O futuro da água no Brasil se desenha com contornos de alerta e urgência. Um recente estudo do Instituto Trata Brasil em parceria com a EX Ante Consultoria lança um panorama inquietante: até 2050, muitas cidades podem enfrentar desabastecimento de água, resultado da combinação entre mudanças climáticas e sistemas de abastecimento que permanecem vulneráveis.

Na média urbana brasileira, a previsão aponta para uma queda de 3,4% na disponibilidade de água ao longo de um ano — o que significa, em termos práticos, que as torneiras podem secar ou os serviços serem interrompidos por cerca de 12 dias. Em regiões sujeitas a alto grau de aridez, como partes do Nordeste e do Centro-Oeste, o cenário se agrava: ali a restrição pode superar 30 dias anuais. Tal perspectiva não é apenas simbólica — ela reflete a realidade de populações que verão seus períodos secos prolongados, abastecimentos mais fracos, e o risco crescente de se verem sem água.
Esse panorama é construído com base em variáveis gritantes. Se o Produto Interno Bruto crescer a 2,7% ao ano e as perdas no atual sistema de abastecimento se mantiverem, será preciso quase 60% mais água tratada em 2050 do que foi produzida em 2023, para atender à demanda projetada. Ao mesmo tempo, a temperatura máxima tende a subir cerca de 1 °C, e a mínima cerca de 0,47 °C, enquanto os dias de chuva diminuem e as precipitações se tornam mais intensas e irregulares — combinação que favorece o aumento da aridez, e a expansão de zonas de semiárido ou mesmo desertificação.

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Não é um cenário distante ou abstrato. É uma fotografia de futuro que exige decisões hoje. Para a presidente executiva do Trata Brasil, Luana Pretto, cabe ao país “agir agora” para evitar que o acesso à água se transforme em privilégio: reduzir as perdas no sistema, revisar o planejamento das redes, priorizar a eficiência e gerir os recursos hídricos de modo sustentável.
Mais do que números ou projeções, o estudo chama atenção para dois vetores centrais: a falta de água não decorre apenas da escassez natural, mas sobretudo de sistemas frágeis e mal preparados para enfrentar o clima em mudança; e as desigualdades regionais se aprofundarão se nada for feito — quem já vive em zonas áridas ou com infraestrutura fraca será o que sofrerá primeiro e com mais gravidade.
Em suma, o abastecimento de água no Brasil até 2050 surge como um teste de resiliência: das cidades, das políticas públicas, das empresas de saneamento e dos próprios cidadãos. O país está diante de uma encruzilhada: ou se antecipam os investimentos e reformas para tornar o sistema mais robusto e eficiente — e adaptado ao novo clima — ou os racionamentos e falta de água deixarão de ser exceção e passarão a fazer parte da rotina de muitas regiões. A pergunta que permanece não é mais se haverá risco, mas quando e onde ele se dará — e se estaremos preparados para enfrentá-lo.







































