As mudanças climáticas, uma vez mais, impactam os oceanos, desencadeando a quarta onda de branqueamento em massa dos recifes de corais em 2024. A Coral Reef Watch, uma organização de monitoramento de corais, emitiu um alerta abrangente sobre esse fenômeno para todo o hemisfério Sul. Na Austrália, a Grande Barreira de Corais já está sofrendo os efeitos, com mais de 1.000 quilômetros de corais atingidos, conforme relatórios do jornal The Guardian. No Brasil, o projeto Coral Vivo, reconhecido por suas pesquisas e esforços de conservação, monitora os primeiros sinais de branqueamento ao longo da costa.
Miguel Mies, oceanógrafo e líder do projeto Coral Vivo, explica que os corais, organismos vivos sensíveis, dependem de um equilíbrio delicado na temperatura da água para sobreviver. Esses seres vivos mantêm uma relação simbiótica com microalgas chamadas zooxantelas, que fornecem pigmentação e nutrientes essenciais. Quando as temperaturas da água aumentam, as zooxantelas produzem substâncias prejudiciais aos corais, interrompendo essa associação e resultando no branqueamento, o que leva a uma deficiência energética.
Embora o branqueamento seja um sinal de estresse para os corais, não significa necessariamente a morte imediata. A morte ocorre quando o estresse térmico é prolongado e intenso demais, impedindo a recuperação da relação simbiótica com as zooxantelas.
O evento atual de branqueamento em massa é uma consequência direta das mudanças climáticas antropogênicas, exacerbadas pelo fenômeno do El Niño modificado, que se tornou mais intenso. O aumento da frequência e intensidade das ondas de calor representa um desafio significativo para a recuperação dos recifes de coral.
O projeto Coral Vivo já detectou os primeiros sinais de branqueamento ao longo da costa brasileira, começando em Arraial do Cabo, Rio de Janeiro. Os pesquisadores esperam um branqueamento ainda mais pronunciado do que o registrado entre 2019 e 2020, quando quase 80% dos recifes em Ubatuba, litoral de São Paulo, foram afetados. Este ano, os corais de Fernando de Noronha (PE) e Atol das Rocas (RN) devem ser os mais impactados.
Mies adverte que, nos próximos 35-40 anos, cerca de 60% dos corais em todo o mundo poderão ser perdidos. Considerando que uma em cada quatro espécies marinhas depende dos recifes de coral, a perda desses ecossistemas terá um impacto devastador na biodiversidade marinha e em setores econômicos, como a pesca e a indústria farmacêutica, que dependem dos corais.
Para Mies, a criação de unidades de conservação é fundamental para a proteção dos corais. Embora sejam exploradas por fenômenos como o branqueamento em massa, essas áreas oferecem um refúgio crucial para os corais se fortalecerem e se recuperarem. Além disso, a redução das emissões de poluentes na atmosfera é essencial para combater as mudanças climáticas e proteger os recifes de coral.
Em última análise, a conscientização global sobre a realidade das mudanças climáticas é crucial. Não há solução mágica para esses desafios, mas é essencial trabalhar em prol de um planeta mais limpo e sustentável.