Como funciona o armazenamento de CO₂ no mar?

Novas tecnologias exploram o potencial dos oceanos para armazenar dióxido de carbono e combater as mudanças climáticas com soluções que vão do subsolo marinho aos bicarbonatos em água do mar.


Cerca de metade do oxigênio que respiramos vem dos oceanos, que também são o principal regulador climático do planeta. Anualmente, eles absorvem 30% das emissões globais de CO₂ e retêm mais de 90% do calor gerado por essas emissões.

CO₂

O papel dos oceanos no combate ao CO₂

Diante desse papel crucial e poucos dias após o encerramento da terceira Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos (UNOC3), ganha destaque uma fronteira tecnológica emergente: o armazenamento de CO₂ no ambiente marinho, seja abaixo do leito marinho ou diretamente na água oceânica.

Screenshot-2025-07-01-183042 Como funciona o armazenamento de CO₂ no mar?
Fonte: ICLEI

Armazenamento geológico: o método “tradicional”

O processo clássico de captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês) envolve três etapas: captura, transporte e armazenamento. Esse método é especialmente útil para indústrias de difícil descarbonização, como siderúrgicas, fábricas químicas e termelétricas.

Uma das opções de armazenamento é o uso de reservatórios geológicos esgotados, como antigos campos de petróleo ou gás. Outra possibilidade é a mineralização em rochas ultramáficas, como basaltos. Nessa reação, o CO₂ se transforma em carbonatos estáveis, capazes de manter o carbono armazenado por milênios.

Incertezas no armazenamento subterrâneo

Apesar da preferência por campos esgotados de petróleo, há incertezas sobre a integridade desses locais. “Não se sabe exatamente quantas perfurações existem, nem as condições das tubulações”, explica Grant Hauber, especialista do Institute for Energy Economics and Financial Analysis (IEEFA). Por isso, muitos projetos estão perfurando poços novos, dedicados exclusivamente à injeção de CO₂.

Exemplos bem-sucedidos são os projetos noruegueses Sleipner (ativo desde 1996) e Snøhvit (desde 2008), que já armazenaram mais de 22 milhões de toneladas de CO₂. Atualmente, cerca de 200 projetos de CCS offshore estão em desenvolvimento globalmente, com investimentos da ordem de centenas de bilhões de dólares.

A mineralização também traz desafios, pois depende da geologia local. Em alguns locais, a reação pode começar em poucos anos; em outros, pode levar séculos. “É uma questão de sorte geológica”, afirma Hauber.

Armazenamento direto em água do mar: nova abordagem

Uma terceira via está surgindo: armazenar CO₂ diretamente na água do mar, transformando-o em bicarbonato de cálcio, uma substância que já existe em abundância nos oceanos (mais de 100.000 bilhões de toneladas).

A start-up italiana Limenet está na vanguarda desse processo. Segundo o CEO Stefano Cappello, a tecnologia não captura CO₂ diretamente, mas o armazena em forma estável nos oceanos, por meio de plantas modulares instaladas na costa, evitando a necessidade de infraestrutura complexa.

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Fonte: Freepik

Limenet e as novas fronteiras da captura marinha

A planta da Limenet inaugurada em setembro de 2024 em Augusta, Sicília, é atualmente a maior do mundo em capacidade de armazenamento marinho de CO₂. Consegue converter 100 kg de CO₂ por hora em bicarbonato de cálcio. O projeto é 100 vezes maior do que a planta piloto de 2023 em La Spezia.

O processo usa resíduos da indústria de cal em vez de rochas novas, permitindo escalabilidade industrial sem necessidade de mineração adicional. A proporção é de aproximadamente 1 metro cúbico de carbonato de cálcio para cada tonelada de CO₂ armazenado.

Outras empresas atuam no mesmo campo, como Equatic (Singapura), Captura (Califórnia), Planetary Technologies (Canadá) e Planeteers (Alemanha), em estágios variados de desenvolvimento.

Estudos ambientais e consumo energético

No Dia Mundial dos Oceanos (8 de junho de 2025), a Limenet apresentou os primeiros resultados de dois estudos científicos sobre os impactos ambientais de sua tecnologia.

O primeiro, em parceria com a Universidade de Milão-Bicocca, observou efeitos positivos nos fitoplânctons e na mitigação da acidificação da água. O segundo, com o CNR-IRBIM de Messina, não detectou efeitos ecotóxicos de curto prazo na água tratada.

Atualmente, o consumo energético é de 2,5 megawatts por tonelada de CO₂ processado, um valor alto, mas esperado nesta fase inicial. A energia é proveniente da rede elétrica com garantia de origem renovável. A empresa também considera energia solar, eólica e, futuramente, pequenos reatores nucleares.

Segundo estudo do Politecnico di Milano, a análise do ciclo de vida aponta uma ineficiência de cerca de 10%, ou seja, a cada 100 kg de CO₂ removidos, são emitidos no máximo 10 kg de gases. O cálculo já inclui a produção e descarte de painéis solares e turbinas eólicas.