Comunidades do Acre inovam na produção de mudas de castanha-do-pará


Técnica com miniestufas desenvolvida pela Embrapa permite a pequenos extrativistas produzir mudas de forma acessível e eficiente, fortalecendo a regeneração da floresta amazônica.

Acre inova com miniestufas na produção de castanha-do-pará

Uma solução acessível e eficaz

Em comunidades isoladas do Acre, no coração da Amazônia, uma técnica simples está transformando a produção de uma das espécies mais simbólicas da floresta: a castanha-do-pará (Bertholletia excelsa).

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Mudas de castanha-do-pará prontas para serem plantadas.

Desenvolvida por pesquisadores da Embrapa, em parceria com extrativistas locais, a técnica utiliza miniestufas feitas com baldes plásticos reaproveitados para facilitar a germinação e o crescimento de mudas em regiões de difícil acesso.

Desafios históricos superados com inovação

A produção de mudas da castanha-do-pará sempre enfrentou obstáculos: dormência prolongada das sementes, ataque de roedores, necessidade de viveiros estruturados e mão de obra qualificada. Isso tornava o cultivo quase inviável em regiões isoladas.

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Com a técnica das miniestufas, esses desafios são superados. Baldes de 20 litros, com furos para ventilação, são preenchidos com substrato úmido (como serragem ou terra). As sementes são inseridas em camadas, simulando um ambiente ideal de umidade e calor, favorecendo a germinação.

Capacitação e autonomia para extrativistas

Desde sua implementação, mais de 360 extrativistas no Acre foram treinados no uso da técnica. A adesão tem sido maior em áreas de reservas extrativistas e assentamentos, onde o acesso a viveiros tradicionais é escasso.

Segundo Eneide Taumaturgo, da Secretaria de Agricultura do Acre, “o custo é mínimo, e os resultados são consistentes. As comunidades conseguem produzir sem depender de insumos externos.”

Do viveiro comunitário ao mercado

Na Reserva Extrativista Chico Mendes, a engenheira agrônoma Joziane Evangelista adaptou a técnica para um viveiro comunitário e iniciou o processo de registro no Renasem (Registro Nacional de Sementes e Mudas).

Além de contribuir para a regeneração de castanhais degradados, a venda de mudas se tornou uma nova fonte de renda local. Joziane também utiliza a técnica como ferramenta pedagógica para formar jovens em práticas de manejo sustentável.

Etapas da produção com miniestufas

  1. Coleta seletiva: sementes de no mínimo 20 árvores diferentes, preferencialmente produtivas.
  2. Teste de viabilidade: sementes que afundam em água são selecionadas.
  3. Preparo: substrato úmido no balde, com camadas de sementes.
  4. Germinação: entre 2 e 4 semanas em ambiente protegido do sol.
  5. Transplante: brotos são descascados e transferidos para recipientes maiores.
  6. Estufa opcional: cobertura com plástico transparente para manter umidade e temperatura.

Aspectos legais e inclusão produtiva

Pequenos produtores que comercializam até 10 mil mudas por ano estão isentos do registro obrigatório no Renasem, conforme previsto na Lei nº 10.711/2003. Isso favorece a inclusão produtiva de extrativistas e agricultores familiares.

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Pesquisa e coleta de dados em uma floresta tropical

Para ampliar o acesso à técnica, a Embrapa disponibiliza um curso gratuito na plataforma e-Campo, com vídeos, apostilas e fóruns com os próprios pesquisadores.

Benefícios ecológicos e sociais

A castanha-do-pará é uma espécie-chave nos ecossistemas amazônicos. Seu cultivo promove biodiversidade, favorece a presença de fauna silvestre e ajuda na retenção de carbono.

Além disso, seu plantio em áreas degradadas contribui para a recuperação do solo, proteção de recursos hídricos e geração de microclimas que beneficiam outras culturas.

Socialmente, a técnica fortalece a autonomia das comunidades locais, permitindo que a produção de mudas se torne uma atividade economicamente viável e ambientalmente sustentável.