Carbono social: SEBRAE remunera pequenos produtores por sustentabilidade na Amazônia


Em um momento em que o mercado global de carbono clama por maior transparência, rastreabilidade e um impacto social mensurável, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) lançou, durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) em Belém (PA), o inovador Projeto Carbono Social. Esta iniciativa é um marco no fortalecimento do mercado voluntário de carbono no Brasil, pois converte diretamente as práticas sustentáveis de pequenos produtores e comunidades amazônicas em créditos de carbono de alto valor e totalmente rastreáveis. O lançamento ocorreu no estande da instituição, localizado na Green Zone, no dia 18 de novembro.

Foto: Divulgação/Sebrae

O Carbono Social se posiciona como uma rota de desenvolvimento inclusivo que busca solucionar o dilema entre conservação ambiental e geração de renda. O foco do projeto é claro: reconhecer e remunerar de forma justa aqueles que mantêm a floresta em pé, ligando a conservação da Amazônia diretamente à prosperidade econômica das comunidades que a habitam.

Décio Lima, presidente do Sebrae, define o projeto como uma poderosa ferramenta de transformação: “O carbono social é uma rota de desenvolvimento inclusivo que reconhece quem cuida da floresta.” Esta abordagem não apenas valida o papel crucial dos pequenos produtores na mitigação das mudanças climáticas, mas também integra a inclusão produtiva e a valorização das comunidades como pilares essenciais do financiamento verde.

Tecnologia e rastreabilidade: a ponte para o mercado

Um dos diferenciais mais significativos do projeto é sua base tecnológica. O Carbono Social utiliza uma avançada plataforma WebGIS de inteligência territorial. Essa ferramenta integra um vasto conjunto de dados socioambientais, produtivos e de carbono, mapeando com precisão a atuação dos agricultores e das comunidades envolvidas.

A plataforma WebGIS funciona como uma ponte digital, conectando iniciativas de manejo sustentável, sistemas agroflorestais e áreas conservadas diretamente a mercados, financiamentos e políticas públicas. Bruno Quick, diretor técnico do Sebrae, explica o papel catalisador do modelo: “O modelo funciona como uma ponte entre quem preserva e quem busca compensar as emissões.” Ao garantir a rastreabilidade e a transparência do impacto socioambiental, o projeto atende à crescente demanda de empresas e investidores por créditos de carbono de alta integridade, fugindo das críticas de greenwashing que rondam o mercado voluntário.

b1e777d8-f88a-4d91-9a99-9efd06d2fa55-400x225 Carbono social: SEBRAE remunera pequenos produtores por sustentabilidade na Amazônia
Foto: Sergio Moraes/COP30

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O piloto na amazônia e o potencial de expansão

O projeto piloto, lançado neste ano, demonstra a viabilidade e o potencial de escala da iniciativa. Ele envolve 150 agricultores familiares em uma área total de 15 mil hectares. Desse total, 8,5 mil hectares estão sob manejo sustentável, incluindo a implementação de sistemas agroflorestais e a proteção de áreas de conservação.

O papel do Sebrae nesse piloto é multifacetado: oferece capacitação técnica aos produtores, realiza o mapeamento produtivo e, crucialmente, estabelece os mecanismos financeiros que garantem que a receita gerada pela venda dos créditos de carbono retorne de forma integral e direta às comunidades.

O desenvolvimento do Carbono Social é resultado de parcerias estratégicas com organizações especializadas: a Equipe de Conservação da Amazônia (Ecam), a ReSeed e a Social Carbon. Essa colaboração multissetorial garantiu a robustez técnica, a certificação e a valorização social do crédito gerado. Por ser um modelo replicável e adaptável, o Carbono Social possui um vasto potencial de expansão para outros biomas brasileiros, respeitando, contudo, as particularidades e as necessidades específicas de cada território.

Articulando parcerias globais

A COP30 serve como uma plataforma de articulação para o Sebrae. A instituição está buscando ativamente novas parcerias internacionais com o objetivo de ampliar o alcance do projeto, garantir novos fluxos de financiamento e, ao mesmo tempo, fortalecer o papel de liderança do Brasil na construção de um mercado global de carbono que seja genuinamente inclusivo e rastreável.

O Carbono Social não é apenas um mecanismo de compensação; é um modelo de capitalização das externalidades positivas geradas pelos pequenos negócios sustentáveis, transformando a conservação ambiental em um ativo econômico tangível para as populações tradicionais e agricultores familiares. Ao integrar tecnologia avançada, finanças verdes e valorização humana, o projeto lança um novo padrão para o mercado de carbono, colocando o desenvolvimento social e a justiça climática no centro da equação econômica.