Brasil exibe força climática para liderar COP30 com credenciais únicas


A dois meses da COP30, o Brasil reforça sua posição no debate climático mundial. Mauricio Carvalho Lyrio, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e chefe da delegação negociadora do país, afirma que o Brasil conta com credenciais singulares para liderar tanto as atividades diplomáticas quanto práticas voltadas ao clima. Segundo ele, essas credenciais vão além dos discursos: estão embasadas em políticas públicas e em características físicas e históricas do país.

Divulgação - EBC

Um dos pilares desta credibilidade, destaca Lyrio, é a matriz energética renovável que o Brasil construiu antes mesmo da urgência climática se tornar parte central das negociações internacionais. Mais de 90% da eletricidade brasileira provêm de fontes limpas , especialmente hidrelétricas, biomassa e o etanol.  O uso massivo do etanol, a cultura da cana-de-açúcar e a existência de veículos flex, capazes de rodar com diferentes combustíveis renováveis, são mencionados como diferenciais que não se repetem em muitos países.

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Foto: Rafa Neddermeyer / BRICS Brasil

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Outra vantagem estratégica do Brasil é seu patrimônio ambiental: mais da metade do território nacional ainda está coberto por florestas nativas. A Floresta Amazônica, claro, é emblemática, mas Lyrio ressalta que outras florestas também compõem esse mosaico ecológico que torna o país um ator fundamental nos debates sobre biodiversidade, serviços ecossistêmicos e mitigação de carbono por meio da proteção florestal.

Além das condições naturais e da matriz energética, o embaixador aponta para os desafios ainda existentes: finanças climáticas, implementação de políticas já acordadas, permanentemente traduzir compromissos internacionais em ações concretas. Nesse sentido, o Brasil propôs iniciativas internacionais, como o lançamento, durante a COP30, do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), destinado a remunerar países que consigam manter intactas suas florestas. Ele sublinha que esse tipo de instrumento financeiro já foi objeto de articulação no G20 e no BRICS, blocos nos quais o país tem buscado inserir explicitamente a agenda climática entre seus compromissos.

Mauricio Lyrio também enfatiza que, mais importante do que promessas bem formuladas, é a implementação. Para ele, a COP30 deve marcar o momento em que decisões antigas, de acordos internacionais como o Acordo de Paris, avancem de fato para políticas públicas com resultados visíveis. Ele avisa: reuniões com declarações bonitas não bastam. É preciso que haja mudanças de hábitos, coerência entre os governos e continuidade nos compromissos. O combate às mudanças climáticas, argumenta, deve se incorporar ao cotidiano das pessoas e das instituições, e não se limitar a conferências.

A entrevista revela também como o Brasil pretende usar seu protagonismo como anfitrião da COP30 para consolidar seu papel diplomático, pressionar para financiamento climático mais generoso, bem como assegurar que as decisões negociadas (“negociações mandatadas”) obtenham ferramentas de fiscalização, governança e execução. A COP30, portanto, aparece como palco de transição, da palavra para o feito, para que os ambiciosos compromissos climáticos deixem de ser promessas e se tornem realidade prática.