Ibama combate caça ilegal no Tapajós e resgata quelônios ameaçados


Entre igarapés e praias de areia clara do rio Tapajós, no Pará, uma operação recente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) trouxe à tona tanto a gravidade da caça ilegal na Amazônia quanto os esforços de resistência para proteger a biodiversidade local. Em pouco mais de uma semana de ações de fiscalização, os agentes ambientais conseguiram resgatar 33 quelônios vivos, incluindo espécies ameaçadas como a tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa), o tracajá (Podocnemis unifilis) e o pitiú (Podocnemis sextuberculata).

CPRH/Divulgação

Todos os animais apreendidos foram devolvidos ao rio, garantindo sua sobrevivência e fortalecendo o equilíbrio ecológico de uma região onde a pressão humana sobre a fauna ainda é intensa. Como parte do Programa Quelônios da Amazônia (PQA), os quelônios resgatados foram identificados e marcados. Esse procedimento técnico permite o monitoramento contínuo das populações e ajuda a identificar reincidências de captura. Foi o que ocorreu, por exemplo, com uma fêmea jovem de tartaruga que, após ser capturada em duas ocasiões diferentes, foi devolvida com segurança ao seu habitat.

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Quelônios salvos pelo Ibama durante fiscalização no rio Tapajós (PA) – Foto: Fiscalização/Ibama

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Um retrato das ameaças

Apesar das vitórias pontuais, a operação também revelou os danos provocados pela caça ilegal. Durante a fiscalização, a equipe encontrou 11 tartarugas mortas. Em um gesto pragmático e ecológico, seus corpos foram devolvidos ao rio para servirem de alimento a outras espécies, fechando um ciclo natural interrompido pela ação humana.

Outro dado preocupante foi a apreensão de quatro jacarés-açu (Melanosuchus niger), já sem pele, evidência direta de caça predatória. O animal, que pode ultrapassar seis metros de comprimento, é considerado peça-chave nos ecossistemas aquáticos amazônicos, regulando populações de peixes e outros animais. Sua retirada ilegal impacta cadeias inteiras de equilíbrio ecológico.

Apreensões e penalidades

A operação não se restringiu ao resgate de fauna. Foram apreendidos dois barcos de madeira e um motor estacionário com rabeta, equipamentos usados pelos caçadores para acessar áreas remotas. O motor será destinado à unidade do Ibama em Santarém, reforçando a estrutura do órgão para futuras operações. Além disso, cinco espinheis — instrumentos de pesca predatória adaptados para capturar animais maiores — foram destruídos no local.

Cinco pessoas foram autuadas por crimes ambientais, e as multas aplicadas somaram inicialmente 165 mil reais. Com os agravantes previstos na legislação, os valores devem ultrapassar a marca de R$ 1 milhão. Dois adolescentes que estavam no barco com o grupo foram encaminhados à Vara da Infância e Juventude de Itaituba, evidenciando ainda a dimensão social do problema: a presença de menores em atividades ilícitas ligadas à exploração ambiental.

Conservação em disputa

O resgate e a devolução dos quelônios, por mais simbólicos que sejam, mostram o desafio de manter vivas espécies cuja carne e ovos ainda são valorizados em mercados ilegais. Historicamente, esses animais foram base alimentar de comunidades amazônicas, mas a pressão de caçadores comerciais e o comércio clandestino ampliaram as ameaças, tornando algumas populações críticas.

Nesse contexto, o Programa Quelônios da Amazônia tem se consolidado como uma das principais frentes de conservação da fauna aquática brasileira. Criado na década de 1970, o programa já possibilitou a soltura de milhões de filhotes em rios da Amazônia e vem apostando na educação ambiental, no monitoramento científico e na cooperação com comunidades ribeirinhas.

A mensagem da operação

A ação no rio Tapajós deixa uma mensagem clara: a fiscalização continua sendo essencial para conter práticas que ainda insistem em sobreviver à margem da lei. O resgate dos quelônios e a apreensão de jacarés não são apenas episódios pontuais, mas um lembrete da vulnerabilidade da fauna amazônica diante da ganância humana.

Mais do que aplicar multas, o esforço do Ibama tem um caráter pedagógico e dissuasório. Cada barco apreendido, cada armadilha destruída e cada animal devolvido à natureza representam não apenas um resultado imediato, mas um recado a caçadores e traficantes: a exploração ilegal da biodiversidade amazônica terá consequências.

Em uma região marcada por contrastes, onde comunidades dependem dos rios e ao mesmo tempo sofrem com os impactos da exploração predatória, a atuação integrada de órgãos ambientais continua sendo um dos pilares da preservação. A operação em Itaituba e Santarém reforça que a Amazônia é um território em disputa, e que proteger sua fauna é, ao mesmo tempo, defender o patrimônio natural e o futuro das próximas gerações.