Na véspera da COP30, que será sediada em Belém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou em Kuala Lumpur, durante a 47ª Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), a importância de uma aproximação estratégica entre o Brasil e o Sudeste Asiático. O discurso marcou um movimento diplomático que vai além da economia: trata-se de construir um novo multilateralismo climático, capaz de equilibrar a geopolítica global a partir do Sul do planeta.

Para Lula, as nações emergentes precisam abandonar o papel de coadjuvantes e assumir o centro da agenda ambiental e econômica global. A convergência entre os dois blocos — o latino-americano, representado pelo Mercosul, e o asiático, pela ASEAN — não é apenas comercial, mas civilizatória: ambos defendem soberania sobre seus recursos naturais, diversidade cultural e o direito ao desenvolvimento sustentável.
Da geopolítica à transição ecológica
Ao destacar que “os mares que nos cercam não podem se tornar palco de violações do direito internacional”, Lula articulou uma mensagem que ecoa diretamente nos debates da COP30: a necessidade de proteger os bens comuns globais — florestas, oceanos, biodiversidade — contra dinâmicas extrativistas que perpetuam desigualdades históricas.
A visita oficial à Malásia, a primeira de um chefe de Estado brasileiro em trinta anos, consolidou a reaproximação entre os dois lados do planeta. Foram assinados sete acordos de cooperação, abrangendo tecnologia, inovação, agricultura e semicondutores, além da abertura de novos mercados para produtos brasileiros. A agenda, porém, vai muito além do comércio: ela coloca o clima e a transição energética no centro da diplomacia brasileira.
A partir de 2024, o Brasil passou a liderar, junto ao grupo BRICS, uma plataforma para o financiamento climático e o tratamento multilateral da inteligência artificial, associando desenvolvimento tecnológico à sustentabilidade ambiental. Na visão do presidente, o BRICS deve funcionar como “veículo de uma governança global mais representativa”, não como bloco de confronto, mas como espaço de construção.

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O caminho até Belém
Ao citar Belém como sede da próxima conferência climática, Lula reforçou o simbolismo de uma COP realizada no coração da Amazônia, com o Brasil reposicionado como articulador entre blocos do Sul global. “A COP30 será a COP da verdade”, disse, indicando que o país buscará uma abordagem realista — menos pautada por promessas e mais por compromissos tangíveis de descarbonização e preservação.
Nesse contexto, o governo prepara o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), mecanismo inovador que pretende recompensar financeiramente os países que preservam suas florestas, entre eles as nações da Bacia de Bornéu-Mekong, da Bacia do Congo e da Amazônia. Diferente de fundos de doação, o TFFF será baseado em investimentos com retorno climático e social, aproximando a lógica financeira da regeneração ambiental.
Essa iniciativa dialoga com o Plano de Ação 2024–2028, firmado entre o Brasil e os países do Leste Asiático, e que prevê cooperação em bioeconomia, segurança alimentar e transição energética justa. A proposta reflete a ambição de reposicionar o Brasil como ator-chave na geopolítica do clima — um país capaz de negociar simultaneamente com o Norte e o Sul, com credenciais ambientais e diplomáticas sólidas.
Entre soberania e solidariedade climática
A fala de Lula na ASEAN trouxe um argumento que resume o espírito da política externa brasileira em 2025: soberania e solidariedade não são conceitos opostos, mas complementares. Defender os recursos nacionais é também proteger a humanidade diante da crise climática.
A diplomacia do clima que culminará em Belém aposta na cooperação horizontal, na integração de cadeias produtivas complementares e na valorização da biodiversidade tropical como ativo econômico e ético. Essa visão, de certa forma, antecipa o que o Brasil pretende apresentar na COP30: que a transição climática precisa ser global, mas também justa, e que o planeta só avançará se cada região tiver o direito de definir seus próprios caminhos para a sustentabilidade.






































