Rondônia, conhecido como o berço dos Robustas Amazônicos, é hoje um dos principais polos de produção de café no Brasil. Essa variedade, que combina características do café conilon e do robusta, surgiu de um processo de adaptação e melhoramento genético que começou na década de 1970, quando produtores de Minas Gerais, Paraná e Espírito Santo trouxeram sementes de conilon para a região.
Mais tarde, em 1990, a Embrapa Rondônia introduziu materiais genéticos 100% robusta, provenientes do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas (SP). A mistura dessas variedades deu origem aos Robustas Amazônicos, que se adaptaram perfeitamente ao clima e aos solos da Amazônia.
Segundo Marcelo Curitiba, pesquisador da Embrapa Café, esses cafeeiros híbridos são resultado de cruzamentos naturais realizados por agricultores da região, que aprenderam técnicas de clonagem e selecionaram plantas com alto potencial produtivo. “Esses materiais genéticos se tornaram a base para a renovação do parque cafeeiro da Amazônia nos últimos dez anos”, explica Curitiba. Hoje, os Robustas Amazônicos representam uma importante fonte de renda para milhares de famílias rurais.
O interesse crescente por esses cafés clonais levou a Embrapa Rondônia a iniciar, em 2003, estudos para melhorar e caracterizar geneticamente esses materiais. Em parceria com a Embrapa Acre, produtores rurais e instituições de ensino, a pesquisa já resultou na recomendação de 10 cultivares de café clonal para a Amazônia. Essas variedades foram avaliadas em relação a produtividade, resistência a doenças, ciclo de maturação, tamanho dos grãos e qualidade da bebida, entre outros aspectos.
“Conhecer as características de cada clone permite ao agricultor escolher o que melhor se adapta aos seus objetivos de produção”, destaca Curitiba. Além disso, a diversificação do cultivo com diferentes materiais clonais é essencial para garantir a sustentabilidade das lavouras.
A pesquisa também gerou informações técnicas valiosas sobre o manejo das plantações, incluindo práticas de adubação, controle de pragas e doenças, monitoramento do estresse hídrico e técnicas de colheita e pós-colheita. Esse conhecimento tem sido compartilhado com cafeicultores e profissionais da extensão rural, consolidando a cafeicultura amazônica como uma atividade sustentável e economicamente viável.
Entre os clones desenvolvidos pela Embrapa, alguns se destacam pela qualidade excepcional da bebida. Segundo Enrique Alves, pesquisador da Embrapa, técnicas como colheita cuidadosa, secagem lenta e processamento em via úmida com fermentação autoinduzida resultam em cafés com aromas agradáveis, doçura, corpo aveludado e sabores marcantes. “Essas características, somadas à origem amazônica e à produção sustentável, abrem portas para mercados diferenciados, tanto no Brasil quanto no exterior”, ressalta Alves.
Apesar do sucesso dos Robustas Amazônicos, o cultivo comercial de café clonal ainda é praticado por apenas 19,9 mil famílias rurais na Amazônia, segundo o último censo agropecuário do IBGE. Para ampliar a produção, a Embrapa tem investido na transferência de tecnologias para outros estados, como Ceará, Piauí, Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais. Atualmente, além dos 10 clones já recomendados, outros 50 materiais genéticos estão em avaliação em Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Amapá e Mato Grosso.
Outro fator crucial para a expansão da cafeicultura na Amazônia é a produção de mudas clonais de alta qualidade. A Embrapa tem apoiado a formação de uma rede de viveiristas credenciados pelo Ministério da Agricultura (Mapa), garantindo a multiplicação de clones com padrões genéticos e fitossanitários adequados.
Com características únicas e um potencial enorme, os Robustas Amazônicos estão conquistando espaço no mercado nacional e internacional. A combinação de pesquisa científica, práticas sustentáveis e o trabalho dedicado dos agricultores locais tem transformado a Amazônia em uma região promissora para a produção de cafés especiais.
Para os produtores, a aposta nos Robustas Amazônicos não só garante uma fonte de renda estável, mas também contribui para a preservação do bioma amazônico. “Esses cafés representam uma oportunidade única de conciliar desenvolvimento econômico e conservação ambiental”, conclui Marcelo Curitiba.
Com o apoio contínuo da pesquisa e a expansão para novas regiões, os Robustas Amazônicos prometem continuar escrevendo uma história de sucesso, levando o sabor e a qualidade da Amazônia para o mundo.
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