Brasil lidera emissões de ‘blue bonds’, títulos voltados para preservação hídrica

Autor: Redação Revista Amazônia

Destaque do Brasil na economia azul

O Brasil se destaca na chamada economia azul, voltada à preservação dos recursos hídricos, sendo o maior emissor de “blue bonds” – títulos de dívida destinados a projetos que envolvem a gestão sustentável da água. O país tem se beneficiado principalmente dos investimentos em saneamento, impulsionados pela concessão desses serviços ao setor privado. Segundo um relatório recente da Sustainable Fitch, divisão de sustentabilidade da Fitch Ratings, o Brasil ultrapassou a marca de US$ 100 milhões em emissões de títulos azuis.

Esses títulos são parte do mercado de green bonds, que financiam projetos com benefícios ambientais. No caso dos blue bonds, os recursos são direcionados exclusivamente para iniciativas ligadas à água, como a preservação de ecossistemas marinhos ou melhorias na infraestrutura de saneamento e tratamento de água.

Apesar de promissor, o mercado de blue bonds ainda é pequeno. Desde sua criação até junho de 2023, foram emitidos cerca de US$ 12,3 bilhões em dívidas com essa classificação, segundo dados da Fitch, representando menos de 1% do mercado de dívidas ESG (Ambiental, Social e Governança).

Até 2022, governos e instituições financeiras lideravam as emissões desse tipo de título. No entanto, desde o ano passado, empresas privadas começaram a ganhar espaço no setor. Um exemplo de destaque é a Aegea, empresa brasileira de saneamento, que emitiu mais de US$ 1,1 bilhão em 2023 para projetos sustentáveis. Neste ano, a Aegea fez novas emissões, somando US$ 692 milhões. Outras empresas do setor, como a Sabesp, com US$ 437 milhões, e a Sanepar, com US$ 124 milhões, também contribuíram para fortalecer a posição do Brasil no mercado.

Outra operação relevante foi realizada pela BRK Ambiental em 2022, que captou US$ 378 milhões para projetos de gestão sustentável da água, reforçando o protagonismo do país nesse segmento.

Desafios e barreiras no mercado azul

Apesar do crescimento, especialistas da Fitch apontam que, para a economia azul alcançar maior escala, é necessário maior clareza nos critérios de elegibilidade e definições dos projetos financiáveis. No setor de água doce, os parâmetros estão mais bem definidos, abrangendo fases do saneamento básico e tratamento de água. No entanto, projetos ligados à conservação marítima e oceânica ainda carecem de diretrizes claras, o que dificulta a atração de investidores.

“Ainda há uma série de atividades oceânicas que não estão contempladas nas taxonomias regionais, como a da União Europeia ou a Climate Bond Initiative. Essa lacuna está ligada à falta de compreensão técnica sobre o impacto ambiental dessas atividades, tornando difícil avaliar sua elegibilidade”, afirma o relatório da Fitch.

A agência analisou as principais taxonomias sustentáveis, incluindo as da União Europeia, da China e de associações asiáticas, e constatou que enquanto há menções à ampliação da oferta de água e produtos “ocean-friendly”, projetos relacionados à poluição marinha, por exemplo, são abordados apenas na taxonomia chinesa. Já iniciativas voltadas para adaptação climática em regiões costeiras ou turismo sustentável marinho não aparecem em nenhuma dessas diretrizes.

Oportunidades de diversificação

O aumento de emissões corporativas de blue bonds pode contribuir para a diversificação do portfólio de investidores, especialmente em mercados emergentes como a América Latina. No entanto, escalar o mercado ainda é um desafio, já que há uma carência de projetos prontos para investimento no setor marinho e o mercado ainda precisa de maior confiança para crescer.

Segundo a Fitch, há um número crescente de gestores de ativos interessados em incluir blue bonds em suas estratégias de renda fixa como forma de diversificar investimentos, ao mesmo tempo em que contribuem para impactos ambientais e sociais positivos, especialmente na preservação dos recursos hídricos e dos oceanos.

Assim, o Brasil, ao liderar o mercado de blue bonds, se coloca em uma posição estratégica na economia azul, com potencial de impulsionar investimentos globais na preservação dos recursos hídricos e enfrentar desafios climáticos futuros.


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