Dez anos após Paris, COP30 expõe urgência por ação e não apenas promessas


Dez anos depois de conduzir o Acordo de Paris, o diplomata francês Laurent Fabius voltou a ser protagonista no debate climático, agora em Belém, durante a COP30. Ao revisitar a trajetória iniciada em 2015, Fabius — que presidiu a COP21 — destacou que o planeta avançou, mas ainda não o suficiente para evitar o pior. Seu recado aos líderes reunidos na Amazônia é direto: o tempo das promessas acabou; o que se espera agora é implementação, inclusão e inovação.

Bruno Peres/Agência Brasil

O Acordo de Paris foi um marco histórico. Pela primeira vez, 195 países se comprometeram com metas nacionais para conter o aquecimento global e reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Naquele momento, os modelos científicos projetavam um aumento médio de 4°C até o final do século — um cenário de colapso climático. Uma década depois, as políticas adotadas conseguiram reduzir a projeção para algo entre 2,5°C e 2,8°C, o que, segundo Fabius, já representa milhões de vidas salvas. Ainda assim, o diplomata reforça que essa nova margem continua perigosa, com potencial para intensificar secas, enchentes, incêndios e migrações em massa.

“Devemos acreditar na ciência quando ela afirma que é necessário implementar o que já foi decidido”, alertou. Para ele, o desafio agora é menos diplomático e mais operacional: transformar compromissos em ações tangíveis, especialmente no campo do financiamento climático e da transição energética. “Sabemos o que precisa ser feito. O problema é fazer”, resumiu.

O desafio dos “três Is”: implementação, inclusão e inovação

Na visão de Fabius, o avanço real das próximas conferências depende de três eixos que ele chama de “os três Is”: implementação, inclusão e inovação. O primeiro refere-se à urgência de colocar em prática o que foi pactuado — uma cobrança direta aos países desenvolvidos, que ainda falham em cumprir as promessas de destinar US$ 100 bilhões anuais ao financiamento climático dos países mais vulneráveis. O segundo, à inclusão dos países de baixa emissão e das comunidades afetadas que, embora menos responsáveis pela crise, são as mais atingidas por seus efeitos. E o terceiro, à inovação, indispensável para viabilizar tecnologias de energia limpa e adaptação urbana.

A COP30, ao ser sediada na Amazônia brasileira, ganha uma dimensão simbólica e política poderosa. A floresta, essencial para o equilíbrio climático global, é também um retrato das contradições entre o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental. Fabius ressaltou que a realização da conferência em Belém reforça a necessidade de escutar os territórios e seus povos. “É aqui que se sente primeiro o impacto da crise climática e onde a resposta deve começar”, afirmou.

Logo_COP30_ONU_SEM_LEGENDA-400x218 Dez anos após Paris, COP30 expõe urgência por ação e não apenas promessas

VEJA TAMBÉM: COP30: financiamento climático e transição energética a dez anos do Acordo de Paris

Multilateralismo em tempos de fragmentação

O ex-ministro francês reconheceu, no entanto, que o multilateralismo — a cooperação entre nações em torno de objetivos comuns — enfrenta uma fase de fragilidade. “Sabemos que há obstáculos com alguns atores que não aceitam o multilateralismo, não apenas os Estados Unidos”, disse. Apesar disso, ele acredita que a COP30 pode se tornar um ponto de virada se conseguir articular atores subnacionais, como governos estaduais e municipais, e o setor privado. “O importante é agir. A Califórnia, por exemplo, estará presente em Belém, e isso mostra que a transição é possível mesmo quando os governos centrais hesitam”, completou.

De fato, a expectativa em torno da COP30 é que ela seja menos uma vitrine de novas promessas e mais um laboratório de implementação. A ênfase desloca-se das metas para os mecanismos: como financiar, como adaptar, como monitorar. Nesse contexto, a liderança de Fabius — hoje à frente do grupo de ex-presidentes de COPs — resgata o papel da diplomacia climática como ponte entre ciência e política.

O papel do Brasil e o futuro da cooperação climática

O Brasil, anfitrião da conferência, aparece no centro desse debate. Ao mesmo tempo em que tenta mostrar resultados na redução do desmatamento, o país enfrenta o desafio de conciliar a proteção ambiental com o desenvolvimento econômico e a inclusão social. A presença de Fabius em Belém foi lida como um gesto de confiança no protagonismo brasileiro. “Se o Acordo de Paris representou um pacto global, a COP30 pode ser o ponto em que esse pacto começa a sair do papel”, disse um assessor do governo francês.

Dez anos depois do acordo que redefiniu a governança climática mundial, o balanço de Laurent Fabius é claro: houve progresso, mas ele ainda é insuficiente. O diplomata francês sintetiza o dilema com uma frase que ecoa entre os corredores da conferência: “Cada grau importa — e cada decisão, també