Mobilidade verde: A mega coalizão do transporte se une na COP30 para descarbonizar o Brasil


A luta global contra a crise climática exige que todos os setores da economia redefinam suas operações. No Brasil, esta urgência se manifesta de forma decisiva no setor de transportes, historicamente dependente de combustíveis fósseis. Na efervescência da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém, emergiu um compromisso de peso: a Coalizão para a Descarbonização dos Transportes, que acaba de alcançar a impressionante marca de 121 adesões.

Marcello Casal JrAgência Brasil

Essa aliança multissetorial — que engloba empresas privadas, concessionárias de serviços públicos, secretarias municipais e diversas associações ligadas à mobilidade — não se contenta com promessas tímidas. O pacto estabelece um objetivo ambicioso e mensurável: a redução em até 70% das emissões de gases do efeito estufa (GEE) do setor até 2050. Este compromisso colossal representa um passo fundamental para o cumprimento das metas climáticas do Brasil e sinaliza que a transformação da matriz logística nacional é inevitável.

A Magnitude do Desafio e a Ambição da Meta

O transporte é o segundo maior emissor de carbono no país e peça central na economia e na vida urbana. Atualmente, o setor é responsável por cerca de 11% das emissões nacionais, despejando aproximadamente 260 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO₂e) na atmosfera anualmente. O plano da Coalizão, delineado em 90 ações detalhadas, projeta que a meta de 70% de redução culminará no corte de cerca de 287 milhões de toneladas de CO₂e até o meio do século.

A cifra demonstra a escala da ambição e o profundo impacto que a descarbonização pode ter no balanço de GEE do Brasil. A transformação não envolve apenas a substituição de motores, mas uma revisão completa da infraestrutura, da logística de cargas e do planejamento urbano. É um esforço que exige capital intensivo, inovação tecnológica e, acima de tudo, coordenação política e empresarial.

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Divulgação – COP30

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Liderança e Estrutura Estratégica da Coalizão

A força motriz por trás desta iniciativa, que nasceu em 2024, reside na articulação de quatro pilares institucionais de peso: a Confederação Nacional do Transporte (CNT), o Observatório Nacional de Mobilidade Sustentável, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e a Motiva, uma empresa focada em serviços de infraestrutura para mobilidade. A união de entidades do agronegócio, da indústria, de serviços e do poder público sublinha a compreensão de que a descarbonização não é um custo, mas sim uma condição para a competitividade futura do país.

A adesão de 121 parceiros reflete uma rara convergência de interesses entre o setor privado, que busca segurança regulatória e acesso a tecnologias verdes, e o setor público, que precisa de apoio técnico e financeiro para implementar mudanças estruturais em escala municipal e regional.

As Seis Frentes de Transformação e o Roteiro de Ação

O plano de ação da Coalizão, lançado em maio, funciona como um roteiro detalhado para a transição energética e logística do país. As 90 propostas estão estrategicamente divididas em seis frentes, garantindo que a transformação seja holística e atinja todos os modais de transporte:

  1. Infraestrutura e Interseccionalidades: Foco na modernização e no planejamento integrado.
  2. Mobilidade Urbana: Priorização de soluções de baixo carbono para o transporte coletivo e individual nas cidades.
  3. Transporte Rodoviário: Maior desafio devido à predominância deste modal, exigindo substituição de frotas.
  4. Transporte Ferroviário: Estímulo à expansão e utilização da malha, um modal intrinsecamente menos poluente para longas distâncias.
  5. Transporte Aéreo: Buscando alternativas como o Combustível Sustentável de Aviação (SAF).
  6. Transporte Aquaviário e Cabotagem: Otimização e adoção de tecnologias limpas em portos e embarcações.

Entre as propostas de maior impacto, destacam-se a revisão urgente da matriz logística, para balancear o sistema em favor dos modais ferroviário e aquaviário, o estímulo maciço ao uso de biocombustíveis (aproveitando a expertise e a capacidade produtiva brasileira) e a ampliação da eletrificação de frotas. Este último ponto é crucial, pois o Brasil possui uma das matrizes elétricas mais limpas e renováveis do mundo, o que potencializa o impacto positivo da adoção de veículos elétricos.

Integrando Compromisso Privado à Política Pública Nacional

Um dos aspectos mais estratégicos da Coalizão é sua ativa interlocução com o governo federal. O grupo mantém diálogo aberto com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, o Ministério dos Transportes e o Ministério de Portos e Aeroportos.

Este engajamento visa garantir que as propostas técnicas e setoriais da Coalizão sejam incorporadas ao Plano Nacional sobre Mudança do Clima, o documento oficial que o Brasil apresenta e ratifica na COP30. Ao transformar as sugestões da indústria em políticas de Estado, a aliança assegura que a descarbonização do transporte não seja apenas uma iniciativa de mercado, mas um projeto nacional de longo prazo, com previsibilidade e segurança jurídica para investimentos.

A Coalizão para a Descarbonização dos Transportes, com suas 121 adesões, representa mais do que um número na COP30. Ela simboliza a maturidade do setor produtivo brasileiro em assumir a responsabilidade climática, apresentando um plano de ação robusto e articulado para remodelar o transporte, pavimentando o caminho para um futuro logístico que seja, ao mesmo tempo, eficiente e ecologicamente sustentável.