COP30: avanço nas metas climáticas marca início da conferência em Belém


O primeiro dia da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) terminou com um sinal de progresso no cenário global de ação climática: 111 países já apresentaram seus relatórios de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), metas nacionais que definem compromissos de redução de emissões e adaptação à crise climática. O anúncio foi feito pela diretora executiva da COP30, Ana Toni, durante coletiva de imprensa realizada na tarde desta segunda-feira (10), em Belém.

Tânia Rêgo/Agência Brasil

O marco representa um avanço expressivo em relação a fevereiro, quando apenas 79 nações haviam protocolado seus planos. Para Toni, o resultado simboliza um fortalecimento do multilateralismo em um contexto global de tensões geopolíticas e desafios econômicos. “Temos 194 países credenciados para Belém e 111 já apresentaram suas metas. Isso mostra que o sistema multilateral ainda é capaz de produzir resultados concretos”, afirmou.

Compromissos em curso e lacunas a preencher

As NDCs são um instrumento central do Acordo de Paris, assinado em 2015, que exige a atualização dos planos nacionais de ação climática a cada cinco anos. Esses documentos reúnem metas de redução de gases de efeito estufa, investimentos em energias renováveis e estratégias de adaptação às mudanças climáticas.

Contudo, embora o número de submissões tenha crescido, especialistas alertam que a ambição das metas ainda está aquém do necessário para limitar o aquecimento global a 1,5°C — objetivo definido no Acordo de Paris. A expectativa é que os novos compromissos apresentados na COP30 possam elevar a ambição coletiva e aproximar o mundo da neutralidade de emissões até 2050.

Segundo a diretora, a adoção formal da agenda de negociações também foi um passo relevante. “Nos últimos quatro anos não conseguimos abrir a agenda no primeiro dia da COP. Isso pode parecer um detalhe, mas é o que permite que todos os temas avancem. Neste momento geopolítico, começar de forma coordenada é uma vitória”, observou Ana Toni.

O documento de trabalho, aprovado pelos representantes dos países, estabelece 145 temas prioritários a serem debatidos até o fim da conferência, marcada para 21 de novembro. Entre eles, destacam-se financiamento climático, mecanismos de compensação de carbono, políticas de adaptação e transferência de tecnologia para nações em desenvolvimento.

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Fonte: COP30 Brasil 2025

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Tecnologia: o elo frágil das negociações

A cooperação tecnológica aparece como um dos tópicos mais sensíveis das negociações. O Acordo de Paris prevê que países desenvolvidos compartilhem conhecimento, infraestrutura e recursos técnicos com os mais vulneráveis — condição essencial para que todos possam cumprir suas NDCs.

“Esse é um dos temas mais desafiadores. Precisamos garantir transferência de capacidades e tecnologias para que países em desenvolvimento possam acelerar seus planos de mitigação e adaptação”, afirmou Toni.

O impasse sobre o tema vem desde a SB60 – Conferência sobre Mudança Climática de Bonn, realizada em junho na Alemanha. O encontro, preparatório para a COP30, deixou em aberto a definição de mecanismos de financiamento e cooperação técnica entre nações. Enquanto países africanos e latino-americanos pedem acesso facilitado a tecnologias limpas, nações industrializadas insistem em proteger direitos de propriedade intelectual e patentes corporativas.

Multilateralismo em reconstrução

O contexto em Belém reflete um esforço para reconstruir a confiança no multilateralismo climático, abalada por crises energéticas, guerras e retrocessos ambientais nos últimos anos. Desde a pandemia, várias COPs anteriores — incluindo as de Glasgow, Sharm el-Sheikh e Dubai — enfrentaram dificuldades em adotar agendas consensuais logo no início.

A abertura ordenada em Belém é, portanto, vista como um indicativo de retomada da governança global. “Conseguir que todos os países concordem com a agenda desde o primeiro dia é sinal de diálogo e cooperação. Isso cria um ambiente mais produtivo para decisões concretas”, avaliou uma fonte da Secretaria-Geral da ONU.

A COP30, sediada no Parque da Cidade de Belém, reúne delegações de 194 países, além de cientistas, ativistas e representantes da sociedade civil. O evento deve discutir também a Agenda de Ação Climática 2035, que inclui temas como florestas, oceanos, energia limpa e segurança alimentar.

Com o aumento no número de NDCs apresentadas e a retomada das negociações multilaterais, Belém se consolida como palco simbólico de uma transição — não apenas energética, mas também política, em direção a um consenso global pela sobrevivência climática.