COP30 inicia negociações com acordo sobre Agenda de Ações e desafios pela frente


A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) começou em Belém com um sinal de unidade: a aprovação da Agenda de Ações, documento que reúne 111 itens prioritários que deverão guiar as negociações até o dia 21. O acordo, alcançado na véspera após intensas tratativas entre as delegações, foi descrito pelo presidente da conferência, embaixador André Corrêa do Lago, como “um passo essencial para que o mundo veja resultados concretos e coordenados”.

Bruno Peres/Agência Brasil

A conferência, organizada sob a liderança da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), marca o início de uma nova fase do processo climático global. Após anos de debates sobre metas e compromissos, Belém pretende consolidar o ciclo da implementação — quando acordos deixam o papel e passam a influenciar a vida das pessoas.

Negociações até a última hora

Na noite anterior à abertura, os negociadores estenderam as discussões até quase meia-noite. O impasse girava em torno de oito novos temas propostos para inclusão na agenda: financiamento de países desenvolvidos para países em desenvolvimento; comércio internacional; revisão das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs); avaliação dos Relatórios Bienais de Transparência (BRTs); condições especiais para a transição climática em países africanos; saúde e clima; mudanças climáticas em áreas de montanha; e a implementação do Balanço Global (Global Stocktake – GST) nas florestas.

Segundo Túlio Andrade, diretor de estratégia e alinhamento da COP30, o item sobre florestas foi retirado voluntariamente, evitando atrasos no início das negociações. Já o tema “saúde e clima” foi incorporado ao eixo de adaptação, refletindo a crescente atenção às conexões entre meio ambiente e saúde pública. Outros pontos, como as condições específicas para países africanos e as mudanças nas áreas de montanha, serão analisados diretamente pela presidência da conferência.

“Essas consultas serão conduzidas pela presidência a partir de hoje, e a expectativa é que tenhamos uma definição até quarta-feira”, explicou Andrade, destacando o esforço de conciliação entre diferentes blocos de países.

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Foto: Sergio Moraes/COP30

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Acordo e cooperação internacional

Durante coletiva à imprensa, o embaixador André Corrêa do Lago celebrou o acordo alcançado. “As delegações mostraram maturidade política e espírito de cooperação. Esse consenso permitirá que avancemos rapidamente para os debates de fundo e, mais importante, que possamos comunicar ao mundo o valor concreto dessas ações”, afirmou.

O secretário-executivo da UNFCCC, Simon Stiell, reforçou o simbolismo do início das negociações em Belém, destacando que “cada item da Agenda de Ações representa uma oportunidade de aproximar compromissos globais da realidade das comunidades”.

A CEO da COP30, Ana Toni, enfatizou que a conferência não é apenas um evento diplomático, mas um processo de transformação. “Belém é mais do que o cenário da COP. É um lembrete de que as decisões tomadas aqui impactarão vidas e territórios. O Brasil quis mostrar que a Amazônia não é apenas um tema, é o centro da solução climática”, afirmou.

Um roteiro em blocos temáticos

Com a agenda aprovada, as sessões da COP30 foram divididas em blocos temáticos que refletem a abrangência da crise climática. Os primeiros dias, 10 e 11 de novembro, estão dedicados a adaptação, cidades, infraestrutura, água, resíduos, governos locais, bioeconomia, economia circular e inovação tecnológica — áreas que tratam da construção de resiliência em diferentes escalas.

Nos dias 12 e 13, os debates se voltam para saúde, emprego, educação, cultura, justiça climática, direitos humanos e integridade da informação, culminando com o Balanço Ético Global, que busca integrar equidade e responsabilidade moral à governança climática.

A partir de 14 de novembro, o foco será a transformação dos sistemas de energia, indústria, transporte, comércio e finanças, além da regulação dos mercados de carbono e das emissões de gases não-CO₂.

Entre 17 e 18, as discussões se voltam para a gestão ambiental e comunitária, com ênfase em florestas, oceanos e biodiversidade, valorizando povos indígenas, comunidades tradicionais e empreendedores locais. Por fim, nos dias 19 e 20, a pauta abrange alimentação, agricultura, pesca, equidade de gênero, afrodescendência e turismo sustentável, consolidando o caráter inclusivo da conferência.

Um processo em movimento

O desafio agora será transformar a extensa lista de 111 itens em resultados tangíveis. Com apenas duas semanas de trabalho, as delegações terão de equilibrar ambição e realismo político. Para Corrêa do Lago, o momento exige “clareza de propósito e disposição para ouvir”.

A COP30 inicia, portanto, com o difícil equilíbrio entre urgência e cooperação. Belém se torna, mais uma vez, o ponto onde o mundo busca alinhar discursos e práticas — um encontro entre a floresta e a diplomacia, entre o ideal e a execução.