Lula abre a COP30 em Belém e defende “mutirão global” contra a crise climática


A voz da Amazônia ecoou no coração da COP30 nesta quinta-feira (6), quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu oficialmente a Cúpula de Líderes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Belém. Em um discurso simbólico e incisivo, Lula convocou os países a enfrentarem a emergência climática com coragem, justiça e cooperação, defendendo que o planeta precisa de um “mutirão” global para conter o aquecimento da Terra.

Presidente Lula - Agência Brasil

Diante de chefes de Estado, delegações internacionais e lideranças indígenas e comunitárias da Amazônia, o presidente celebrou o retorno da convenção climática ao país que sediou, há mais de 30 anos, a Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro. “Os olhos do mundo se voltam para Belém com imensa expectativa. Pela primeira vez, uma COP acontece no coração da Amazônia”, afirmou.

Lula destacou que o simbolismo da floresta como maior patrimônio natural da humanidade deve se converter em ação concreta, com políticas que unam preservação e prosperidade. “Os povos amazônicos vivem diariamente o falso dilema entre desenvolvimento e conservação. Eles têm o direito a uma vida digna e o dever, que já cumprem, de proteger o planeta”, disse.

A “COP da Verdade”

Para o presidente, a COP30 marca um ponto de inflexão no debate climático. Ele classificou o encontro como a “COP da verdade”, na qual os líderes precisam encarar os alertas da ciência e adotar compromissos reais para manter viva a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C.

“O ano de 2024 foi o primeiro em que a temperatura média da Terra ultrapassou esse limite. Sabemos que os efeitos vão persistir por décadas, mas não podemos abandonar o objetivo do Acordo de Paris”, afirmou Lula, citando dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que projetam um aumento de até 2,5°C até o fim do século caso nada mude.

O presidente alertou que, mantido o atual ritmo de emissões, o mundo pode enfrentar perdas humanas e econômicas severas, conforme o Mapa do Caminho Baku-Belém, documento que orienta os trabalhos desta edição da conferência. “Mais de 250 mil pessoas poderão morrer por ano, e o PIB global pode encolher até 30%. É hora de decidir se teremos coragem e determinação para transformar essa realidade”, enfatizou.

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Fonte: COP30 Brasil 2025

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Justiça climática e desigualdades

Lula relacionou a crise ambiental às desigualdades históricas entre países e dentro das próprias sociedades. “A mudança do clima é resultado das mesmas dinâmicas que fraturaram o mundo entre ricos e pobres. Será impossível contê-la sem enfrentar essas desigualdades”, disse.

Ele defendeu que justiça climática deve andar de mãos dadas com o combate à fome, à pobreza e ao racismo, além da promoção da igualdade de gênero. Para Lula, a transição ecológica não é apenas tecnológica ou energética, mas também social e moral. “A sustentabilidade, para os povos indígenas e comunidades tradicionais, sempre significou viver em harmonia com a Terra. Precisamos aprender com eles”, ressaltou.

O espírito do mutirão

Inspirado na cultura popular brasileira, Lula propôs que o espírito da COP30 seja o de um “mutirão planetário” – um esforço coletivo em torno de um propósito comum. Segundo ele, o combate à mudança climática deve envolver governos, empresas e cidadãos, e não pode ficar restrito aos “salões diplomáticos”.

“As pessoas podem não entender o que são toneladas métricas de carbono, mas sentem a poluição. Podem não saber o que é financiamento climático, mas sabem que nada se faz sem recursos. A mudança climática precisa ser parte das decisões de cada governo e de cada pessoa”, afirmou.

Superar descompassos e olhar para o futuro

Lula também destacou dois descompassos que ameaçam a ação global: a distância entre a diplomacia e o mundo real, e o conflito entre a urgência climática e as disputas geopolíticas. Ele criticou a influência de forças extremistas e a priorização de guerras e rivalidades estratégicas em detrimento do clima.

“O poder de expandir horizontes está em nossas mãos”, disse, citando o povo Yanomami, que acredita caber aos humanos “sustentar o céu para que ele não caia sobre a Terra”. “Temos que empurrar o céu para cima e abraçar um novo modelo de desenvolvimento, mais justo e de baixo carbono.”

Encerrando seu discurso, Lula celebrou o fato de a COP30 ser realizada na Amazônia, agradeceu aos trabalhadores que construíram a infraestrutura do evento e reafirmou que o Brasil quer mostrar ao mundo que desenvolvimento e floresta em pé podem coexistir. “A Amazônia é como a Bíblia: todos sabem que existe, mas cada um a interpreta de um jeito. Queremos que o mundo venha aqui ver, sentir e entender o que ela realmente é.”