COP30 coloca Brasil no centro da corrida por investimentos verdes


Em um mês, Belém (PA) se tornará palco da COP30, a conferência da ONU sobre clima, evento que promete movimentar negócios globais e atrair investimentos estratégicos para o Brasil. Energia renovável, bioeconomia amazônica, agronegócio de baixo carbono e finanças sustentáveis despontam como setores-chave para ampliar a competitividade nacional diante de novas regras ambientais e exigências de mercado.

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O evento ocorre em meio a um cenário desafiador: segundo o Relatório Luz 2024, apenas 7% dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) no Brasil apresentaram avanço satisfatório, enquanto 34,5% tiveram progresso considerado insuficiente. A COP30 surge, portanto, como oportunidade de o país demonstrar evolução concreta e consolidar-se como destino prioritário de investimentos verdes.

No comércio exterior, a agenda ESG não é mais opcional. A União Europeia implementará em 2026 o Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM), exigindo que importadores adquiram certificados para compensar emissões incorporadas em produtos como aço, cimento, alumínio e fertilizantes. A Diretiva de Due Diligence em Sustentabilidade Corporativa (CS3D) obrigará o monitoramento completo da cadeia produtiva, abrangendo impactos ambientais e direitos humanos. No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) exigirá relatórios alinhados aos padrões internacionais IFRS S1 e S2, ampliando transparência em sustentabilidade.

Para Alexandre Pimenta, CEO da Asia Shipping, ESG deixou de ser diferencial para se tornar critério de acesso a mercados: “Adaptar-se às novas exigências significa não apenas manter exportações, mas conquistar vantagens regulatórias e financeiras globais.” Ele ressalta que a logística desempenha papel central, garantindo rastreabilidade e eficiência em toda a cadeia de suprimentos.

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Vista aérea dos painéis solares no Parque da Cidade, em Belém (PA), espaço de mais de 500 mil m² que sediará a COP30 em novembro. — Foto: Anderson Coelho/AFP

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Especialistas destacam os setores com maior potencial de atração de capital. Para Larissa Barreto, sócia da Sail Capital, energia renovável e bioeconomia estão no topo: “Expansão de solar e eólica, avanço do hidrogênio verde e biocombustíveis avançados devem gerar fluxos de capital, criando modelos como energia sob demanda e gestão inteligente de redes.”

No agronegócio, práticas regenerativas, bioinsumos e rastreabilidade tornam-se exigências globais. Fintechs do agro, plataformas de comercialização sustentável e negócios de carbono ganham espaço. Kátia Maia, consultora do Banco Mundial Brasil, acrescenta que corredores logísticos verdes em Pecém e Suape podem reduzir impactos ambientais, enquanto a bioeconomia amazônica cresce com cosméticos, fármacos e alimentos a partir de ingredientes naturais. Setores como saneamento, economia circular, reciclagem e biogás também ganham relevância.

Adriana Melo, CFO da SAS Brasil, reforça que o Brasil possui ativos estratégicos além do agro: “Agro regenerativo, bioeconomia amazônica, transição energética e tecnologia limpa permitem que exportemos inteligência climática, e não apenas commodities.”

Transformar compromissos ambientais em vantagem competitiva é um diferencial tangível. Barreto observa: “Eficiência energética, gestão hídrica e economia circular reduzem custos e podem gerar novas receitas. Empresas que comprovam impacto positivo atraem fundos globais e crédito barato.” Maia completa: “Cadeias globais exigem metas e relatórios internacionais; antecipar-se a isso amplia competitividade.” Melo conclui que sair do discurso e executar ações de descarbonização é essencial para cortar custos e conquistar consumidores conscientes.

O Brasil já conta com instrumentos financeiros para apoiar a transição sustentável, entre eles: Fundo Clima do BNDES, Plano Safra de Baixo Carbono (ABC+), RenovaBio e créditos CBIOs, Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), CPRs Verdes, debêntures de infraestrutura incentivadas e green bonds. Segundo Maia, a COP30 será uma corrida global por dinheiro verde, envolvendo fundos climáticos, bancos multilaterais, investidores de impacto e fundos soberanos.

A conferência de Belém promete ir além da diplomacia, posicionando o Brasil como potência climática e econômica, conectando biodiversidade, energia limpa e instrumentos financeiros a um novo ciclo de crescimento sustentável. Como resume Melo: “O futuro verde só fará sentido se unir competitividade e inclusão. Sustentabilidade não é utopia, é pragmatismo econômico.”