais políticas públicas diligentes, cooperação internacional, financiamento privado consistente, inovação em restauração e silvicultura, e, acima de tudo, a convicção de que floresta importa — não apenas para quem mora sob suas copas, mas para o mundo inteiro.